O Rio de Janeiro não continuará lindo se os autores sociais permanecerem inertes e desconectados das urgências da nossa cidade.
Atualmente, ao extrair uma fotografia panorâmica da cidade vemos escândalos de corrupção, desemprego, buracos nas vias públicas, desvalorização de patrimônios, aumento exponencial da população de rua, Evaldo Rosa (homem de bem morto por 80 tiros disparados pelos militares por engano), ciclovia que mais parece feita de papel, pessoas de bem mortas por deslizamentos de terra, desabamento de túneis, inúmeros desabrigados pelas chuvas e lama por todo lado durante as chuvas que atingiram a cidade. Estamos abandonados, fadados ao fracasso, largados à própria sorte!
Os cariocas sofrem com necessidades básicas que estão desatendidas. Não dá para ignorar o fato de que grande parte da população do Rio é composta por pessoas carentes de recursos básicos que não recebem saúde, segurança, educação, assistência social e atenção necessárias dos governantes.
Sem o mínimo para subsistência regrediremos à escala bege – nível mais baixo de evolução, conforme a teoria Dinâmica da Espiral do professor norte-americano PhD Don Beck. Segundo a teoria, o sentimento que mais vigora nesse nível é a impotência, pois ao viver nesse modo sobrevivência somos movidos meramente por instintos primitivos e abandonamos outros estágios de evolução alcançados outrora.
Sair de casa representa medo, muito medo, pois os riscos são incontáveis como: sofrer assalto, ser atingido por balas perdidas, ser afogado pela chuva e não voltar para nossa casa.
Não basta voltar nossa atenção apenas para a segurança, atrelada à violência, mas também temos que pensar nos riscos trazidos pelas chuvas ou pela maré, no sentido mais amplo da palavra. Enfrentamos insegurança por todo lado.
O alerta aqui é que vivendo nesse modo sobrevivência nossas reações serão pautadas pela escassez, e o resultado é mais violência e mais desgraças, formando um avassalador efeito cascata que deixará cicatrizes profundas em nossa história, sobretudo quando o assunto que merece maior destaque é resgatar a nossa reputação e dignidade.
Precisamos parar de enxugar gelo. O risco do efeito maquiagem traz tragédias em escalas muito superiores, além de gerar ainda mais descrédito em nossa cidade, manchando nossa reputação, que levará mais tempo e demandará engajamento social e político para o resgate da confiança.
Por sinal, falta de confiança compreende fator crítico para realização de investimentos no Rio. Sem credibilidade, não avançaremos em matéria de desenvolvimento. Quem investirá em território não confiável?
Ainda, vale lembrar que ex-governadores do estado estão presos, assim como ex-presidentes da ALERJ, deputados e vereadores. Além disso, assistimos à abertura de um processo de impeachment, que pode trazer ainda mais incerteza e instabilidade para a cidade.
Tudo isso, trazido à baila é o resultado de décadas de corrupção varridos para debaixo do tapete. A saber, pratica-se corrupção o tempo inteiro, seja no jeitinho (corrupção silenciosa) ou na corrupção ruidosa, aquela decorrente de desvios de verbas públicas. Seja qual for, precisamos eliminar esse mal pela raiz.
Os cariocas estão emigrando para outros estados e muitos deixaram o país em busca de alguma dignidade. Algumas dessas pessoas vivem em outros países trabalhando em subempregos. Não há nada contra lavar pratos, é digno e honesto. Mas pode ser um sonho, uma ilusão. Será que a grama do vizinho é mais verde?
Poderão um dia regressar? Sair do país no momento que ele mais de precisa de você seria a melhor saída? O foco reside em “precisamos limpar a nossa casa!” (e não abandonar a casa).
Resgatar o lifestyle carioca requer real compromisso com a mudança. Foram anos e anos de corrupção, agora serão necessários alguns anos de um conjunto de esforços contínuos para mudar o cenário atual.
É necessário a utilização de ferramentas eficazes para construir e reconstruir a cidade do Rio de Janeiro, do ponto de vista social, político e econômico. Igualmente importante é mudar a cultura do jeitinho para tudo. A cultura ética funcionará como verdadeiro alicerce para sustentar a transformação que precisamos passar.
Esperança sim, mas sem paixões. Precisamos de uma atuação com base em planejamento e execução a fim de alcançar resultados mais realistas. Isso requer mão na massa!
Outro aspecto relevante é gerenciar os recursos que são escassos, esse é o maior desafio de quem está à frente da prefeitura. O governo do Estado também tem papel relevante nesse processo. A restruturação da cidade dependerá de priorizar os pontos que exigem maior atenção, reunir boas ferramentas de gestão e empregar esforços à luz da boa governança.
Quanto ao envolvimento social, compartilhamos da premissa “a indignação precisa sair da TV, do sofá e das redes sociais” para atingir maiores proporções. Em outras palavras, a sociedade precisa reagir e enfrentar a crise, que precisa ser vista como oportunidade de melhorias.
Precisamos ensinar ética e cidadania nas escolas, pois isso ajudará a estimular o desejo nos jovens de construir o futuro bom, um Rio de Janeiro melhor, mais justo e íntegro.
As empresas têm o papel de assumir compromisso firme com a ética e combate à corrupção. Para tanto, precisam voltar sua atenção para a geração de valor, que é construída por meio de uma cultura interna sólida e fortalecida.
A propósito, o desenvolvimento cultural deve ser estrategicamente orientado para a criação de valor e isso se dá no médio e longo prazo. A geração de valor certamente virá como resultado dos esforços empregados.
Contudo, a mudança também consiste em um somatório de esforços de gestores competentes e dotados de sólidos valores éticos e morais, e que persistem diariamente na construção de um Brasil bom, ético e justo.
Governança é a chave para a retomada do crescimento nos anos vindouros.
Serão necessários muita vontade, seriedade, compromisso e disposição para mudar.
Afinal, somos coautores dessa transformação.
Avante Rio!
* Especialista em Compliance e Governança Corporativa