Thiago Feres, Jornal do Brasil
RIO - Moradores de favelas beneficiadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) respiram aliviados após o anúncio oficial do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, de que o projeto será mesmo regulamentado por decreto. A informação foi adiantada com exclusividade pelo Informe JB no fim de semana.
Domingo, durante entrevista coletiva na 37ª DP (Ilha do Governador), Beltrame garantiu que entregará ainda nesta semana ao governador Sérgio Cabral uma minuta. Segundo explicou, o documento passará por uma análise do setor jurídico do Palácio Guanabara, para depois se transformar em decreto do gestor estadual.
Estamos diante de um projeto que vai além das questões eleitorais destacou o secretário de Segurança Pública. Essa é uma política de estado, que deve ser mantida independentemente das futuras gestões que comandarão o Rio.
A preocupação de Beltrame vai de encontro com o que pensam moradores de favelas já beneficiadas pelo projeto das UPPs ou ainda em fase de instalação. No Morro da Providência, por exemplo, onde a unidade foi inaugurada no último dia 26, os policiais admitem que ainda estão tentando conquistar os moradores. Por enquanto, o receio de uma possível volta dos traficantes é o principal adversário a ser vencido.
Estou bastante satisfeito com a presença da polícia na comunidade, mas o governo pode trocar nas eleições, e muitos temem a volta dos criminosos disse o morador José Marcos de Souza, 33 anos, há 12 morando na comunidade da região central da cidade. Precisamos de uma garantia para poder estreitar os laços com os policiais. Por enquanto, ainda fico muito receoso.
Uma mudança no projeto, caso o atual governador Sérgio Cabral não se mantenha no cargo, já vinha preocupando o presidente da Associação de Moradores do Morro do Cantagalo, em Ipanema.
Já havia procurado os órgãos públicos para saber como ficaria essa situação contou Luiz Bezerra. Estou bastante satisfeito com essa decisão, e me sinto aliviado.
Atualmente, o Rio conta com sete UPPs, e os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) já trabalham nas favelas da Tijuca (Zona Norte) para implantar o que será a maior das unidades. A Secretaria de Segurança possui o mapeamento de 40 comunidades e pretende chegar a 100 UPPs até 2014.
Bope tenta aproximar-se dos moradores em ação no Borel
A ocupação dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Morro do Borel, na Tijuca, vive uma nova etapa: a conquista dos moradores. Palco da próxima Unidade de Polícia Pacificadora do Rio, os agentes tentam aumentar o contato com a população para receber informações de esconderijos de armas e drogas, além de ir adaptando os moradores ao convívio com a figura policial o que não ocorria em outros momentos na comunidade.
Vamos conquistar a confiança da população do Borel e dos outros morros da região, é apenas uma questão de tempo destacou o comandante da unidade, o tenente-coronel Paulo Henrique de Moraes.
O Bope já encontra-se em seis comunidades da Tijuca desde a última quarta-feira. No primeiro dia de ações, a reportagem do JB circulou pela região e comprovou uma grande desconfiança por parte dos moradores.
Até o momento, seis pessoas foram presas e um menor apreendido, segundo balanço divulgado pela Polícia Militar. Duas pistolas, drogas, três rádios de comunicação, um binóculo, um caderno de contabilidade do tráfico e um casaco do Exército também foram apreendidos. A previsão é de que a UPP seja instalada no Borel em um mês.
Projeto de lei também busca regulamentar as UPPs
Responsável pelo projeto de lei que vem tramitando na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para a regulamentação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o deputado estadual Alessandro Molon (PT) disse ser favorável à decisão do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, de encaminhar uma minuta ao governo do estado prevendo um decreto. Entretanto, o parlamentar destacou a importância do passo seguinte a esta etapa.
O decreto é menos estável do que uma lei analisou. Do dia para a noite, qualquer governador eleito pode revogar o decreto numa canetada. No entanto, para que uma lei seja derrubada, precisa ser votada duas vezes na Alerj, num processo mais democrático.
Molon lembra ter prestado apoio ao secretário de Segurança quando Beltrame deu início às inaugurações das UPPs. Ele destacou que, a partir de segunda-feira, pedirá urgência na votação desse projeto de lei.
Falarei com a presidência da casa e com membros da mesa diretora disse. Atualmente, ainda não existe qualquer previsão de votação, mas, com o pedido de urgência, acredito que estaremos começando a discutir o assunto em uma semana ou 10 dias.
O deputado reiterou que a continuidade das UPPs é fundamental para preservar vidas de moradores das comunidades beneficiadas pelo programa. A descontinuidade poderia ser fatal, segundo ele.
Eles ficariam expostos novamente ao tráfico armado. E os criminosos não poupariam os moradores que apoiaram a presença policial afirma.