Vasconcelo Quadros, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - Há duas semanas, ao deflagrar a chamada Operação Aracne, a Polícia Federal prendeu 42 traficantes e desmantelou uma das maiores quadrilhas que atuam na distribuição de cocaína no eixo Rio-São Paulo. Prisões e apreensões de droga não chegam a ser novidade. O que surpreendeu a polícia, no entanto, foi o poderio econômico e a capacidade de planejamento dos traficantes brasileiros, parte deles integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) a organização que se originou nos presídios paulistas em meados dos anos 90 e que hoje controla as atividades criminais como se estivesse administrando uma empresa.
Os negócios mais rentáveis do PCC envolvem o tráfico de drogas e os grandes assaltos a bancos, como a retirada, sem um tiro, de R$ 164 milhões do cofre-forte do Banco Central de Fotaleza, em 2005 - o maior roubo ocorrido no país. Mas os criminosos fazem também aquilo que a polícia chama de clínica geral e nada escapa ao controle da organização.
Seus integrantes também a chamam de partido, família e, numa versão mais prosaica da atividade empresarial, de firma. Os ladrões que furtam e roubam nos faróis da capital paulista também atuam sob o controle do PCC, trabalham num regime de metas e sempre que retornam para casa prestam contas ao padrinho, como é chamado o integrante da quadrilha que controla a movimentação da bandidagem nas favelas paulistanas e depois informa o comando.
A fiscalização interna é rigorosa e, em casos de desvios, a punição é a execução imediata. É uma demonstração de poder bem conhecida dentro e fora dos presídios por toda a hierarquia da organização e um dos segredos que explica a fidelidade às normas internas. Os fiéis gozam de prestígio.
Todo bandido preso em São Paulo se diz integrante da quadrilha, mas a gente sabe que é para se valorizar diz o delegado Leandro Coimbra, superintendente da Polícia Federal em São Paulo, cidade base da organização.
Em oito anos, o PCC semeou terror, expandiu seus negócios e, desde janeiro deste ano, se transformou no principal fornecedor da cocaína consumida no Rio.
Contato no Rio
A prisão do traficante Emílio Carlos Gongorra Castilho, numa dos esconderijos do PCC no Parque São Rafael, Zona Leste da capital paulista, em julho, resultou na apreensão de parte da contabilidade da quadrilha. Nela havia clara indicação de grandes volumes entregues em favelas de seis bairros do Rio Vigário Geral, Mangueira, Andaraí, Borel, Nova Holanda e Madureira, além de Magé, na Baixada Fluminense.
Eles traficam como se estivessem desenvolvendo uma atividade econômica diz o delegado Rui Fontes, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo, um dos mais experientes policiais no combate ao PCC.
Na periferia de São Paulo, segundo o delegado, os criminosos que estão soltos ajudam os presos do baixo clero através de dinheiro arrecadado nas comunidades.
Eles compram uma casa ou um carro e fazem a rifa, com cotas que valem de R$ 30 a R$ 40 por pessoa conta o delegado.
O comando central da quadrilha, encarcerado ou em liberdade, se sustenta com recursos originários da cocaína e grandes assaltos. Lavam o dinheiro em imóveis, pequenas casas de comércio, transporte coletivo operado clandestinamente por perueiros como são chamados os motoristas de vans e reinvestem parte na compra de armas para a organização.