Luciana Abade, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - A morte de um bebê na semana passada durante uma briga entre dois médicos que disputavam a realização do parto não é a única polêmica que envolve a categoria no Mato Grosso do Sul. A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) acaba de receber uma denúncia do Sindicato dos Médicos daquele estado, que reclama das agressões que os profissionais da rede pública estão sofrendo por parte dos pacientes e seus familiares. Segundo o sindicato, nos dois últimos meses foram registradas quatro agressões físicas, contra dez que ocorreram no ano de 2009. As agressões verbais e ameaças de morte, por sua vez, nem entram mais na estatística.
O sindicato garante que os profissionais começaram a deixar os plantões da noite e da madrugada, mas agora estão optando por abandonar a carreira no estado. Presidente da entidade, a médica Luzia Santana acredita que o deficit de médicos no estado tem causado grandes filas nas unidades de pronto atendimento (UPAs) e gerado revolta nos pacientes que acabam agredindo médicos, enfermeiros e profissionais do atendimento.
As filas nem sempre são o motivo da violência. Clínico geral, R.F, que prefere não se identificar para evitar retaliações, foi agredido por com socos e pontapés por um paciente há duas semanas. A agressão aconteceu durante a madrugada quando o paciente chegou ao hospital ao lado do irmão e da mãe.
Segundo o médico, ele foi chamado à emergência para atender o paciente que foi levado à UPA pela mãe e o irmão. Depois de constatar que o paciente estava consciente e com os sinais vitais bons, R.F pediu que ele fosse levado à enfermaria enquanto os acompanhantes faziam sua ficha. Mas os acompanhantes do paciente se recusaram a fazer a ficha e começaram a agredir as enfermeiros dizendo que os profissionais estavam negando atendimento.
O paciente saiu da cadeira de rodas e me jogou no chão conta R.F. Depois, com a ajuda do irmão, me bateu. Quando gritaram para chamar a polícia, eles saíram correndo com a mãe. Ele não pegou nenhuma fila. Parei de atender um paciente para recebê-lo na emergência e só voltei para o atendimento anterior quando vi que ele estava bem.
Mais agressões
Na UPA de Vila Almeida, um grupo de rapazes tentou quebrar a porta de vidro para agredir um médico. Reclamavam de demora. A assessoria da Secretaria de Saúde de Campo Grande, contudo, afirma ter constatado que o grupo de agressores era formado por presidiários que cumpriam pena em regime semiaberto e só foram ao posto de saúde para conseguir um atestado médico que justificasse a ausência no presídio na hora determinada pelo juiz.
A secretaria confirma a ocorrência das agressões e diz que o secretário de Saúde, Luis Mandetta, procurou a Secretaria de Segurança Pública no dia 4 para pedir a presença constante de policiais nos postos de saúde. A Secretaria de Segurança, no entanto, disse não ter pessoal para este trabalho, mas que faria rondas nos horários de picos de atendimento. O que não vem ocorrendo, segundo o sindicato.