Matéria publicada nesta terça-feira (9) no El País conta que Michel temer, presidente interino do Brasil, nem precisava ter ido para abertura dos jogos Olímpicos do Rio na última sexta-feira (5). Quase não se viu o rosto dele nos telões e quando apareceu para falar poucas palavras desencadeou vaias. Naquela mesma tarde uma revista de grande circulação no Brasil publicou uma confissão judicial de Marcelo Odebrecht, relatando que deu 10 milhões reais para a campanha de 2014 do PMDB, a pedido de Temer, então candidato a vice-presidente de Dilma Rousseff. Dois dias depois, um jornal de São Paulo conseguiu piorar a situação do governo interino, afirmando que José Serra, chanceler de Temer foi acusado de ter recebido 23 milhões de reais, pelo mesmo executivo que se encontra preso, quando concorreu à presidência em 2010.
O Partido dos Trabalhadores poderia celebrar, comenta o jornal El País, se não estivesse passando pelo mesmo pesadelo das delações premiadas que implicam também os petistas. Na mesma sexta-feira (5), os quatro promotores que realizam investigações da Lava Jato sobre o movimento de subornos na Petrobrás, emitiram um documento que incrimina o ex-presidente Lula da Silva, relatando que além de conhecer o submundo da companhia petrolífera, também se aproveitou dele.
Segundo a reportagem do espanhol El País, a mesma onda de declarações para negociar sentenças mais baixas por presos envolvidos no caso da Lava Jato atingiu a presidente afastada Dilma Rousseff. João Santana, o czar de marketing político do PT revelou que a presidente estava ciente do esquema ilícito que desviava dinheiro da Petrobras para financiar campanhas. Além disso, a Petrobras foi administrada por Dilma. Até o momento a presidente que está sofrendo o processo de impeachment não havia sido diretamente acusada. Santana e sua esposa, Monica Moura, pagaram trinta milhões de reais em fiança para cumprir liberdade condicional.
El País fala que enquanto acontecem as Olimpíadas no Brasil, outas disputas estão ocorrendo nos tribunais. "Fora Temer" contra "Fora Dilma". Os slogans não escondem o clima de incertezas e especulação. Existia um bloco de senadores dispostos a votar contra a queda de Dilma Rousseff se ela concordasse em convocar eleições antecipadas? É uma hipótese que prevalece em Brasília, especialmente desde que o Datafolha informou que 62% dos cidadãos preferem votar o mais rápido possível.
O jornal espanhol ressalta que as irregularidades que surgem em torno da Petrobras têm uma dimensão internacional. Santana, guru das campanhas de Lula e Dilma, revelou que quando trabalhava para Hugo Chavez e Nicolas Maduro, que também se beneficiavam de dinheiro sujo da Odebrecht. O escândalo do petróleo cruzou a fronteira. Nestor e Cristina Kirchner e o atual vice Julio De Vido, estão cobrando a autorização pela venda de 50% da subsidiária da Petrobras na Argentina. Os proprietários desta empresa negam a acusação.
El País acrescenta os canais de dinheiro sujo indo para o Chile. Ao ex-deputado do Chile Marco Enríquez Ominami, figura do progressismo de seu país, foi oferecido por um oficial do Brasil da OEA um avião da empresa durante a campanha presidencial de 2013. Enríquez Ominami, que cultiva um antigo relacionamento com o PT, está na corrida para as eleições do próximo ano. Mas esta revelação pode atrapalhar seus planos.
El País comenta que juízes e imprensa seguem a rota destas negociações e seguem confirmando as informações. O colapso do kirchnerismo inundando as crônicas argentinas com detalhes obscuros. Neste meio está incluído o intercâmbio com a Venezuela. Há seis anos foi denunciada a existência de uma embaixada paralela. O negócio primordial era extorquir empresas fornecedoras de alimentos, medicamentos ou maquinaria argentina em troca de fornecimento PDVSA combustível.
Agora, diz El País, este esquema foi confirmado. A justiça Argentina investiga o superfaturamento escandaloso que vem pagando o Ministério do Poder Popular para a Saúde através da PDVSA, para adquirir drogas argentinas. O empresário José Levy, ligado a Jose Maria Olasagasti aparece no centro do escândalo. É secretário particular de De Vido, ex-ministro que acusou a Petrobras.
Ao analisar a situação na região percebe-se que a corrupção se tornou algo mais grave do que uma deformação ética e institucional. Mudou a face da política. E isso está facilitando a instalação de uma nova classe social: as máfias que se conectam a uma rede internacional.
El País analisa que este tipo de crime requer condições especiais para prosperar: circuitos de dinheiro informais; acesso ao mercado de câmbio clandestino; e as instituições que fornecem impunidade. Estabelecida essa atmosfera emergem outros males do narco terrorismo. A opacidade no negócio, então, determina uma forma de alinhamento global.
Estas são as razões pelas quais a transparência hoje são uma boa conquista estratégica. A democracia é uma necessidade após um longo e sangrento ciclo de golpes militares, finaliza El País.