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Quarta, 30 de abril de 2025

Leblon Presente sob nova direção

Moradores elogiam programa, mas associação ameaça organizar protesto contra exoneração de coordenador

José Peres, Marcos Tristão / Jornal do Brasil -
Bianca Gayoso elogia o programa, mas sugere mudanças no horário de funcionamento: "Só gostaria que eles ficassem até mais tarde. Eles saem às 20h, e depois que escurece tudo fica mais perigoso"
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A Associação de Moradores do Leblon (AMA-Leblon) já começou a rufar os tambores de guerra. Com uma redução de 81% dos crimes registrados na 14ª DP em apenas um mês de existência — o projeto foi iniciado dia 20 de dezembro de 2018 —, o coordenador e idealizador do Leblon Presente, coronel Felipe Gonçalves, acaba de ser exonerado e substituído pelo major Falcone que, segundo a presidente da AMA Leblon, Evelyn Rosenzweig, nunca teve nenhum vínculo com o projeto.

“Enviei uma mensagem ao governador Wilson Witzel [PSC] e expliquei o que está acontecendo. Espero apenas seu retorno e, dependendo da resposta, vamos organizar uma grande manifestação de protesto”, ameaça Evelyn, que atua diretamente no Leblon Presente e enaltece os métodos usados desde a sua gênese.

Macaque in the trees
Agentes do Leblon Presente vigiam a orla do bairro (Foto: José Peres, Marcos Tristão / Jornal do Brasil)

“É uma iniciativa que tem gestão própria, vinculada à secretaria de Governo, sem ingerência da Polícia Militar. São trios que reúnem PMs e assistentes sociais oriundos das Forças Armadas, estes últimos para atender a população de rua, atividade que a nova gestão quer acabar. Como há muita cobiça por essas funções, bem remuneradas (40% do salário padrão recebido em dias de folga) e bem recebidas pela população, os cargos são loteados por deputados e vereadores. Quando perguntei qual o motivo da exoneração à secretaria de Governo, simplesmente não tive resposta”, reclama Evelyn, que não consegue disfarçar a irritação com o novo método de comunicação adotado pelo novo coordenador, que se recusa a receber mensagens por WhatsApp dos agentes participantes e só fala com eles se for marcada uma audiência.

O projeto, que custa cerca de R$ 10 milhões por ano, conta com recursos do estado, complementados pelas doações dos empresários que moram ou têm estabelecimentos no bairro da Zona Sul, captadas pela AMA-Leblon.

Macaque in the trees
Bianca Gayoso elogia o programa, mas sugere mudanças no horário de funcionamento: "Só gostaria que eles ficassem até mais tarde. Eles saem às 20h, e depois que escurece tudo fica mais perigoso" (Foto: José Peres, Marcos Tristão / Jornal do Brasil)

Em um mês de funcionamento, o projeto ainda nem ganhou seu próprio container e funciona provisoriamente em uma barraca montada na Praça Antero de Quental, mais próxima à Rua General Urquiza. A equipe de 44 agentes que atua do Alto Leblon à Avenida Borges de Medeiros, a pé, de moto ou de bicicleta, efetuou dez prisões em flagrante, recuperou uma moto, uma bicicleta, um celular e R$ 4.991 em dinheiro.

O JORNAL DO BRASIL tentou contato com o deputado estadual Roberto Motta (PSC), que assessora o governador na área de segurança. Porém, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.

Ontem, duas viúvas paraplégicas, antigas moradoras do bairro, descansavam com suas acompanhantes à sombra de uma árvore vizinha à barraca. “O que mais gosto no Leblon é do mar. Sei que está tudo difícil, mas não tenho medo, me sinto segura aqui”, afirma Maria de Faria Monteiro, 96 anos, 60 deles vividos no bairro. Marli Messias, 55 anos, acompanhante de Maria há dez, costuma trazê-la sempre à praça. Ontem, porém, acabava de saber por uma babá sobre um furto ocorrido na Kurt, doceria a apenas um quarteirão dali.

Segundo a gerente Márcia Nogueira, há dois anos trabalhando na Kurt, aquele foi o primeiro furto que presenciou desde que começou a trabalhar na loja. “Uma cliente que está sempre aqui sentou na mesinha para comer sua torta com café. Quando se levantou para pagar, um assaltante, que não estava armado, furtou seu celular”, relatou.

Dias Ferreira para pedestres

Um dos locais de maior afluência no bairro é o polo gastronômico da Rua Dias Ferreira, onde recentemente houve dois sequestros-relâmpago, cujos autores já foram presos. A empresária Bianca Gayoso, gerente do Sushi Leblon, um dos mais badalados restaurantes daquele nobre pedaço, embora não esteja por dentro das mudanças do comando do Leblon Presente, elogia a atuação da operação e diz que até hoje a casa nunca foi roubada. “Só gostaria que eles ficassem até mais tarde. Eles saem às 20h, e depois que escurece tudo fica mais perigoso”, diz ela.

Bianca levou ao superintendente da Zona Sul, Marcelo Maywald, uma sugestão para que o trecho final da Dias Ferreira permaneça fechado ao trânsito a partir de uma certa hora da noite. “Seria um sonho. O bom da rua é que sempre tem movimento: há muita gente andando por aqui a qualquer hora do dia e a maioria dos restaurantes também tem seguranças”, diz.

José Peres, Marcos Tristão / Jornal do Brasil - Agentes do Leblon Presente vigiam a orla do bairro