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Quinta, 1 de maio de 2025

Há um ano helicóptero cai e atinge imagem de Cabral 

Acidente descortinou relações do governador com a Delta, envolvida em casos de corrupção 

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Há um ano, em 17 de junho de 2011, a queda de um helicóptero em Trancoso, no sul da Bahia, deixou sete vítimas fatais. Uma oitava vítima, porém, sequer estava na aeronave: o governador do Rio Sérgio Cabral. E não foi apenas por entre os mortos estar Mariana Noleto, namorada de Marco Antônio, um dos seus filhos, que ele acabou atingido.

O acidente trouxe à tona suas ligações intimas com o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, empreiteira que apenas em 2011, portanto já no segundo governo de Cabral, faturou cerca de R$ 1,490 bilhão saídos dos cofres do Estado.

Além de Mariana, na queda morreram as irmãs Jordana – namorada de Cavendish - e Fernanda Kfuri, com os respectivos filhos, Luca Magalhães Lins, de 3 anos, e Gabriel Gouveia, de 2; a babá de Luca, Norma Assunção e o piloto Marcelo Mattoso de Almeida. Todos, assim como o governador Cabral e seu filho que esperavam uma segunda viagem da aeronave, eram convidados para a festa do aniversário do dono da Delta.

Justiça lenta

Até hoje ainda não houve decisões nos processos judicias abertos a partir do acidente. "Estamos esperando, está tudo muito devagar, tudo muito lento, tanto o processo em relação à Delta, quanto as investigações da ANAC, tudo sem resposta", afirmou ao Jornal do Brasil, José Luca Magalhães Filho, ex-namorado de Jordana e pai do menor Luca.

Na época, descobriu-se que o piloto Almeida estava com a habilitação vencida havia seis anos. Segundo laudos divulgados, o acidente aconteceu no início da noite. O helicóptero Eurocopter AS 350 B2 Esquilo saiu do Aeroporto Internacional de Porto Seguro com destino a um hotel de luxo na Praia de Trancoso. O trajeto de 15 quilômetros foi feito debaixo de forte chuva e a aeronave caiu no mar a 200 metros da Praia de Itapororoca. 

Consequencias políticas

Mas, se os processos judiciais se arrastam, as consequências políticas foram céleres. Desde então começaram a ser descortinadas as ligações de Cavendish e da empresa Delta com o governador e o governo do Estado, desgastando pouco a pouco a imagem política de Cabral.

Nos bastidores dos institutos de pesquisa, corre que a queda de prestigio junto às classes A e B foi vertiginosa. Ele (o prestígio) também caiu entre os chamados formadores de opinião, o que pode gerar consequências para a campanha do prefeito Eduardo Paes que disputará a re-eleição deste ano com apoio do governador.

Empresa Inidônea

As investigações de favorecimento da empreiteira, que inicialmente se concentraram no estado do Rio, alcançaram nível nacional com a deflagração da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que começou investigando a exploração do jogo eletrônico no Centro-Oeste brasileiro e esbarrou num enorme escandalo político-financeiro-eleitoral.

Ela descortinou, por exemplo, o envolvimento da Delta em um esquema de financiamento de campanhas eleitorais junto com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foi além: esbarrou em esquema de superfaturamento de obras, através da assinatura de aditivos aos contratos iniciais firmados em valores subestimados, sempre mediante pagamento de propinas a servidores do estado.

Por conta de esquemas como estes, no último dia 3 a Controladoria-Geral da União (CGU) declarou a empresa inidônea para contratar junto à Administração Pública. A decisão foi tomada depois de a CGU investigar e confirmar irregularidades, entre as quais superfaturamento e desvio de dinheiro público, em obras no estado do Pará. As suspeitas surgiram na Operação Mão Dupla, da Polícia Federal.

O prejuízo para a empreitreira está sendo tão grande que ele já foi colocada à venda e, caso não encontre interessado, pode encerrar suas atividades depois de concluir as obras em andamento. Está vendo ir pelo ralo um negógio que nos ultimos anos lhe transformou na sétima empreiteira do país, com o maior número de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Tudo isto lhe garantiu 71 contratos de obras públicas vigentes, no valor de R$ 2,47 bilhões. Existem ainda 61 contratos com prazo de vigência já expirado, mas não concluídos, que somam outros R$ 1,5 bilhão.

Descoberta da quadrilha

As investigações da Polícia Federal demonstraram as ligações da Delta com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira – suspeita-se, inclusive, que o contraventor tenha participação acionária na empreiteira. Também surgiu através delas as íntimas e frequentes relações do contraventor com o senador de Goiás, Demóstenes Torres (DEM), até então apresentado à opinião pública como arauto da moralidade.

Todas estas “descobertas” desencadearam na instauração de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional, que tem por objetivo investigar o esquema da quadrilha chefiada por Cachoeira com os governos, os políticos, empresas privadas como a Delta e que podem acabar descobrindo envolvimento pouco ortodoxo de jornalistas com o contraventor e a empreiteira.

Fotos comprometedoras

A Operação Monte Carlo não afetou o governo do Rio até que, o principal inimigo político de Cabral, o ex-governador e hoje deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) trouxe a público fotos do governador e seus secretários se confraternizando com Cavendish em jantares, em finissimos e caros restaurantes franceses. As fotos afetaram ainda mais a imagem política de Cabral que já fora atingida na queda da aeronave, há um ano.

Abriu-se assim a possibilidade dele, do seu governo e, principalmente, dos contratos que firmou com a Delta tornarem-se alvo das investigações da CPMI. Para evitar que isto aconteça é que uma tropa de choque do PMDB e do PT entrou em ação na última quinta-feira (14) evitando a convocação de Cavendish para prestar depoimento na comissão.

O resultado foi apertado – 16 votos a 13 – o que poderá sofrer mudanças em breve, principalmente depois da revelação de um possivel encontro de Cavendish, em resturante francês, com os dois dos membros da CPMI, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o deputado Maurício Quintella (PR-AL), e a mulher de Nogueira, a deputada Iracema Portella (PP-PI).

A convocação de Cavendish, caso se confirme, estenderá um pouco mais o inferno astral pelo qual vem passando o governador do Rio, Cabral, iniciado há exatos 365 dias, com a fatídica queda da aeronave.