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Quarta, 7 de maio de 2025

Paquetá tem carta branca para a poesia

Com permissão da Prefeitura, moradores da Ilha do Amor reinstalam placa com poema de Shakespeare

Marcos Tristão / Jornal do Brasil -
Moradores comemoraram liberação para expor as placas feitas por Tânia (de vestido, ao centro)
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“Morrer ignorante sabendo que tinha capacidade de ter sido sábio. Isto sim, é a maior tragédia humana”. A frase do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, estampa a primeira plaquinha recolocada por moradores da Ilha de Paquetá, em uma árvore da Praia da Moreninha, na manhã de ontem. Esta foi uma das 108 placas coloridas, com inscrições poéticas, retiradas pela Comlurb, na semana passada, a mando do atual administrador regional de Paquetá, o militar da reserva Edson Moreira Brígido.

Autorizados pela Prefeitura a recolocar as placas, moradores da Ilha do Amor fluminense não perderam tempo. Na manhã de ontem, repuseram uma delas. Foi um ato simbólico. Com parte destruída, as demais serão repostas após revitalização.

Macaque in the trees
Moradores comemoraram liberação para expor as placas feitas por Tânia (de vestido, ao centro) (Foto: Marcos Tristão / Jornal do Brasil)

Indignados com a atitude do administrador, os paquetaenses fizeram uma manifestação na manhã de ontem, na Estação das Barcas. O protesto reuniu cerca de 300 pessoas, incluindo visitantes que aproveitavam o dia ensolarado para curtir os encantos do lugar.

“Colocamos as plaquinhas com todo cuidado. Meu marido lixou e pintou os pedaços de caixote de madeira e eu confeccionei com trechos de poesias. Nossa iniciativa foi elogiada não só pelos outros moradores da ilha, mas também pelos turistas”, relembra a artesã Tânia Milanes, de 65 anos. “Fomos surpreendidos pela Comlurb que, sob ordens do administrador, retirou todas as plaquinhas. Ficamos indignados”.

Tânia vive em Paquetá desde que se aposentou, há 11 anos, mas já frequenta a ilha há 40. Ela conta nunca ter convivido com uma ordem tão arbitrária.

Sua queixa encontrou eco junto aos outros moradores que participaram da reunião da Associação de Moradores de Paquetá (Morena).

Macaque in the trees
Moradora pendura uma das placas, em ato simbólico (Foto: Marcos Tristão / Jornal do Brasil)

“É preciso que Paquetá tenha um administrador que conheça e frequente a ilha. Para isso, os moradores precisam ser consultados, principalmente porque trata-se de um bairro que tem suas especificidades por se tratar de uma ilha”, diz Fichel Davit, de 84 anos, contrário à imposição do nome do atual administrador pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

Durante a reunião, o grupo expôs fotos de uma série de problemas enfrentados pelos moradores, como diversos pontos com esgoto a céu aberto, como na Praia da Guarda e na Praia Grossa. Também houve pedido de revitalização da orla da praia da Guarda.

“O administrador atual colocou umas faixas de impedimento para as pessoas não passarem pela calçada destruída, mas é preciso revitalizá-las”, apontou Tânia sobre o trecho destruído da orla.

Brígido assumiu a administração regional há menos de um mês. Apesar de recente, sua gestão vem levantando muita polêmica. Foi dele também a ordem para que uma artista plástica não reforme mais os bancos de concreto da Praça do Imbuca. Jhale Jamal recuperava banquinhos de concreto quebrados e os estampava com flores diversas.

Desde que Edson assimiu a administração regional, os moradores organizaram um abaixo-assinado solicitando o retorno do ex-administrador Eduardo Silva ao cargo. O documento já conta com pouco mais de mil assinaturas.

Última chance

O secretário da Casa Civil, Paulo Messina determinou, na última sexta-feira que Edson Brígido recolocasse, até hoje, todas as placas que ele mandou retirar na última semana.

Caso Brígido não cumpra a ordem, será exonerado. O afastamento oficial deverá ser publicado no Diário Oficial Municipal de amanhã.

No Facebook, Brígido escreveu: Danem-se os esquerdistas e a Prefeitura”. Em outro post escreveu: “Me arrependo é de não ter quebrado as placas todas”.

Os moradores não escondem a preocupação sobre o nome do futuro administrador.

Marcos Tristão / Jornal do Brasil - Moradora pendura uma das placas, em ato simbólico