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Violência em comunidades marca aniversário de implantação das UPPs

Na Rocinha, líder comunitário denuncia invasão e ameças. Em Manguinhos, idoso é baleado e morre

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Na semana em que o governo do Rio de Janeiro comemorou cinco anos de implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na quinta-feira (19/12), dois casos de violência envolvendo policiais militares vieram à tona. Na favela do Mandela 2, no Complexo de Manguinhos, moradores e policiais da UPP se envolveram em um tumulto na noite de quarta-feira (18), que resultou na morte do idoso José Joaquim de Santana, de 81 anos, que foi atingido por um tiro na cabeça, na varanda da sua casa. 

Do outro lado da cidade, na comunidade da Rocinha, Zona Sul, o líder comunitário Carlos Eduardo Barbosa acusa policiais militares do Batalhão de Choque de terem invadido a sua casa e feito ameaças apontando uma arma para a sua cabeça, na sexta-feira (13). O caso está sendo investigado pela 15a. DP (Gávea). Carlos Eduardo é uma das "testemunhas chave" do caso do pedreiro Amarildo de Souza.

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Em entrevista ao Jornal do Brasil, Carlos Eduardo contou que cerca de 10 policiais militares do Choque surgiram, repentinamente, de um beco em frente ao prédio de dois andares em que ele reside. "Eles gritaram para eu descer do segundo andar e ir até a rua, senão eles iam atirar. Um deles chegava a gritar 'atira logo, atira'", contou Carlos. Segundo o líder comunitário, já na rua os PMs fizeram ele deitar no chão e ficaram por muito tempo fazendo ameaças e apontando armas em direção da sua cabeça. "Eles diziam que estavam me reconhecendo de uma operação policial em que eu tinha atirado contra eles e queriam que eu os levasse a um lugar onde a pistola estava escondida. Eu não entendia nada, só garantia a eles que estavam me confundindo e eu não sabia de arma nenhuma. Mas eles insistiam na abordagem violenta", afirmou Carlos.

Enquanto estava deitado no chão, Carlos Eduardo conseguiu ler os nomes de dois policiais do grupo, que estavam identificados nas suas fardas. Segundo ele, os nomes são Cabo Henrique e Sargento Neves. Carlos acrescentou que toda a operação foi filmada por um dos PMs, com uma câmera profissional. Os policiais, segundo o líder comunitário, também invadiram a sua casa e causaram pânico à sua mulher e à sua filha de 15 anos. "A milha filha ainda está superando um trama sofrido há pouco tempo. Durante uma incursão da PM no dia 29 de novembro, um tiro ficou cravado na parede do quarto dela. Eu relatei todos os fatos à major Priscilla Azevedo [comandante da UPP Rocinha] e estou aguardando um posicionamento", afirmou Carlos.

No dia 30 de julho, Carlos Eduardo revelou, com exclusividade ao Jornal do Brasil, que o pedreiro Amarildo de Souza vinha sendo perseguido e ameaçado por policiais da UPP da Rocinha desde o início do ano. Carlos Eduardo denunciou os PMs à Secretaria de Assistência Social do Estado em abril, mas na época nenhuma medida protetiva foi tomada pelo governo. Depois do sumiço de Amarildo, Carlos Eduardo procurou o Ministério Público e apresentou protocolos que comprovam que ele procurou a ajuda do Estado em abril e ainda serviu como testemunha chave no processo do pedreiro.  

Segundo ele, na segunda-feira passada (16) o Relações Pública da PM, coronel Frederico Caldas, o recebeu para apurar mais detalhes do episódio na Rocinha e prometeu providências. "Eu disse ao major que as incursões na Rocinha estão a cada dia oferecendo mais perigo à população do lugar, porque os becos são estreitos e sempre tem conflitos com troca de tiros", disse Carlos Eduardo. O líder comunitário disse que o mototaxista Paulo Sérgio Moreno Campos, morador agredido na semana passada por policiais da UPP da Babilônia/Chapéu Mangueira, no Leme, Zona Sul, também estava presente no encontro e revelou detalhes sobre a violência que sofreu e que ainda é alvo dos PMs.

A polícia civil informou, em nota, que o delegado responsável pela investigação do caso do líder comunitário Carlos Eduardo Barbosa já notificou o comandante do Batalhão de Choque para que ele informe se estava acontecendo operação policial naquele dia na Rocinha e que as investigações estão em andamento. Testemunhas devem ser ouvidas em breve.