Quando os romanos atravessaram o Canal da Mancha para conquistar a ilha dos celtas (43 d.C.), esses na época considerados povos bárbaros, encontraram uma região de baixo nível civilizatório e de fácil dominação. Esta dominação se completou com a vinda do cristianismo, com uma nova proposta de salvação das almas, que até então estavam mergulhadas em fantasias transcendentais que não satisfaziam seus questionamentos sobre o significado da vida. Com este domínio, a ilha de vários povos primitivos (de maneira sucinta), se consagrou como pertencente ao Império Romano, por efeito, membro da comunidade europeia, hoje conhecida com o nome de Reino Unido.
Posteriormente, os romanos se retiraram da ilha (449 d.C.), por não mais suportarem o fardo pesado do domínio. Com a retirada dos romanos, os habitantes vieram a se constituir uma nação pela agregação de todos os povos que viviam na ilha chamada de Grã-Bretanha. Assim absorveram dos romanos toda uma cultura, crença religiosa e tecnologia até então vigente. De certa maneira, nunca fizeram, ou se sentiram como parte da Europa, pelo menos no aspecto geográfico. Portanto, desenvolveram todo um pensamento próprio cultural, econômico e político por não possuírem fronteira física com o continente europeu.
Desde as guerras napoleônicas e, mais recentemente, desde a Segunda Guerra Mundial, instigada pela Alemanha na intenção de invadir seu país, ficou um ranço de amargura no DNA de seu povo. Por sua vez, a hegemonia e domínio, do século 18 ao início do século 20, nos mares e suas conquistas em todos os continentes, fizeram assumir uma postura imperialista, de prepotência e outras bossalidades em que estivessem presentes. Os povos conquistados, pela força do medo às suas armas, foram sempre usados para suprir de matérias-primas suas indústrias. Não houve, segundo nossa visão, o espírito exclusivamente comercial do tipo ganha-ganha, mas sempre com espírito de tirar vantagem.
Apenas como exemplo, em todos os países (inclusive no Brasil), onde seus cidadãos estão residindo, existem os chamados “clube dos ingleses” exclusivos, fechados aos cidadãos do país anfitrião (ou dominado). Nestes clubes, seus cidadãos se dão o luxo de ostentarem extravagâncias e excentricidades como o chá das cinco, seus uísques, seu jogo de críquete, polo etc. Não se questiona sua cultura, mas a arrogância em não se “misturarem” com outros povos ou culturas de “segunda classe”. Outra particularidade: quem viaja para a Inglaterra e tiver dificuldades de falar inglês, eles simplesmente te viram as costas, tal o nível de arrogância de sua população.
Agora, novamente este espírito de superioridade e ranços de seus antepassados fazem surgir quando se busca uma União Europeia mais unida para vencer o atoleiro da crise econômica que grassa no velho continente. Na recente reunião de Bruxelas, veio à tona este aspecto da sua personalidade imperialista, quando um dos diplomatas presentes disse: “Posso afirmar que o Reino Unido está fora da discussão sobre a revisão do tratado”. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, exigiu então como contrapartida de seus parceiros europeus para abertura ou concessões a fim de se chegar a um acordo. Ou seja, só concordariam com concessões, como se eles nada tivessem a ver com isto. A participação na União Europeia vai até onde seus interesses estejam garantidos. Para os ingleses, este momento de crise é uma bela oportunidade de se ganhar mais vantagens!.
Neste episódio, ou o Reino Unido deixou claro que não faz parte da Europa, pois há um braço de mar de 33 quilômetros que o separa, ou está com dor de barriga pelo affair Sarkozy da França e Angela Merkel da Alemanha, ambos pertencentes ao ranço de seus ancestrais.
Quando um barco começa a afundar, os primeiros a pularem fora são exatamente os ratos.
* Sergio Sebold, economista, é professor.