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Sábado, 3 de maio de 2025

Beija-Flor não empolga, mas corre por fora

Imperatriz tem problemas, Grande Rio não emociona e Império repete erros

Tomaz Silva/Agência Brasil -
O casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso esbanjou talento e simpatia no desfile da Beija-Flor
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Atual campeã, a Beija-Flor foi a quinta escola a desfilar na primeira noite de desfiles. A escola de Nilópolis comemorou seus 70 anos revisitando seus principais enredos, mas não empolgou. Algumas referências foram óbvias, outras, de difícil compreensão. Também faltou luxo e melhor acabamento nas fantasias e carros alegóricos. Apesar disso, a escola é sempre candidata a pelo menos retornar no Desfile das Campeãs, que vai reunir, no próximo sábado, as seis escolas mais bem colocadas entre as 14 concorrentes.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, desfilou representando um casal de beija-flores. Seguiram-se referências aos enredos mais famosos ou importantes da escola, desde "Peri e Ceci", com que a escola ficou em 10º lugar na segunda divisão, em 1963, até "Monstro é aquele que não sabe amar! Os filhos abandonados da pátria que os pariu", vitorioso na elite em 2018.

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O casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso esbanjou talento e simpatia no desfile da Beija-Flor (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Não faltaram "Sonhar com Rei dá Leão", que rendeu o primeiro título da escola, em 1976, com o carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011), e "Ratos e Urubus, Larguem minha Fantasia", que ficou famoso em 1989 por levar ao sambódromo uma alegoria do Cristo Redentor que, proibido pela Justiça de ser exibido, foi coberto com um plástico preto e um cartaz onde se lia "mesmo proibido, olhai por nós". A referência a esse imbróglio tão marcante, no entanto, pode ter passado despercebida à maioria do público, porque em vez de reproduzir a famosa alegoria a Beija-Flor preferiu colocar ratos e mendigos sobre um carro alegórico.

Teve ainda referência a Roberto Carlos, cantor e compositor que virou enredo campeão em 2011, e uma ala inteira em homenagem a Pinah, destaque que ficou famosa em 1978 ao sambar com o príncipe Charles, da Inglaterra, durante uma visita dele ao Brasil. A própria Pinah desfilou como destaque de chão, mas, espremida entre duas alas, teve pouco espaço para ser reverenciada. Em alguns momentos a escola pareceu correr demais, aparentemente por ter um número exagerado de componentes para os no máximo 75 minutos de exibição. Embora não tenha empolgado, a escola encerrou o desfile confiante: vários componentes entoaram gritos de "bicampeã".

Imperatriz Leopoldinense

A Imperatriz Leopoldinense levou a história do dinheiro para a Marquês de Sapucaí. Jogou cerca 800 mil notas falsas de R$ 100 à plateia, coloriu a avenida de dourado, mas não foi agraciada pela sorte em seu desfile. Com pouco mais de dez minutos de apresentação, o carro abre-alas "A lenda do rei Midas" parou ainda na concentração, comprometendo a harmonia.

Enquanto as primeiras alas avançavam, se distanciando da maior parte da escola que sequer tinha colocado os pés na Sapucaí, técnicos tentavam resolver o problema. Foi preciso soltar a primeira parte do carro e empurrá-lo manualmente para a Imperatriz conseguir avançar. E foi assim até o fim: o abre-alas parando de tempos em tempos e sendo movimentado "no braço" pelo pessoal de apoio, enquanto os integrantes das alas corriam para tapar buracos que iam se formando ao longo da pista.

Com o enredo "Me dá um dinheiro aí", a escola de Ramos apostou na crítica à ambição desenfreada. Para contar essa história, retornou aos tempos de escambo entre portugueses e índios; passeou pela escravidão, ao trazer um navio negreiro para a Sapucaí; tratou do consumo desenfreado proporcionado pelo cartão de crédito. Mas pecou nos recursos estéticos e acabamento as fantasias estavam mal acabadas e pouco criativas.

Grande Rio

A Grande Rio, de Duque de Caxias, foi a terceira escola a desfilar. A agremiação apresentou o enredo "Quem nunca...? que atire a primeira pedra", em que faz uma crítica "às gafes, deslizes, viradas de mesa e ao famoso jeitinho brasileiro". O tema foi escolhido um ano após a virada de mesa realizada por pressão da escola, que ficou em penúltimo no desfile de 2018 e seria rebaixada para a segunda divisão, não fosse a repentina e tardia mudança de regras o enredo pode ser interpretado como uma admissão velada de culpa ou como uma forma de demonstrar que no Brasil esse tipo de acordo é comum.

O desfile foi melhor do que o do Império Serrano, mas inferior ao da Viradouro, e não chegou a empolgar a plateia. A seu favor pesou, no entanto, a animação dos integrantes, que cantaram e pularam durante todo o desfile, ainda que não fossem acompanhados por quem assistia nas arquibancadas. A inovação ficou por conta do uso de drones com emojis na comissão de frente, numa alusão a Moisés, o profeta dos dez mandamentos, em tempos de redes sociais.

O experiente carnavalesco Renato Lage, sempre lembrado como autor dos desfiles campeões pela Mocidade Independente em 1990, 1991 e 1996, fez um desfile técnico pela Grande Rio, mas ainda faltaram brilho e um enredo mais empolgante.

Império Serrano

Primeira escola a se apresentar no domingo, o Império Serrano apresentou o enredo "O que é, o que é?", sobre o sentido e os rumos da vida. A força do samba uma famosa composição de Gonzaguinha, lançada em 1982 empolgou a plateia, mas a escola repetiu alguns erros do ano passado, quando foi a última colocada e só não foi rebaixada por conta de uma virada de mesa. Além de fantasias e alegorias pobres e mal acabadas, até o letreiro do tripé que acompanhava a comissão de frente anunciando o nome da escola tinha defeitos: as três últimas letras da palavra Império estavam apagadas.

Para expor um tema tão abstrato, o Império começou apresentando o nascimento de Cristo, retratado pela comissão de frente mas, nessa versão, ele nasceu nos dias atuais e em meio a moradores de rua. O tripé que acompanhava a comissão era um palco ocupado alternadamente pelos integrantes da comissão de frente e pelo primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Verônica Lima. Por meio de um elevador, a plataforma onde eles estavam era elevada a quatro metros de altura para se exibir em frente a cada cabine de jurados.(Com Estadão Conteúdo)