Doença que pode ser fatal para felinos e que pode ser transmitida também para cachorros e humanos, a esporotricose é hoje uma epidemia na cidade do Rio, onde a Vigilância Sanitária registrou aumento de 400% no número de animais diagnosticados em 2016, em sua maioria gatos. Ao todo, o órgão fez 13.536 atendimentos no ano passado – seja nos institutos públicos veterinários, em assistência domiciliar ou comunitária – um número bem maior que em 2015, que registrou 3.253. Em pessoas, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) registrou 580 casos. A infecção em humanos tem cura, mas pode provocar lesões gravíssimas na pele.
Com um número quatro vezes maior de casos atendidos em apenas um ano, a Vigilância Sanitária confirma a continuidade do tratamento gratuito em suas unidades de zoonoses. O atendimento consiste no exame do animal, encaminhamento de material para análise em laboratório, fornecimento do medicamento, orientação para o tratamento em casa, castração e monitoramento para o dono do animal não esquecer as datas de retorno às unidades. Além dos animais levados pelos donos, as unidades também tratam daqueles abandonados nas ruas.
A esporotricose é um tipo grave de fungo que ataca principalmente gatos. A contaminação dos felinos ocorre pelo contato das garras do animal com material orgânico em decomposição contaminado, como cascas de árvores, palhas, farpas, espinhos e o solo. Para humanos a doença é transmitida por arranhões e contato direto com a pele lesionada. No gato, a doença pode ser mortal, mas o risco de óbito diminui se o diagnóstico for no início da infecção e o tratamento começar logo.
Nos animais devem ser observados alguns sinais, como feridas no focinho e nos membros. As feridas são profundas, geralmente com pus, não cicatrizam e costumam progredir para o resto do corpo. Perda de apetite, apatia, emagrecimento, espirros e secreção nasal também são manifestações da doença. O atendimento de cães e gatos é feito gratuitamente no Instituto de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman (Avenida Bartolomeu de Gusmão, 1.120, em São Cristóvão) e no Instituto Paulo Dacorso Filho (Largo do Bodegão, 150, Santa Cruz).
Nos seres humanos, a manifestação começa com um pequeno caroço vermelho, que pode virar uma úlcera (ferida). Geralmente aparecem nas mãos, nos braços, nas pernas ou no rosto, às vezes formando uma fileira de pequenos nódulos ou feridas. Podem ocorrer ainda dores nas articulações e febre. Os números de casos notificados estão aumentando a cada ano. Em 2015, a SMS registrou 516 pacientes com a infecção na pele e, em 2014, 327. O atendimento pode realizado na unidade de Atenção Primária (clínicas da família e centros municipais de saúde) mais próxima da casa do paciente.
SBDRJ entra na luta contra a esporotricose
A informação é uma das armas mais importantes para enfrentar a esporotricose. Por isso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio de Janeiro (SBDRJ) entrou nessa luta e criou em seu site uma campanha para esclarecer a população e orientar os médicos sobre o processo de notificação aos órgãos públicos.
A cartilha está disponível no endereço https://sbdrj.org.br/ esporotricose-saiba-mais- sobre-a-doenca/#1474323582829- 954438e8-dcd0
No site da SBDRJ, a população encontra informações e orientações básicas. Mas nada disso substitui o acompanhamento de um médico. Ao primeiro sintoma, é muito importante procurar um dermatologista o mais rapidamente possível. O diagnóstico precoce é uma das garantias do sucesso do tratamento.
Esporotricose: pesquisadores da Fiocruz esclarecem sobre a doença, que pode afetar animais e humanos
Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, a esporotricose é uma micose que pode afetar animais e humanos. Desde o final da década de 1990, no Estado do Rio de Janeiro, tem sido grande a ocorrência da doença em animais, especialmente em gatos. Há tratamento para a micose, e o diagnóstico dos animais já pode ser feito na maioria das clínicas veterinárias. Por isso, não abandone, maltrate ou sacrifique o animal com suspeita da doença. Procure o tratamento adequado e se informe sobre os cuidados que deve ter para cuidar de seu animal sem colocar em risco a própria saúde. São essas algumas das orientações dos veterinários que estudam o agravo.
Na Fiocruz, o Instituto nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) é a unidade que pesquisa a esporotricose. Alguns de seus pesquisadores responderam perguntas selecionadas a partir das questões mais frequentes enviadas ao Fale Conosco.
Quais são os principais sinais clínicos e sintomas da esporotricose?
Nos gatos, as manifestações clínicas da esporotricose são variadas. Os sinais mais observados são as lesões ulceradas na pele, ou seja, feridas profundas, geralmente com pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente. A esporotricose está incluída no grupo das micoses subcutâneas.
A esporotricose atinge quais animais? Como é o contágio?
Embora a esporotricose já tenha sido relacionada a arranhaduras ou mordeduras de cães, ratos e outros pequenos animais, os gatos são os principais animais afetados e podem transmitir a doença para os seres humanos. O fungo causador da esporotricose geralmente habita o solo, palhas, vegetais e também madeiras, podendo ser transmitido por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos. Animais contaminados, em especial os gatos, também transmitem a doença, por meio de arranhões, mordidas e contato direto da pele lesionada.
A esporotricose se manifesta em humanos?
Sim. O homem pega o fungo geralmente após algum pequeno acidente, como uma pancada ou esbarrão, onde a pele entra em contato com algum meio contaminado pelo fungo. Por exemplo: tábuas úmidas de madeira. Outra forma de contágio são arranhões e mordidas de animais que já tenham a doença ou o contato de pele diretamente com as lesões de bichos contaminados. Mas, vale destacar: isso não significa que os animais doentes não devam ser tratados, pelo contrário. A melhor solução para evitar que a doença se espalhe é cuidar dos animais doentes, adotando, para isso, algumas precauções simples, como o uso de luvas e a lavagem cuidadosa das mãos.
Como é possível identificar a esporotricose em humanos?
A doença se manifesta na forma de lesões na pele, que começam com um pequeno caroço vermelho, que pode virar uma ferida. Geralmente aparecem nos braços, nas pernas ou no rosto, às vezes formando uma fileira de carocinhos ou feridas. Como pode ser confundida com outras doenças de pele, o ideal é procurar um dermatologista para obter um diagnóstico adequado.
Os gatos podem transmitir esporotricose para as pessoas?
Sim, por meio de arranhões, mordidas e contato direto com a lesão. Por isso é importante que o diagnóstico seja feito rapidamente e que o animal doente receba o tratamento adequado. Animais doentes não devem nunca ser abandonados. Se isso acontecer, eles vão espalhar ainda mais a doença. Caso suspeite que seu animal de estimação está com esporotricose, procure um médico veterinário para receber orientações sobre como cuidar dele sem correr o risco de ser também contaminado.
É possível que um gato doente contamine outros animais que convivem no mesmo ambiente, como uma casa, quintal ou apartamento?
Sim. Por isso é aconselhável isolar o gato do contato com outros animais, separando-o num ambiente próprio, para que receba os cuidados de que necessita sem comprometer a saúde dos outros bichos da casa. Outro cuidado muito importante: em caso de morte do animal com esporotricose, é essencial que o corpo seja cremado, e não enterrado. Isso porque a micose pode se espalhar pelo solo, espalhando a doença entre outros animais.
Que cuidados podem evitar a transmissão?
Uma boa higienização do ambiente pode ajudar a reduzir a quantidade de fungos dispersos e, assim, novas contaminações. É também importante não manusear demais o animal, usar luvas e lavar bem as mãos. Em caso de morte dos animais doentes, não se deve enterrar os corpos, e sim incinerá-los, para evitar que o fungo se espalhe pelo solo.
Onde levar um gato com suspeita de esporotricose para ser atendido?
O animal com suspeita de esporotricose deve ser levado a uma clínica veterinária. Há atendimentos de baixo custo e alguns gratuitos. No Rio de Janeiro, o animal pode ser encaminhado à Unidade de Medicina Veterinária da Prefeitura, que presta atendimento de segunda a sexta-feira, pela manhã e à tarde, com distribuição de números por ordem de chegada. Para mais informações acesse o site https://www.1746.rio.gov.br/ ou ligue para o 1746 da prefeitura.
A Fiocruz, por meio do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), também oferece atendimento. No entanto, o serviço já está trabalhando com sua capacidade esgotada, devido à grande demanda. Isso significa que, por ora, a Fiocruz não pode atender a novos casos.
Por sua vez, o Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman também pode contribuir com informações. O IJV fica na Avenida Bartolomeu Gusmão 1.120, em São Cristóvão, Rio de Janeiro. O contato é: [email protected] .
Sugerimos ainda o contato com a Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais:Telefone geral: (21) 3402-0388 (Centro de Proteção Animal);Ouvidoria de atendimento: 3402-5417;Administração no Centro Administrativo São Sebastião (CASS): 2292-6516;Prefeitura: 1746;Unidade Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman (UJV):[email protected]
E o atendimento às pessoas, onde é feito?
O atendimento de esporotricose no Rio de Janeiro está sendo feito pelos médicos de Postos de Saúde locais e dos Serviços de Atenção Básica do Programa Saúde da Família. Casos que apresentam uma complexidade maior, serão então referendados para o Centro Clínico do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, através de encaminhamento médico, do local de origem. Todos os dias a equipe de enfermagem faz avaliações, no período da manhã e, se for pertinente, a consulta médica é agendada.
Para qual órgão devo comunicar que existem casos de esporotricose na região onde moro?
Ao Centro de Controle de Zoonoses do seu município. No Rio de Janeiro, o telefone é (21) 3395-1595. Caso não exista um setor como esse no seu município, sugerimos que comunique o caso à Secretaria de Saúde, pois é uma doença que pode contaminar os seres humanos.
Outro contato pode ser feito com a Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro, pelo telefone 1746 ou no site https://www.1746.rio.gov.br/.
Qual o tratamento indicado para gatos? E para humanos?
O tratamento recomendado, na maioria dos casos humanos e animais, é o antifúngico itraconazol, que deve ser receitado por médico ou veterinário. A dose a ser administrada deve ser avaliada por esses profissionais, de acordo com a gravidade da doença. Mas, dependendo do caso, outros fármacos podem ser usados. Reforçamos: a administração do medicamento só deve ser feita após avaliação médica ou veterinária.
Como conseguir o medicamento? A Fiocruz oferece gratuitamente?
É possível comprá-lo em farmácias de todo o país. O fornecimento de medicamentos pela Fiocruz é restrito àqueles pacientes que estão regularmente matriculados, bem como aos animais que estão em acompanhamento no Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos.
Quanto tempo dura o tratamento?
Dependendo do caso, o tratamento pode durar meses ou mais de um ano. É muito importante que o tratamento seja seguido à risca.
É contagiosa apenas por contato ou o fungo também pode ser transmitido pelo ar?
A transmissão do fungo através da inalação é possível, mas é rara.
Já existe ou está sendo desenvolvida alguma vacina contra a esporotricose?
Não existe vacina contra a esporotricose, mas alguns estudos vêm sendo desenvolvidos.
Existe transmissão entre humanos? Ou seja: uma pessoa com esporotricose pode transmiti-la para outra?
Não há registros de casos deste tipo de transmissão. Pelo que se sabe, as pessoas só contraem a doença pelo contato com meios ou animais contaminados.