Pela primeira vez em seus 16 anos de história, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) disputará o segundo turno das eleições municipais em São Paulo, após um dia de votação marcado pelo avanço do "centrão".
Candidato à Presidência em 2018, o expoente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos tem, com 99,67% das urnas apuradas, 20,24% dos votos válidos e desafiará o prefeito Bruno Covas (32,85%), do PSDB, na disputa pelo comando da cidade mais populosa do país.
O PSOL já havia chegado ao segundo turno no Rio de Janeiro em 2016, com Marcelo Freixo, mas nunca tinha obtido um resultado tão expressivo em São Paulo. Em 2018, na corrida pelo Planalto, Boulos teve apenas 617 mil votos em todo o Brasil, mas agora já acumula mais de 1 milhão na capital paulista.
O resultado também capitaliza o partido socialista como alternativa na esquerda ao PT, que amarga apenas um sexto lugar com Jilmar Tatto (8,65%) na eleição em São Paulo, atrás de Márcio França (PSB), com 13,65%, do bolsonarista Celso Russomano (Republicanos), com 10,50%, e de Arthur do Val (Patriota), com 9,78%.
Essa é a primeira vez desde 1985 que o PT não fica entre os dois mais votados na disputa paulistana. Além disso, o partido conseguiu chegar ao segundo turno apenas em Recife (PE), onde Marília Arraes (27,95%) enfrentará seu primo João Campos (29,17%), do PSB; e em Vitória (ES), onde João Coser (21,82%) desafiará o delegado Pazolini (30,95%), do Republicanos.
Já o PSOL, além de São Paulo, disputará o segundo turno em Belém (PA), com Edmilson Rodrigues (34,22%). O adversário será o delegado Eguchi (23,06%), do Patriota.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país, a esquerda dividida abriu caminho para o impopular prefeito Marcelo Crivella, apoiado por Bolsonaro, passar do primeiro turno.
O bispo tem 21,90% dos votos, contra 37,01% do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Delegada Marta Rocha (PDT), com 11,30%, e Benedita da Silva (PT), com 11,27%, aparecem na sequência.
Vitórias em primeiro turno
Seis candidatos em capitais com mais de 200 mil eleitores conseguiram mais da metade dos votos válidos e asseguraram a vitória já no primeiro turno, sendo três deles do DEM: os prefeitos de Curitiba (PR), Rafael Greca (59,74%), e Florianópolis (SC), Gean Loureiro (53,46%), e o pupilo de ACM Neto em Salvador (BA), Bruno Reis (64,19%).
Os outros são o tucano Álvaro Dias (56,58%), em Natal (RN); Alexandre Kalil (63,36%), em Belo Horizonte (MG), e Marquinhos Trad (52,58%), em Campo Grande (MS), ambos do PSD. Em Palmas (TO), Cinthia Ribeiro (PSD) também já sai reeleita neste domingo (36,24%), mas a cidade tem menos de 200 mil eleitores e, portanto, não realiza segundo turno.
Centrão
As eleições municipais de 2020 também marcam o avanço do "centrão", grupo de partidos conservadores, mas suficientemente fisiológicos para se aliar à esquerda quando julgam necessário.
O núcleo duro do grupo, formado por PP, Republicanos, Solidariedade e PTB, governa apenas uma capital atualmente, o Rio de Janeiro, mas disputará o segundo turno em sete: Vitória, João Pessoa (PB), São Luís (MA), Rio Branco (AC), Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO), além da capital fluminense.
Estendendo a definição de "centrão" para PSD, MDB, Pros, PSC, Avante e Patriota, são sete capitais governadas pelo grupo atualmente. Nas eleições de 2020, duas já estão garantidas (Belo Horizonte e Campo Grande), número que pode subir para 17 no segundo turno, em 29 de novembro.
O "centrão" hoje é crucial para a sobrevivência do presidente Jair Bolsonaro, que viu seus candidatos declarados serem derrotados, como Russomano em São Paulo, ou chegarem enfraquecidos no segundo turno, como Crivella no Rio.(com agência Ansa)