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Como não usar as redes sociais

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Como se não bastasse ao homem a sua necessidade inquietante de dar pitaco em tudo, é necessário que ele tenha o poder da palavra – ilusoriamente livre e irrestrito – para que garanta a sobrevivência de seu ego sem tamanho.

Basta, neste instante, você acessar sua rede social para observar, sem rolar muito a linha do tempo, uma série de indiretas e opiniões e questionamentos infundados. São comentários jurídicos, políticos, jornalísticos, sociais, gastronômicos e por aí vai. Você, embasbacado, lê tudo se perguntando: “temos tantos especialistas assim?”.

Não chego perto de querer afirmar que as pessoas devem se privar de opinar ou que tal ato deve ser restrito a uma classe específica de indivíduos. Definitivamente, não é disso que estou falando, afinal, sou plenamente favorável à livre expressão.

Refiro-me ao fato de estarmos passando por uma crise aguda de verborragia – leia-se falar muito sem dizer nada. O que não se deve ao fato de os usuários serem ignorantes, iletrados ou qualquer outra coisa, mas simplesmente por não analisarem bem aquilo que escrevem antes de publicar.

O que antes era um bate-papo entre amigos num bar, uma indireta em tom mais alto para o outro ouvir, um texto publicado em jornal ou uma ligação telefônica é, hoje, uma publicação capaz de alcançar centenas de pessoas numa rede social.

Os assuntos vão de questões cotidianas a temas específicos de grande relevância. Suponho que deve ser imensamente trabalhoso para o indivíduo verificar se determinado link é confiável ou minimamente verdadeiro para, então, compartilhar uma notícia. É comum acessar uma rede social e se deparar com notícias de grandes jornais que abalam o dia a dia e, posteriormente, perceber que foram publicadas anos antes, resgatadas por alguém que não teve o cuidado de – tão somente - ler o que está compartilhando.

Pedir para que a pessoa se coloque no lugar de quem lerá determinado comentário deve, então, extravasar todos os limites de intromissão, imagino. Isso me faz perceber que o manuseio de máquinas – computadores, celulares e aparelhos afins – consegue alienar o ser humano a ponto de ele pensar estar lidando com objetos sem qualquer sentimento ou reação diante das palavras.

E, assim, digitamos como se apenas a máquina nos lesse.

Esquecemos que há uma pessoa, um ser vivo, por trás de outra máquina lendo o que publicamos dominados por uma sensação de virtualidade – e de impunidade.

Percebo, por isso, que a integração proporcionada pelo avanço tecnológico revela que somos espiritualmente frágeis, facilmente alienáveis aos meios que deveriam melhorar a praticidade do dia a dia, mas que acabam nos dominando profundamente – repare, bem aqui neste parágrafo, o falso especialista dando seu parecer.

Concluo, então, com o meu pitaco: estão interpretando com muita liberdade a pergunta “No que você está pensando, Fulano?”. Talvez seja melhor pensar mais antes de publicar.

Ronaldo Junior é escritor