Contrários à construção de duas torres de 13 pavimentos na área do antigo centro de convenções do Hotel Nacional, em São Conrado, moradores da região planejam ir às ruas novamente no próximo sábado (16) para protestar contra as intervenções no prédio, cuja arquitetura tem como autor Oscar Niemeyer. Apesar da mudança do projeto – que era uma edificação hoteleira e passou para dois edifícios residenciais – entidades que representam o bairro afirmam que não houve estudo de impacto ambiental para o trânsito, esgoto e rede elétrica.
Representante da SOS São Conrado, Tulio Simões afirma que em nenhum momento as empresas que fazem a reforma do hotel consultaram os moradores. Ele lembra que o Hotel Nacional vem recebendo isenção fiscal dada a empreendimentos hoteleiros que abrigarão turistas nos Jogos Olímpicos, que começam a menos de um mês, mesmo após a mudança do projeto para duas torres residenciais.
“A obra que eles estão fazendo não tem sequer uma placa com as informações básicas, é uma coisa obscura. São 13 pavimentos, 10 apartamentos por andar, tudo isso multiplicado por dois, porque são duas torres, 260 vagas de carros, mais 400 para se oferecer ao hotel, e não houve nenhum aumento da capacidade de tratamento de esgoto, da rede elétrica, fecharam aquela passagem que é aberta há 40 anos”, afirma Simões, em referência a um antigo acesso que havia sob a edificação de Niemeyer.
Moradora de um condomínio próximo ao Hotel Nacional, a publicitária Vanessa Maciel reclama da falta de informações tanto do lado dos empreendedores quanto da Prefeitura, que concedeu a licença para a construção e também não apresentou estudos de impacto ambiental. “Ninguém é contra reforma, ninguém é contra revitalização, é a favor que as coisas sejam feitas legalmente. Uma obra do Niemeyer é um patrimônio público e o entorno precisa ser respeitado”.
Fechado desde 1995, o Hotel Nacional pode nem mesmo conseguir abrir em tempo para a Olimpíada. Crítica da Prefeitura, Vanessa diz que o poder público ficou satisfeito com o fato de finalmente um grupo assumir a revitalização do hotel e, não apenas não cobrou o andamento das obras, como “presenteou” os empreendedores com as duas torres. “A contrapartida para que alguém fizesse essa obra que ninguém queria assumir foi essas torres de presente”.
Apesar de a Secretaria Municipal de Urbanismo informar que a licença de construção das torres residenciais ainda estar em processo de análise, a moradora afirma que as obras seguem. “Eles nem poderiam estar tocando naquela parte da obra”, diz a publicitária, se referindo à área do centro de convenções onde serão construídas as torres residenciais. “Minha indignação maior é que se alguém levanta uma parede sem licença leva uma multa absurda. Mas não é a mesma lei para todos”.
Tulio Simões, da SOS São Conrado, afirma que as obras das torres sofreram uma desaceleração nas últimas semanas. Ele atribui a reação das construtoras a uma ação de moradores no Ministério Público a respeito do impacto ambiental, mas, sobretudo, à recente prisão de Carlinhos Cachoeira, que estaria por trás do empreendimento.
Simões afirma que o grupo de moradores vai pedir ajuda a outras instâncias do poder público para que a obra seja interrompida. O próximo passo da SOS São Conrado é apresentar uma certidão de registro de imóveis que mostra que o Hotel Nacional conseguiu, a partir de uma lei complementar enviada fora do prazo pela Prefeitura à Câmara dos Vereadores, a renovação da isenção de IPTU. A lei foi enviada em maio de 2016 e o prazo para que o empreendimento concluísse a obra com isenção fiscal foi 31 de dezembro de 2015.
"Se a obra não foi feita até 31 de dezembro de 2015, então ela está passível de demolição", sentencia o representante da SOS São Conrado, que levará a contestação adiante com a ajuda de moradores, outras associações da região e com a ajuda de parlamentares de oposição na Câmara dos Vereadores.
>>Hotel Nacional: as digitais de Carlinhos Cachoeira no Rio de Janeiro
>>Hotel Nacional: uma reforma às pressas e um imbróglio nebuloso