A aproximação da Jornada Mundial da Juventude, aqui no Rio de Janeiro, em julho de 2013, dentro do Ano da Fé, nos faz cada dia agradecer a Deus pelo grande dom que nos concedeu. É um tempo de graças e louvor. Temos certeza de que será também um momento marcante para o nosso país e, sem dúvida, para a América Latina, que devido à proximidade deverá participar com mais presença nesse evento.
É a segunda vez que uma JMJ ocorre na América Latina – depois de 25 anos da primeira, que foi em Buenos Aires! Os tempos são outros para o mundo, para o nosso continente e para o nosso país. As diferenças de situação, cultura, realidade colocam-nos novos questionamentos e exigem novas respostas. As gerações x, y e z, como são chamados hoje os vários grupos etários e de relacionamento digital, deverão fazer uma grande diferença nesta nova época. Como ser resposta para um mundo sonhado, justo e solidário, anunciador da vida e responsável pela construção de um futuro luminoso?
O mundo construído até hoje está diante de nossos olhos com suas realidades boas e ruins. A geração jovem é herdeira dessa realidade. Porém, se no passado os jovens aos poucos assumiam as responsabilidades que foram de seus antepassados, hoje, pelo caminhar da história, parece que desejam criar uma nova realidade e não repetir o que foi no passado. Se as realidades mais racionais que fazem parte do espírito humano têm sido superadas pelo emocional, tanto para fazer as guerras e violências como para tentar fazer o bem, estamos diante de um momento importantíssimo da história.
Nós mesmos somos testemunhas das mudanças de paradigmas em nossa sociedade – desde a questão da vida e da família até as questões políticas, sociais e éticas. Até que ponto essas novas direções, comandadas por grupos minoritários influentes, transformarão a sociedade de acordo com os seus pensamentos e pretensas convicções? A esperança de uma democracia onde todos fossem ouvidos e respeitados ainda ressoa nos corações e nas mentes. Mas com a realidade das influências midiáticas, legislativas, subliminares e de pressão, os conceitos começam a ter outro peso. Muitas vezes, as decisões são muito mais por pressão e por interesses de pessoas ou de grupos do que pelo bem da humanidade, o bem do planeta, o bem do povo.
A ideia de que posso fazer qualquer coisa, mesmo má, para justificar um fim bom já foi pensada muito antes na história da filosofia e sociologia. Assistimos muitas vezes a um desmantelamento dos valores e da sociedade atual com relação aos valores do ser humano. O simpósio da semana passada na PUC-RJ sobre o Humanismo e sentido da vida – com a pergunta de fundo "O que faz o ser humano ser humano?" – sem dúvida faz com que paremos alguns momentos nessa desenfreada correria do fazer e executar para refletir e pensar sobre os rumos do mundo.
A preocupação econômica domina as manchetes e as preocupações globais de nosso planeta. O consumismo desenfreado, desencadeado por uma opção econômica, começa a ser questionado tanto pelos problemas ambientais neste nosso único habitat possível como pelo próprio sistema, que tem dado problemas por todos os quadrantes. Como os atuais mandatários conseguem resolver essa equação?
A dificuldade em conciliar o ético e moral com o desenvolvimento e justiça social tem sido uma constante nesse pêndulo político-social hodierno. Os tempos são difíceis para o nosso futuro. E diante disso os embates são constantes.
Devido a exageros de alguns grupos tidos como religiosos, também as religiões em nosso hemisfério ocidental têm sido colocadas fora das questões, como se uma pessoa não pudesse ter suas convicções e ser cidadão ao mesmo tempo. Descartar religião como algo apenas intimista, sem presença no social, é também um questionamento próprio de nosso tempo em que “estado leigo” é confundido com “ateísmo”.
É diante desses questionamentos que um encontro mundial de jovens que procuram respostas diante dessa sociedade para construir o futuro, não apenas herdando o passado mas fazendo algo novo, enche de esperança o mundo todo. Este tipo de encontro, inspirado pelo grande profeta que foi o papa João Paulo II, tem sido um anúncio que esse “outro mundo possível” passa por valores importantíssimos para a vida do ser humano.
No último final de semana deste mês, jovens representantes de 76 nações do mundo estarão aqui no Rio de Janeiro para conhecer o lugar desse grande acontecimento da Igreja Católica – a Jornada Mundial da Juventude – e para colocar suas questões acerca do que os espera aqui no Brasil. Já será um eco das esperanças que nutrem, ao virem de países distantes para uma experiência jovem de vida e fraternidade. Jovens de todas as crenças e convicções se colocam juntos para pensar o amanhã e, mais do que isso, serem testemunhas do futuro. Ao acolhê-los em nossas casas, em nossos corações, em nossas cidades, tenho certeza de que ficará a alegria de podermos contemplar o amanhã com novos olhos.
Eis que se abre para nós este tempo! Vivamos com generosidade e paz. Preparemos os caminhos que se tornarão novos com a geração nova. Desta forma, os que virão depois da geração z irão avançar ainda mais para um mundo mais humano com que, de uma forma ou outra, todos sonhamos no passado e somos chamados a sonhar também hoje. Sonhemos juntos, e construamos juntos o amanhã.
Desde já uma feliz Jornada Mundial da Juventude para todos!
* Dom Orani João Tempesta, cisterciense, é arcebispo do Rio de Janeiro.