RIO - A maior operação da história de luta contra o crime organizado no Rio de Janeiro não encontrou, este domingo, a esperada resistência dos traficantes, facilitando a ocupação de um de seus principais redutos, o Complexo do Alemão, pelas forças de segurança.
"A maioria (dos delinquentes entrincheirados desde quinta-feira no local) fugiu" antes de iniciada a invasão do conjunto de favelas às 08h00 deste domingo, disse à AFP o delegado da polícia civil, Márcio Mendonça, enquanto exibia pacotes com centenas de quilos de maconha encontrados em uma pequena casa de tijolos em uma ladeira do morro.
"Eles viram na quinta-feira com o ataque à Vila Cruzeiro (do qual participaram veículos blindados da Marinha e helicópteros, também blindados) que nada podem contra a força do Estado", disse Mendonça, satisfeito com a facilidade da ocupação.
Avançando pelas ruelas estreitas, patrulhas de polícias com o rosto coberto por toucas ninja e armadas com fuzis M16 e FAL 762, revistavam casas que eram indicadas por denunciantes como pertencentes a traficantes.
De vez em quando, um ou outro homem de bermuda e sem camisa, com as mãos algemadas às costas, era escoltado por um grupo de policiais, seguidos de perto por uma esposa que protestava, reivindicando sua inocência.
Entre os presos este domingo estavam Elizeu Felicio de Souza, o "Zeu", um dos traficantes condenados pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, em 2002, anunciou um porta-voz da polícia, após a ocupação do morro.
"Zeu" foi acusado de ter torturado Tim Lopes e de ter comprado a gasolina com que o corpo do jornalista foi queimado.
Ele foi condenado a 23 anos e seis meses de prisão e estava foragido da Justiça desde 2007, quando após cinco anos de prisão aproveitou sua primeira saída, gozando do benefício de regime semi-aberto, para fugir.
Enquanto os detidos eram escoltados, os vizinhos observavam de janelas e varandas, sem sair de suas casas.
Intensos tiroteios explodiram antes do começo da operação, mas quase não se ouviram depois.
"Ninguém ficou ferido até agora", disse à AFP o major Edson Gonçalves, médico do corpo de bombeiros, encarregado das operações de socorro.
Dezenas de detidos, algumas toneladas de maconha e de cocaína, motos abandonadas na fuga, barreiras de cimento erguidas nas ruas pelos traficantes e destruídas pelos blindados foram os sinais da grande batalha aguardada, que acabou não acontecendo.
Outra imagem da ocupação foi a casa de três andares de um dos gerentes do tráfico local, o "Pezão", destruída pelos policiais, uma demonstração de fortuma em meio a tanta pobreza.
A mansão era equipada com banheira de hidromassagem, piscina e churrasqueira, pinturas de um skate e um carro esportivo decorando o quarto do menino, e do cantor canadense Justin Bieber no quarto das meninas.
A cozinha cheirava a champanhe, depois das garrafas de Dom Perignon estouradas pela polícia.
Vários DVDs evangélicos estavam espalhados pelo chão, enquanto uma vizinha, muito crente, mandava ao inferno os jornalistas que visitavam a "mansão" da favela.
"Não saímos mais daqui", disse o delegado Mendonça, em alusão ao retorno do estado a este complexo de favelas de 400.000 habitantes, depois de quase três décadas de ausência.