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RS: ciclistas negam versão da defesa: 'ele é um psicopata'

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Alguns dos ciclistas vítimas de um atropelamento na última sexta-feira, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre (RS), foram à Divisão de Crimes de Trânsito, no Palácio da Polícia, para prestar depoimento na tarde desta segunda-feira. Na chegada, eles negaram a versão da defesa do motorista Ricardo Neis, 47 anos, que teria se sentido ameaçado pelos ciclistas após supostos golpes a seu carro. "Ele é um psicopata", disse Marcos Rodrigues, 27 anos, um dos atropelados.

Por volta das 19h de sexta-feira, o movimento Massa Crítica promovia um passeio ciclístico em favor do uso das bicicletas no tráfego urbano. Mais de 100 pessoas participavam da manifestação, que bloqueava a rua José do Patrocínio. Na altura da rua Luiz Afonso, o motorista, em um Golf preto, acelerou e atingiu os ciclistas. A maioria escapou do atropelamento, mas 10 ficaram feridos, sendo oito com lesões, que foram encaminhados ao Hospital de Pronto Socorro.

Por volta das 11h50, Neis se apresentou à polícia para prestar depoimento. Ele entrou pelos fundos da divisão enquanto seu advogado, Luís Fernando Albino, falava com a imprensa. Ele ainda prestava esclarecimentos aos policiais quando o grupo de ciclistas chegou ao local. Sobre a possibilidade de ficar frente a frente com o suspeito, Rodrigues disse: "Não tenho nada para falar com ele. Quero que ele vá para a cadeia. A gente não fala a mesma língua".

Rodrigues, que é ciclista mensageiro, disse que, no momento do atropelamento, ouviu o barulho das colisões e achou que era um pequeno acidente de trânsito. Quando olhou para trás, porém, viu o carro se aproximar em alta velocidade. Atingido, ele sofreu ferimentos na cabeça na queda e ficou inconsciente. O ciclista foi atendido no HPS e liberado por volta de 0h.

Bastante emocionado, o ciclista chorou ao cogitar um passeio com mais pessoas, como ocorre normalmente. "Graças a Deus a manifestação da última sexta foi menor que nos outros meses, que não tinha tanta criança, porque, se houvesse crianças, elas não seriam levantadas pelo carro, e sim ficariam embaixo do carro", afirmou. "Não tem explicação. O que ele fez foi um ato hediondo", disse, se referindo ao motorista como um "monstro".

Aviso às autoridades sobre manifestação
Os ciclistas rebateram os argumentos da defesa de que a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) nem a Polícia Militar foram avisadas do evento. "Isso é uma piada, porque a gente faz essa manifestação todo mês e eles sabem disso. Isso é uma vergonha", afirmou Rodrigues. Para ele, mesmo que o ato estivesse irregular, não serve como justificativa para a atitude do motorista.

"A gente fecha a via por questão de segurança. A gente não libera o trânsito em uma pista porque conhece os motoristas da nossa cidade", afirmou, acrescentando que a chance de acontecer um acidente seria muito grande caso os ciclistas e os carros ficassem juntos. "A gente não pode pedir escolta para a EPTC toda vez que for de bicicleta ao trabalho", disse. O ciclista afirmou que pretende processar o motorista, mas não sabe se o grupo entrará com uma ação coletiva.

Segundo integrantes do movimento, a Massa Crítica não pede escolta durante suas manifestações em outros lugares do mundo justamente para pregar o respeito aos ciclistas e o uso cotidiano das bicicletas.

Tapa no carro é para alertar, diz ciclista

 Outra vítima que foi prestar depoimento foi a professora Aline de Morais Rodrigues, 41 anos. Ela confirmou que um jovem estava acompanhando o condutor. "Eu fui uma das pessoas que foram até o lado do carona para dizer 'espera aí' para o motorista", afirmou. Ela, no entanto, negou que os ciclistas tenham batido no veículo. "Tapa no carro, se houve, é mais para alertar. É uma reação a uma agressão sofrida", disse.

De acordo com o movimento, o condutor bateu em duas bicicletas na altura do Largo Zumbi dos Palmares, de onde os ciclistas saíram pela rua José do Patrocínio. Segundo testemunhas, o motorista parou o carro, esperou que o grupo se afastasse e "pegou distância" antes de acelerar e atingir os ciclistas.

"Me joguei no chão para o lado direito e só deu tempo de ver o carro passar a cerca de 1 m, 1,5 m de mim", disse a professora, que participava do passeio com o filho de 22 anos. "Eu não sabia onde estava meu filho. Quando aconteceu (o atropelamento) eu entrei em choque. Eu fiquei desesperada porque não via meu filho", disse.

O DJ Sérgio Costa, 34 anos, integra a Massa Crítica, mas não estava presente na manifestação da semana passada. Ele, porém, foi até o Palácio da Polícia nesta segunda para prestar solidariedade aos amigos que foram vítimas. Costa afirmou que o movimento tem a característica de ser pacífico e que espera que o condutor responda criminalmente pelo atropelamento.

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