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Operação contra milícia que explora grilagem na Zona Oeste prende suspeitos de assassinato de Marielle

Fábio Motta/AE e José Lucena/AE -
Benedito Aurélio (à dir.), um dos 'laranjas'
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Numa operação conjunta do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ) e da Coordenadoria de Segurança e Inteligência/MPRJ, e da Polícia Civil do Estado do Rio, com o apoio de policiais da Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (DRACO) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), foram cumpridos, ontem, cinco de 13 mandados de prisão contra uma quadrilha de milicianos acusada de explorar atividades de grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema, Tijuquinha e adjacências, na Zona Oeste do Rio. Embora o MP e a Polícia Civil afirmem que o objetivo da Operação Os Intocáveis tenha sido o de desmantelar a atuação da milícia nessas localidades, suspeita-se que o bando tenha participação no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março do ano passado, tendo em vista que, pelo menos, dois deles depuseram no inquérito que apura a morte da vereadora do PSOL e de seu motorista.

Foram presos o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, o major Ronald; o tenente reformado da PM Maurício Silva da Costa, o Maurição, além dos civis Laerte Silva de Lima, apontado como agiota e braço armado da organização, Manoel de Brito Batista, o Cabelo, contador; e o “laranja” Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio. Até o fechamento desta edição, eram considerados foragidos: Adriano Magalhães da Nóbrega, Adriano ou Gordinho, ex-capitão do Bope, também considerado homem forte da organização; o cobrador Daniel Alves de Souza; o matador Fabiano Cordeiro Ferreira, o Mágico; o despachante Fábio Campelo Lima; o ‘”laranja” Geraldo Alves Mascarenhas, o Pirata; Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba, da Associação de Moradores de Rio das Pedras; o tesoureiro Júlio Cesar Veloso Serra; e o cobrador Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho.

A promotora de Justiça Simone Síbilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), afirmou que, apesar de dois dos detidos terem sido ouvidos como testemunhas em outro crime, não é possível no momento vincular os integrantes de milícias presos hoje ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Pedro Gomes, em março do ano passado.

“A operação de hoje [ontem] objetivou o desmantelamento de uma organização criminosa que atua nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências, inclusive a Tijuquinha. Nós não podemos afirmar neste momento que elas têm relação com o caso Marielle, mas também não descartamos a hipótese”, disse Síbilio.

De acordo com a promotora, qualquer associação entre os suspeitos e a morte da vereadora e do motorista só poderá ocorrer com o avanço das investigações: “A investigação do caso Marielle não é o objeto desta investigação. Ela é separada e autônoma e não visou prender pessoas relacionadas aos crimes da Marielle e do Anderson. Se depois, no futuro, chegarmos a conclusão de que elas têm envolvimento, aí sim será apurado, mas nos autos da investigação do caso”.

Escritório do crime

Entre os cinco presos da operação de ontem, dois são acusados de envolvimento no Escritório do Crime, um grupo de extermínio, composto por mercenários, que atuaria no estado: o major Ronald e o capitão Adriano, acusados inclusive de comandar o escritório, braço armado da organização. Os dois, inclusive, já foram ouvidos na condição de testemunhas no caso Marielle. Novamente instigada a falar sobre o possível envolvimento, a promotora voltou a negar ligação entre as duas investigações.

“São investigações que não se confundem e não podemos, nesse momento, nem afirmar e nem descartar a participação de alguns desses integrantes no caso. É possível sim que eles façam parte do escritório do crime e as investigações serão aprofundadas nesse sentido”, destacou: “A investigação do caso Marielle corre em sigilo e neste momento nós não podemos dar mais informações sobre isso”.

Atividades ilegais

As investigações que resultaram na operação de ontem foram realizadas por meio de escutas telefônicas e notícias de crimes, recebidas pelo canal Disque Denúncia. Elas evidenciaram que os denunciados estão envolvidos em atividades de grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a ‘serviços’ prestados; ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de ‘laranjas’; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder, para manutenção do domínio territorial na região de Jacarepaguá.

Alguns integrantes do grupo também respondem pelo homicídio de Júlio de Araújo, cometido em 24 de setembro de 2015, quando foram efetuados disparos de arma de fogo contra a cabeça da vítima, executada na modalidade típica de ‘queima de arquivo’, para evitar que ela fizesse denúncias sobre crime anterior cometido por integrantes da organização criminosa. Também há imputação do crime de corrupção ativa para dois denunciados. (Com Agência Brasil)

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