Isabel de Araujo, Jornal do Brasil
RIO - Quando a família da dona de casa I. , moradora do Beltrão, em Santa Rosa, decidiu trocar o habitual jantar por uma deliciosa pizza, a notícia foi recebida com festa pelo filhos de 7 e 9 anos. Mas, quando o entregador chegou ao local, a família recebeu uma ligação da pizzaria pedindo que alguém fosse até o início da rua para pegar a comida. A justificativa do restaurante: o entregador não iria até à casa dela pelo risco.
É uma situação bem complicada ter que dizer aos meus filhos que moramos em uma área perigosa! desabafa I.
Situações como esta, infelizmente, não são raras e refletem o poder do tráfico de drogas na cidade. O marido de I. é entregador de uma mercearia e ele próprio convive com esta complicação. Por determinação de facções criminosas, o homem conta que não tem permissão para entregar, ou até mesmo, passear em algumas áreas do Centro que são dominadas por facção rival à comunidade onde ele mora com a família.
É bastante complicado viver assim. E, para completar: o perigo atravessa a Ponte Rio-Niterói com a gente. Meus sogros moram na Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, e sempre que vamos na casa deles não podemos dizer em qual comunidade de Niterói moramos. As facções são rivais relata I.
Vivendo no limite
Do lado oposto da cidade, no Caramujo, na Zona Norte, mais relatos de famílias que vivem no meio da guerra de facções criminosas. O comerciante Jorge Guimarães tentou colocar um provedor de internet a cabo na casa dele, há pouco mais de cinco meses, e a resposta da empresa prestadora do serviço foi, segundo ele, que não instalamos no local por ser uma área de risco .
No Centro, uma secretária, que se identificou apenas como Karla, ficou surpresa com a resposta de uma lanchonete que se negou a entregar comida na Rua São Lourenço.
Na hora não entendi a negativa e perguntei se não entregavam no Centro e a atendente explicou que no Centro entregavam sim, mas na Rua São Lourenço, não! Aí me dei conta que meu trabalho fica próximo ao morro do Sabão e da favela do Boa Vista recorda-se.
Fontes dos Correios confirmam que os carteiros e o caminhão da distribuição são alvos freqüentes de roubos, principalmente em São Gonçalo. O proprietário de uma empresa de motoboys, que se identificou apenas como Souza, confirma que diversos funcionários dele são ameaçados em serviço e muitos acabam tendo a moto ou a mercadoria furtada.
Um deles entrega celulares e a cada dia faz uma rota diferente para não ser visado. Em uma comunidade, ele já perdeu toda a mercadoria relata Souza, que mapeou os pontos críticos de Niterói: Caramujo, Engenhoca, Barreto todos na Zona Norte , Beltrão e Souza Soares na Zona Sul e a Rua Marechal Deodoro, no Centro.
O motoboy enfatiza que o cenário em São Gonçalo é ainda mais hostil.
Em São Gonçalo existe um comunidade que tem mais de 30 motos roubadas de entregadores afirma, enumerando os pontos perigosos: Salgueiro, Vila Três, Jardim Catarina e Bairro Almerinda.