Se o critério fosse arquitetura natural, certamente o Rio de Janeiro ocuparia uma posição de destaque em qualquer ranking. A cidade, porém, acaba de ser consagrada com o título de Capital Mundial da Arquitetura, cujo anúncio foi feito ontem em Paris na sede da Unesco, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para educação, ciência e cultura. A informação foi antecipada pelo JORNAL DO BRASIL em 17 de maio de 2018 (leia quadro). A disputa envolveu Paris, na França, e Melburne, na Austrália. Com isso, o Rio vai sediar, em 2020, o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, promovido pela União Internacional dos Arquitetos (UIA) – sediada em Paris – e organizado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
O evento, que vai ocorrer a cada três anos a partir da edição carioca, será realizado entre 19 e 26 de julho de 2020, no Rio. Haverá atividades em locais diversos da cidade, como o Palácio Gustavo Capanema, que deverá receber exposições, palestras e workshops. A expectativa é que 25 mil arquitetos, acadêmicos de arquitetura e urbanistas de todo o mundo visitem o Rio durante a realização do UIA2020.
Para o presidente do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA 2020 RIO, Sérgio Magalhães, a decisão da Unesco abre novas perspectivas para a cidade e o país. “Ser Capital Mundial da Arquitetura e sediar o Congresso Mundial de Arquitetos formam um binômio de extrema importância para a cidade do Rio e para a cultura arquitetônica brasileira. Especialmente, porque proporciona um diálogo com a sociedade, que deverá criar um novo tempo para o enfrentamento dos desafios das nossas cidades”, prevê.
O Rio foi escolhido pela UIA por seu passado arquitetônico, histórico e cultural, bem como pelos desafios que enfrenta. O congresso, no entendimento de Magalhães, vai gerar reflexão sobre o futuro carioca. Cidade de grande diversidade urbanística, que tem em seu território situações comuns em grandes centros urbanos, tanto de países mais pobres ou em desenvolvimento como de nações ricas. “O que a torna um caso quase único de interesse para os arquitetos do mundo todo”, observou Magalhães.
A diretora da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, considera a cultura e a arquitetura fundamentais para a superação de desafios e soluções inovadoras para os espaços urbanos. “Ter o Rio como a primeira Capital Mundial da Arquitetura é um fato a ser celebrado pelo país, uma vez que a cidade se tornará palco de uma série de eventos, em 2020, para tratar de temas importantes para o desenvolvimento, como cultura, planejamento urbano, mobilidade, obras públicas e a construção de cidades mais inclusivas”, destacou. “Além desse título, a cidade é reconhecida ainda por abrigar dois sítios do Patrimônio Mundial Cultural: paisagens cariocas entre a montanha e o mar e o Sítio Arqueológico Cais do Valongo”, acrescentou Marlova.
De olho no futuro
Além de voltar a atrair as atenções internacionais de forma positiva, o título de Capital Mundial da Arquitetura destaca um aspecto ainda pouco difundido do Rio: seu valor arquitetônico. A cidade é cheia de exemplos que justificam sua escolha, como as construções do período colonial; prédios no estilo art-déco, que marcou as primeiras décadas do século passado; os primeiros edifícios modernistas e pérolas da arquitetura de Oscar Niemeyer, maior nome brasileiro, reconhecido mundialmente. Segundo especialistas, o principal legado, porém, será o de identificar metas que possam ser traçadas para os próximos dez anos, o que ajudará a construir políticas públicas para a melhoria do projeto urbanístico da cidade.
Será a primeira vez que o evento se realizará no Brasil, e o presidente do Instituto de Arquitetos Brasileiros, Nivaldo Andrade, ressalta que a cidade é uma referência por abrigar trabalhos de nomes como Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Lúcio Costa. “A cidade é também uma referência de desafios contemporâneos para os arquitetos e de experiências positivas no campo do urbanismo, a exemplo dos programas de urbanização de favelas. O Rio sintetiza características encontradas em cidades não só do Brasil, mas de diversos países do mundo”, afirma Andrade.
O prefeito Marcelo Crivella prometeu se empenhar em transformar 2020 em um marco na história cultural da cidade. “Teremos a oportunidade de ampliar a relação de pertencimento dos moradores da nossa cidade com o seu patrimônio histórico e arquitetônico, difundindo e preservando esse acervo”, comemorou. O prefeito foi representado no evento de Paris pela secretária municipal de Urbanismo, Verena Andreatta, que acredita que a cidade passará por um momento de discussão sobre as condições urbanas.
Missão bem sucedida
O Rio está prestes a se tornar a capital mundial da arquitetura. A missão foi delegada à dupla formada pela secretária municipal de Urbanismo, a arquiteta Verena Andreatta, e o presidente nacional do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Nivaldo de Andrade. Ambos viajaram ontem para a Cidade do México, onde, até amanhã, acontece um encontro do Conselho Superior da União Internacional dos Arquitetos (Uia), instituição que assinou um contrato com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pelo qual se criou o conceito de Capital Mundial da Arquitetura. O documento defende que o ideal é que a cidade-sede do Congresso Mundial de Arquitetura deve receber o bem-vindo rótulo. E o congresso será no Rio, em 2020. A Cidade Maravilhosa é candidata única, mas tem de provar que faz jus à denominação. “Vamos ao México com o apoio do Ministério da Cultura, do Itamaraty e do Instituto dos Arquitetos do Brasil. E vamos mostrar nossa imensa diversidade arquitetônica”, disse Verena, que preparou um detalhado powerpoint para expor a defesa da candidatura ao conselho superior da Uia. A expectativa é que, nos próximos dias, a Unesco conforme o título para o Rio. (Rogério Daflon)