O ex-delegado Estevar de Alcântara Júnior, de Viradouro (SP), a 387 km da capital do Estado, foi condenado a 2 anos, 8 meses e 20 dias de prisão por torturar a adolescente Gizele Fernanda Pelizari em 7 de dezembro de 2007. A jovem trabalhava como babá na casa do acusado, e era suspeita de ter roubado e divulgado fotos íntimas de Alcântara Júnior e da mulher.
Com base nos depoimentos dos envolvidos e de testemunhas, o juiz Hélio Alberto de Oliveira Serra e Navarro afirmou na sentença que "a vítima padeceu de intenso sofrimento físico e moral", e foi "agredida de forma cruel" pelos réus. A mulher, Melissa de Cássia Desan, e a sogra de Alcântara Júnior, Rita de Cássia Perin Desan, também foram condenadas a 2 anos e 4 meses por terem participado das agressões e terem sido coniventes com as práticas de tortura.
De acordo com o processo, Alcântara Júnior e a mulher tinham o hábito de fotografar seus momentos de intimidade sexual e armazenar as imagens em CDs, que ficavam guardados no interior de sua residência. No dia anterior ao crime, algumas imagens circularam por todo o pequeno município de Viradouro, que tem 17,3 mil habitantes, e geraram constrangimento ao então delegado Alcântara Júnior. Os réus suspeitaram que a adolescente Gizele, que trabalhava na época como babá de seus filhos, havia sido a responsável pela divulgação, e começaram a questioná-la.
Primeiro, a jovem de 16 anos foi impedida de sair da residência durante o interrogatório informal. Como Gizele negasse participação no desaparecimento de um dos CDs, Alcântara Júnior e Melissa passaram a agredi-la fisicamente e ameaçaram prendê-la. O processo ainda diz que Alcântara Júnior chegou a colocar sua arma de fogo sobre a mesa, guardando-a em seguida na cintura, para atemorizar ainda mais a vítima. Sua mulher, ao perceber em determinado momento que a vítima recebia uma ligação em seu celular, tomou o aparelho e o arremessou na parede. Logo em seguida, o marido pisoteou o telefone.
A mãe de Melissa, Rita de Cássia, permaneceu no local e dava apoio moral aos demais réus, contribuindo para o sofrimento mental da ofendida. De acordo com o processo, ela também teria impedido que uma testemunha entrasse na casa. Frente a tudo isso, Gizele acabou confessando ter furtado o CD. Alcântara Júnior ainda conduziu a babá em viatura da Polícia Civil até sua casa, e vasculhou o quarto de Gizele para achar o CD. Sem sucesso, foi com ela até a Delegacia de Polícia, onde ela acabou sendo liberada.
Gizele relatou ainda que Alcântara Júnior a segurou enquanto a mulher lhe dava tapas e puxões de cabelo, e que o ex-patrão chegou a pisar em sua barriga quando ela estava caída no chão. Gizele afirmou ainda ter "apagado" e urinado nas calças. A investigação não comprovou a participação da ex-babá nem no roubo do CD, nem na divulgação das imagens.
Alcântara Júnior foi transferido para outra cidade ainda em dezembro de 2007, e exonerado da Polícia Civil em maio do ano passado em processo administrativo.