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Oposição não consegue com o mensalão resultado obtido contra Vargas em 54

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Em 5 de agosto de 1954, o atentado contra o então deputado Carlos Lacerda na rua Toneleros, em Copacabana, no Rio de Janeiro, intensificou a ferrenha campanha que a oposição e os principais jornais do país faziam contra o governo de Getúlio Vargas. Dezenove dias depois, os militares pediram a renúncia do presidente e provocaram o seu suicídio com um tiro no peito em seus aposentos no Palácio do Catete, na madrugada do dia 25 de agosto.

Cinquenta e um anos depois, em 2005, o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) - cujas semelhanças com o projeto e a identificação popular varguista são inegáveis -, viu-se envolvido com escândalo do mensalão. Sete anos depois, também em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu início ao julgamento dos 38 réus. Novamente oposicionistas, com respaldo dos principais jornais, voltaram suas baterias contra o partido no poder. 

A semelhança dos dois momentos históricos leva à reflexão de como o julgamento e a sua exploração pela mídia não conseguiram afetar a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, como aconteceu na década de 50 com Vargas 

Esquerda na liderança

Para o historiador e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Marcus Figueiredo, há semelhanças entre os dois episódios históricos, embora eles guardem também diferenças. Na sua perspectiva, a grande semelhança está na política de esquerda na liderança do projeto para o país. 

“Hoje, olhando um pouco para trás, temos que distinguir que o mensalão não produziu o resultado esperado pela oposição (PSDB e parte do PMDB): a derrubada do projeto petista” disse. "A resposta da população, levando em conta as eleições de 2006, foi simples: o PT cometeu esses erros, e não Lula".   

Segundo ele, o atentado da Toneleros abriu espaço para uma “extraordinária campanha” contra a figura de Vargas, mesmo que nunca tenham sido encontrados vestígios de que a ordem para o assassinato tenha partido dele. Foi a sua imagem, já desgastada entre amplos blocos políticos, que sofreu o grande revés. A imprensa cunhou o termo “mar de lama” para descrever a situação, que também contava com casos de corrupção, no Palácio do Catete em agosto daquele ano.

“Além do atentado havia a questão da corrupção no governo de Vargas. A situação se encaminhou para a renúncia de Getúlio, mas com o suicídio e a carta-testamento, tudo isso foi abortado e a coligação PTB e PSD se manteve no poder por mais dez anos”, analisa. “O suicídio representou um golpe político fatal para a direita, que ficou sem cartucho para manter-se”.

Lula poupado

Na década de 50 a conjuntura política fez com que as denúncias atingissem diretamente o presidente da República, apesar de toda a sua popularidade, mas que já vivia o desgaste dos muitos anos à frente do poder.

No caso do mensalão, quando Lula tinha apenas três anos na presidência e desfrutava de alta aceitação popular, a oposição receou o desgaste com os eleitores e direcionou os ataques ao PT e à sua cúpula, formada por José Dirceu, Delúbio Soares e José Genuíno. "Em parte, a oposição não conseguiu explorar as denúncias de corrupção e culpar Lula por elas. A oposição se interpôs ao partido e não ao presidente". 

O professor também considera que a reeleição de Lula, em 2006, "passou uma borracha" no acontecimento. "O resultado foi que o novo governo Lula não teve mais esses 'traidores e aloprados'. Com a oposição enfraquecida, Lula pôde deslanchar". 

Outra diferença apontada pelo professor está no alcance das duas campanhas oposicionistas. Noa década de 50, em um primeiro momento, o atentado da Toneleros teve repercussão maciça popular. Mas, após a morte de Vargas, a reação foi contra os oposicionistas. Já nos dias atuais, "o processo do mensalão ficou sendo trabalhado na elite política, isto não teve consequências eleitorais, nem na aprovação do governo Lula"  (por parte dos eleitores), explica o professor. 

Figueiredo vê ainda muitas semelhanças entre os dois projetos políticos: "O projeto do PT, hoje sob a liderança da presidente Dilma, está fazendo o que o projeto trabalhista fez nos 50 e 60."