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Atentado contra a dignidade do ser humano

O Paquistão é acusado há algum tempo pelos ocidentais de acobertar os movimentos dos terroristas

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O atentado  suicida que deixou pelo menos 38 mortos ontem em Khar, Bajur, no Paquistão, é um alerta para a perigosa aproximação de um estado de completa barbárie naquela região. Infelizmente, a quantidade de atentados no Oriente médio banaliza seus efeitos no restante do planeta. Mas este ocorreu num local no qual centenas de pessoas estavam para receber ajuda humanitária do Programa Mundial de alimentos.

Ou seja: os talibãs que assumiram a autoria da ação não mataram líderes rivais, não derramaram o sangue de soldados de facções inimigas, não causou baixas em populações estrangeiras que eventualmente os tenham agredido primeiro. Se tivessem cometido qualquer desses crimes, já seriam passíveis de condenação de qualquer ser humano. Mas eles foram mais longe. Os bárbaros que patrocinaram a carnificina de ontem ceifaram vidas de irmão inocentes, a grande maioria que já não tinha sequer o que comer. Atentaram, portanto, mais do que contra os que perderam a vida, contra a dignidade que caracteriza o ser humano.

Desde os tempos mais antigos sabe-se que até no front de uma guerra há regulamentos. Quem os descumpre recebe pesadas punições por... “crimes de guerra”. As justificativas dos talibãs em suas ações “normais” já carecem de elementos que convençam ou justifiquem.

Ao agir desse modo – matando por matar, atingindo quem nada tem a ver com suas crenças e seus “inimigos” – o grupo perde qualquer perspectiva de compreensão ou de perdão por parte de quem não integra suas macabras fileiras.

O primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Raza Gillani, parece concordar com a análise, ao qualificar o ataque como “uma atividade brutal de insurgentes que não têm resp

eito pelo ser humano e pela religião”. A questão sobre a qual o Paquistão precisa refletir é a convergência – a ou falta dela – entre palavras e ações.O país é acusado há algum tempo pelos ocidentais de acobertar os movimentos dos terroristas, com os quais eventualmente conta para se impor à Índia. É como se diz no interior: quem voa com morcegos acaba dormindo de cabeça para baixo. E, como sempre, quem cai são os inocentes.