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Sábado, 3 de maio de 2025

Cariocas voltam ao charme das sombrinhas para se proteger do sol

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Marcelo Migliaccio, Jornal do Brasil

RIO - O sol anda tão forte que um costume antigo está voltando a ser visto nas ruas do Rio: andar de sombrinha. Com o buraco na camada de ozônio cada vez maior, muita gente cuida de se proteger, embora para a maioria das pessoas a charmosa figura de uma mulher abrigada sob um guarda-chuva em tempo seco ainda cause estranheza.

Quando passo pela Central do Brasil ou pela Praça Saens Peña, sempre tem um chato para gritar que não está chovendo conta a estudante de direito Patrícia Oliveira, 28 anos. Às vezes me sinto um ET. O brasileiro ainda não tem a cultura de se proteger do sol.

Patrícia diz que, antes de fazer do pequeno guarda-chuva um item obrigatório em sua bolsa independentemente da previsão do tempo recorria a pastas, envelopes e o que mais estivesse ao seu alcance para não se expor.

Uso filtro solar, mas é preciso bloquear o sol com algum objeto.

A tradutora Fernanda de Paiva, 41, tem uma coleção de sombrinhas, mas também não escapa das gozações.

Minhas amigas riem, dizem que pareço uma velha coroca diverte-se. Algumas até andam distantes de mim quando abro o guarda-chuva debaixo do maior sol. Tenho de oncinha, de bolinhas pretas e brancas, um para cada ocasião.

Mas Fernanda, cuja pele parece de criança, diz que colhe os frutos dos cuidados que adotou aos 20 anos. Desde então, nunca mais se expôs diretamente aos raios solares entre 10h e 17h.

Uso filtro, óculos, chapéu, tudo a que tenho direito.

Fernanda diz que a primeira vez que viu uma pessoa com um guarda-chuva aberto sem que estivesse chovendo foi no interior de Minas Gerais, onde nasceu.

Meu avô passeava no fim da tarde com um guarda-chuva enorme, e eu achava surreal.

E quem pensa que a moda retrô que remete à belle époque atinge apenas mulheres está muito enganado. O engenheiro Duílio Fedele é adepto dos bonés-chapéu, mas sempre leva um guarda-chuva na mochila para o caso de o tempo virar. Acontece que quando ele esquece o boné em casa ou no trabalho, recorre ao guarda-chuva contra o sol.

Meus amigos ficam caçoando, mas o sol e o calor me incomodam muito. Chego em casa e sinto muito cansaço quando fico exposto.

Fonte de renda

A combinação entre sombrinhas e sol forte está aliviando o orçamento mensal da crocheteira Andréa Garcia, 32. Há oito meses, ela vende guarda-chuvas de crochê revestidos de uma capa plástica, artesanato que aprendeu com uma amiga que vive em Cabo Frio.

Compro as armações no centro e vendo principalmente para idosas. O de adulto custa R$ 40 e o infantil, R$ 30.

Andréa diz que, por serem diferentes, quase sempre em tons dégradé, atraem também uma clientela mais fashion.

Costumo vender entre 20 e 30 por mês, mas, com a crise, caiu um pouco a procura. Faço só por encomenda, para não encalhar e porque o freguês pode escolher as cores.