A Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela, recolocou na madrugada desta terça-feira a placa de sinalização no acesso à Vila do João, no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. O local foi usado por engano no último sábado pelo engenheiro Gil Augusto Barbosa, que procurava um retorno na Linha Amarela e acabou entrando na favela, onde foi baleado na cabeça por traficantes. Ele segue internado em estado grave.
Segundo a assessoria da Lamsa, a placa havia sido retirada no início do mês por estar com risco de desabamento, decorrente de avarias detectadas durante inspeção. Desde então, a sinalização estava em manutenção, sendo recolocada nesta terça-feira.
A falta de sinalização é apontada como um dos fatores que contribuíram para a entrada do engenheiro em uma área considerada de risco. Para o ex-diretor da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) Celso Franco, o município deveria ter uma placas indicando "zonas de alto risco" em todas as vias de acesso ás favelas da cidade. "É fundamental para que o motorista saiba onde ele está entrando. E controlar o acesso às favelas. Sem isso, a pacificação é como enxugar gelo", criticou o especialista.
Celso Franco lembra que esta medida foi tomada em Nápoles, na Itália, em 1946, e no Marrocos, em áreas que apresentavam um alto índice de criminalidade. O especialista lembra ainda que uma pacificação sem controle de acesso às comunidades é ineficaz: "isso é fundamental até para os cidadãos de bem que vivem lá dentro. Se todo e qualquer condomínio tem controle de acesso, por que as favelas não tem?", questionou.
A coordenadora da ONG Rio Como Vamos, Thereza Lobo, disse que é fundamental mudar a sinalização naquela área. "É um problema sério de mobiliário urbano. A sinalização, que tem que ser absolutamente clara, visivelmente não ajudou", disse Thereza. "Sempre que acontece algo assim, a cidade fica em alerta, e ela tem de estar preparada para os grandes eventos, e ainda depois disso", lembrou a coordenadora.
Em contrapartida, Thereza faz uma observação importante: o Complexo da Maré não é referência negativa em nenhum dos principais indicativos de violência (auto de resistência, homicídio doloso, latrocínio, roubo de rua e furto de veículos). Ainda assim, ela também considera que as melhorias na segurança da cidade têm de vir o quanto antes. "A cidade tem de ser mais calorosa, e não perigosa, seja por falta de sinalização ou pela violência em certas áreas. Quem sabe não aprendemos com os próximos eventos?", finalizou.
Paes descarta sinalização de alerta
O prefeito Eduardo Paes deixou claro na segunda-feira que não irá colocar qualquer sinalização na cidade para indicar áreas perigosas. "Não vamos colocar placa para indicar área de violência. O Rio está passando por muitas transformações e uma grande transformação é na segurança pública. Esse comando dos traficantes em determinadas áreas e esse desrespeito pela vida humana é que têm que acabar. E eles sabem que isso é só uma questão de tempo", garantiu Paes, que ainda reconheceu que a cidade precisa, sim, de melhor sinalização, mas que "isso está mudando".
No mês passado, mais uma pessoa foi vítima de violência ao entrar por engano em uma favela do Rio. Mesmo em um carro blindado, o assistente de direção da Rede Globo Thomaz Cividanes foi atingido na perna ao entrar no Morro do 18, em Água Santa.
Nesta segunda-feira, a Polícia Militar informou que o Complexo da Maré, área de confronto entre duas facções criminosas, será pacificado em breve. Só não ficou claro se isso acontecerá durante esta semana ou após a Copa das Confederações, que começa neste sábado.
Um morador da Maré, que não quis se identificar, disse que ouviu uma sequência de pelo menos dez tiros disparada na noite de sábado, quando o engenheiro foi baleado. Segundo relato do morador, o carro entrou com o farol aceso e em alta velocidade na favela. "Os caras, quando veem um carro desse jeito, acham que é invasão e saem atirando, por via das dúvidas", relatou.
Suspeitos se entregam
Na segunda-feira, dois suspeitos de participação no ataque ao engenheiro se entregaram no 22º BPM (Maré). Jone Barbosa, 25 anos, conhecido como Bolado, e um adolescente de 16 anos chegaram à unidade acompanhados por um advogado. Eles estavam com duas pistolas, sendo uma calibre 9 milímetros e outra .40. Os suspeitos foram encaminhados para a 21ª DP (Bonsucesso).
Barbosa estava indo buscar a mulher no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, na Ilha do Governador, e quando estava na avenida Brasil, principal ligação da região portuária da cidade com as zonas norte e oeste da capital fluminense, tentou pegar um retorno ao receber um telefonema da mulher, no qual ela informou que já estava em um táxi e retornando para casa.
De acordo com a Polícia Civil, a vítima, ao entrar em uma pista livre com mais de 200 metros e atingir a entrada da favela, com uma velocidade não muito reduzida, tentou retornar e acabou sendo atingido por um tiro na cabeça. A principal hipótese é a de que o engenheiro tenha entrado na favela pensando que tinha acessado o retorno e, ao tentar voltar, foi baleado por pessoas ligadas ao tráfico de drogas.