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Segunda, 2 de junho de 2025

Palace II: desfaçatez e implosão de justiça

Vinte anos após tragédia, riqueza meteórica de sobrinho de Sérgio Naya cresce à medida da dor de moradores ainda não indenizados

Arquivo/AE -
Sérgio Naya em 2004, ao sair da cadeia em Benfica, na Zona Norte: cinco anos depois, ele morreu
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Bruno Ambar Naya é muito conhecido em Petrópolis pela ostentação de seus automóveis de luxo e pelo poder que possui com autoridades municipais que fazem parte de seu círculo de amizades. É em sua mansão no bairro de Valparaíso que Bruno os recebe para degustar vinhos das melhores safras da França e Itália.

Bruno trabalhava como um simples funcionário da empresa de Sérgio Naya. Viveu uma temporada em Orlando, no estado americano da Flórida, onde trabalhou para a empresa de construção civil do tio poderoso. Isso, até o desabamento do Palace II, que fez com que Sérgio Naya perdesse o hotel de Orlando para credores cubanos, e o que o obrigou a retornar para o Brasil.

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Bruno Ambar Naya tornou-se inventariante e herdeiro da fortuna do tio Sérgio Naya (Foto: Reprodução)

Bruno tinha uma vida simples em Petrópolis, onde sempre viveu. A “sorte grande” veio com o falecimento do tio, em fevereiro de 2009, em decorrência de um infarto agudo do miocárdio, quando o empresário estava hospedado num hotel em Ilhéus, na Bahia. Como pessoa de confiança de Sérgio Naya, Bruno sabia de todas as movimentações financeiras e patrimoniais do tio e foi escolhido pela família para ser o inventariante do espólio bilionário do parente falecido, cujo processo foi aberto naquele mesmo ano.

Aí a vida de Bruno muda radicalmente. Em menos de dois anos, após se tornar inventariante, Bruno se transforma, também, em um dos maiores empresários da cidade serrana. Os documentos a que a reportagem do JORNAL DO BRASIL teve acesso mostram que Bruno começa a virar um grande investidor logo em seguida ao assumir o controle do espólio do tio Sérgio Naya, cuja fortuna é calculada em mais de R$ 500 milhões. Deste momento em diante, Bruno começa a investir pesadamente em postos de combustíveis.

Bruno dá inicio ao seu “império de combustíveis” em sociedade com o irmão, Marcelo Ambar Naya, e com Joseph Lopes, cuja família era proprietária de uma cadeia de supermercados e distribuição de cervejas da Ambev. Bruno, o irmão e Joseph compraram, construíram e arrendaram, em menos de dez anos, mais de 15 postos de gasolina em Petrópolis, na Baixada Fluminense e na Rodovia Rio São Paulo (veja a continuação da reportagem na página 6), além de uma cimenteira, também em Petrópolis.

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A implosão: em 22 de fevereiro de 1998, parte do prédio desabou, matando oito pessoas (Foto: Arquivo/AE)

Somente em seu empreendimento mais recente, o Eco Posto, na BR-040, que liga o Rio a Belo Horizonte (MG), sempre com apoio da BR Distribuidora, Bruno e Joseph teriam investido R$ 30 milhões na obra de terraplanagem e construção. A obra do megaposto foi interditada pelo Ibama, porque os empreiteiros aterraram a margem de um riacho existente nos fundos do posto. Processado por crime contra o meio ambiente, o posto foi multado e os donos tiveram que assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pelo qual tiveram de refazer a área aterrada e pagar multa.

No total, calcula-se que Bruno tenha investido, com o irmão e com o sócio, cerca de R$ 150 milhões nos 15 postos sob seu controle.

Em Petrópolis, monopolizaram totalmente a distribuição de combustíveis, o que obriga os consumidores da cidade a pagarem o litro de gasolina mais caro do Estado do Rio de Janeiro, só perdendo, em nível nacional, para Rio Branco, no Acre.

Além dos postos de gasolina, Bruno herdou do tio Sérgio Naya, três rádios FM no interior de Minas: uma na cidade de Leopoldina e duas na cidade de Muriaé, ambas na Zona da Mata mineira, além do Grupo MB Administração de Bens —iniciais dos nomes dos irmãos Marcelo e Bruno.

A reportagem do JORNAL DO BRASIL tentou contato com Bruno Naya, mas não obteve retorno.

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Sérgio Naya em 2004, ao sair da cadeia em Benfica, na Zona Norte: cinco anos depois, ele morreu (Foto: Arquivo/AE)

Naya ainda deve R$ 166 milhões em indenizações

Moradores não sabiam de bens acumulados por sobrinho do empresário

Se por um lado os herdeiros de Sérgio Naya estão ricos com a herança do tio, os moradores do Palace II continuam ao deus-dará, sem saber o que fazer, sendo obrigados a viver de favor e passarem dificuldades causadas pela Sersan, construtora de Naya.

Presidente da Associação das Vítimas do Palace II, a juíza de paz Rauliete Barbosa Guedes, de 70 anos, conta que desconhecia as informações de que Bruno Naya se apossou de bens do tio Sérgio Naya antes de o inventário do empresário ser finalizado — o processo está na 12ª Vara de Órfãos e Sucessões do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) e tramita em primeira instância. Conforme o JORNAL DO BRASIL apurou, Bruno tem 14 postos de gasolina em Petrópolis e na Baixada Fluminense, além de três rádios FM em Minas Gerais, entre outro empreendimentos.

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Posto pertencente a Bruno Naya na BR-040: somente em Petrópolis, na Região Serrana, são cinco estabelecimentos (Foto: Arquivo JB)

“Nunca tivemos acesso nem informações sobre esses bens. Em Minas, só soubemos da venda de uma fazenda para pagar dívidas trabalhistas, o que não podia ser feito, mas foi”, contou Rauliete. A ex-moradora do Palace II diz que 130 famílias aguardam o recebimento de cerca de R$ 166 milhões — o equivalente a 75% das indenizações.

O processo de indenização corre desde 1998. Segundo, Eduardo Lutz, advogado do grupo, já foram pagos pouco mais de R$ 54 millhões às vítimas, cerca de 25% do total, por meio da venda de imóveis em leilões, entre os quais, dois hotéis e o apartamento do próprio Naya, em Brasília, e um terreno na Barra da Tijuca.

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Eco Posto, na BR-040, um dos 15 postos de gasolina de Bruno Naya: obra embargada (Foto: Arquivo JB)

“É uma situação muito incerta para as vítimas. Não havia ciência sobre esses bens de posse do sobrinho de Naya. O que sabemos é que Bruno é o inventariante do espólio. Portanto, responsável por administrar os bens. O espólio não acabou, ainda corre um processo em Brasília”, explicou o advogado.

Lutz conta que, no momento, briga por R$ 25 milhões provenientes de um leilão do Shopping Iguatemi, em Brasília, equivalentes à terça parte do empreendimento que caberia a Naya, o que é contestado por um ex-sócio do empresário morto.

“O Paulo Otávio alega que o shoping não pertencia ao Naya, mas, sim, à empresa LPS, mantida em sociedade entre ele, Naya e o também empresário Luiz Estêvão. Teremos o julgamento deste caso até o fim deste ano”, acredita o advogado.

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BRUNO NAYA TEM 22 EMPRESAS EM SEU NOME

Posto União de Corrêas Ltda.

Estrada União e Indústria, 4500, Corrêas, Petrópolis (RJ)

Capital social: R$ 600.000,00.

Data de abertura: 13/7/1966

Posto São Cristóvão Ltda.

Rodovia Washington Luiz, 14450, Jardim Primavera, Duque de Caxias (RJ)

Capital social: R$ 300.000,00.

Data de abertura: 27/7/1966

Posto de Gasolina Bingen Limitada

Rua Bingen, 2170, Bingen, Petrópolis (RJ)

Capital social: R$ 200.000,00.

Data de abertura: 17/8/1971

Galp Participações Ltda.

Rua Doutor Hermogênio Silva, 690, Retiro, Petropolis (RJ)

(Holdings de instituições não-financeiras)

Data de abertura: 13/10/1981

Chacrinha Posto de Serviços Ltda.

Rodovia Washington Luiz, 4492, Vila Sao Luiz, Duque De Caxias (RJ)

Capital social: R$ 650.000,00.

Data de abertura: 23/5/1995

Posto União de Corrêas Ltda.

Estrada União e Indústria, 2.058, Corrêas, Petrópolis (RJ)

Capital social: R$ 600.000,00.

Data de abertura: 17/12/2001

Preditiva de Petrópolis Auto Posto Ltda.

Rua Montecaseros, 101, Centro, Petrópolis (RJ)

Capital social: R$ 40.000,00.

Data de abertura: 5/3/2002

Galp Engenharia Ltda.

Rua Coronel Veiga, 687, Coronel Veiga, Petrópolis (RJ)

Capital social: R$ 1.000.000,00.

Data de abertura: 5/11/2004

Liquiserra Comércio de Gás Ltda.

Não há informações sobre o endereço desse CNPJ pois a empresa não está ativa.

Capital social: R$ 100.000,00.

Data de abertura: 9/7/2008

Br Coronel Veiga Combustíveis Ltda.

Rua Coronel Veiga, 687, Coronel Veiga, Petropolis (RJ)

Capital social: R$ 180.000,00.

Data de abertura: 01/12/2008

JKV Comércio de Combustíveis Ltda.

Avenida Thiago De Aquino Ramos, 133, Industrial, Matias Barbosa (MG)

Capital social: R$ 150.000,00.

Data de abertura: 4/2/2010

Ecorodo BR 040 Combustíveis Ltda.

Rodovia BR-040, Sn, Km 68, Araras, Petrópolis (RJ)

Capital social: R$ 100.000,00.

Data de abertura: 19/5/2011

Ecorodo Dutra Combustíveis Ltda.

Rodovia Presidente Dutra, S/N, Km 288, Floriano, Barra Mansa (RJ)

Capital social: R$ 100.000,00.

Data de abertura: 22/5/2013

Ecobarra Combustíveis Ltda.

Avenida Lúcio Costa, 4270, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (RJ)

Capital social: R$ 500.000,00.

Data de abertura: 12/11/2013

Eco Posto Caxias Combustíveis Ltda.

Rodovia Washington Luiz, 12000, Parque Eldorado, Duque de Caxias (RJ)

Capital social: R$ 100.000,00.

Data de abertura: 8/1/2015

Eco Magé Combustíveis Ltda.

Estrada do Contorno, S/N, Lote 1 Lote 2 Lote 3 Lote 4 Lote 5 Lote 6, Iriri, Magé (RJ)

Capital social: R$ 280.000,00.

Data de abertura: 16/12/2015

Eco Ilha Combustíveis Ltda.

Estrada do Galeão, 1125, Jardim Guanabara, Rio de Janeiro (RJ)

Capital social: R$ 280.000,00.

Data de abertura: 7/1/2016

Arquivo/AE - A implosão: em 22 de fevereiro de 1998, parte do prédio desabou, matando oito pessoas
Arquivo JB - Posto pertencente a Bruno Naya na BR-040: somente em Petrópolis, na Região Serrana, são cinco estabelecimentos
Arquivo JB - Eco Posto, na BR-040, um dos 15 postos de gasolina de Bruno Naya: obra embargada
Reprodução - Bruno Ambar Naya tornou-se inventariante e herdeiro da fortuna do tio Sérgio Naya