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Quarta, 7 de maio de 2025

Mintaka, Alnilam, Alnitak 

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Há muito e muito tempo, quando os deuses viviam na Terra, na época em que os relatos históricos se confundem com a mitologia, existia, perdidamente apaixonados e namorando nos afrodisíacos locais desta belíssima casa que Deus nos deu para morar e dela cuidar, Órion e Ártemis, que, além de excelente caçadora, manejava o arco e a flecha com extrema destreza, pois nunca errava o alvo escolhido. 

Certa vez, estavam felizes caçando nas virgens florestas da ilha de Delos, quando Apolo, irmão de Ártemis, que se opunha radicalmente ao namoro, ordenou que o Escorpião Celestial matasse Órion. Durante a luta, Órion fugiu para o mar e nadou com tanta rapidez que se tornou apenas num ponto, pois percebeu que não era páreo para seu oponente. Neste ínterim, Apolo dirigiu-se a casa de Ártemis e desafiou-a a acertar aquele minsculo alvo. Sua certeira flecha atingiu, fatalmente, o que via. Quando, na praia, percebeu quem tinha atingido, o sofrimento foi tanto que a fez rogar às hierarquias divinas superiores para que transformasse o apaixonado caçador numa constelação. 

Nada mais certo, pois, quando o negro véu da morte cobre quem amamos, a dor causada pela perda é tão grande que, às vezes, nos faz recusar a realidade e passar a aceitar e acreditar no impossível ou no proibido! 

Entre outras, a História registra: há paixões que destroem um Império. Como a de Páris por Helena; há outras que após causarem uma completa revolução destroem os principais revolucionários, como a de Akhenaton por Nefertiti; há paixões em que se manda matar o marido da bem-amada, como a do rei Davi por Betsabéia; há outras em que a mulher gosta tanto do marido que chega a causar inveja aos deuses, com a de Penélope por Ulisses; há paixões que causam a morte dos escolhidos da divindade, como a de Sansão por Dalila; há outras que só se concretizam na eternidade, como a de Romeu por Julieta; há paixões em que o imperdoável é perdoado, como a de Ximena por El Cid (Rodrigo Diaz de Bivar); há outras em que usamos todos os truques possíveis para possuirmos quem desejamos, como a de Salomão pela rainha de Sabá; há paixões em que a maior prova de amor é dada pela renúncia ou morte, como a de Tristão por Isolda; há outras em que somos desterrados da espiritualidade, isto é, morremos para o mundo, e a bem-amada é morta, como a de Lancelot por Guinivère.

Ah! Benditos e felizes sejam os apaixonados! É a paixão que move o mundo! Ela é a causa de tudo! Sem paixão não há nada, pois nada tem sentido. 

Portanto, você que hoje olha o céu noturno e se encanta com a beleza daquelas três cintilantes estrelas, nunca esqueça que elas ali estão para que Ártemis nunca perca de vista seu grande amor. Esta, segundo a mitologia grega, a triste versão da origem das três belíssimas estrelas que formam o cinturão de Órion e que são conhecidas pelos nomes árabes Mintaka, Alnilan e Alnitak. 

Há, porém, outra versão para o nome dessas estrelas: a versão cristã. De acordo com esta versão, elas são chamadas de as Três Marias. 

Ainda se discute se quem recebe este nome são as Três Marias que estavam presentes na crucifixão de Jesus ou se aquelas que se dirigiram ao seu sepulcro para ungi-l'O.   

Não sei qual a relevância dessa discussão, pois o que importa é o fato, irrefutável, da existência das três santas mulheres.  A doce e meiga orientação que recebi quando criança ensinou-me que em Lourdes pedimos saúde, em Fátima, perdão, e, finalmente, amparo, proteção e amor materno quando nos prostramos diante de Nossa Senhora de Guadalupe. 

Estas, para mim, são as únicas e verdadeiras Três Marias.

 

*Aloisio Vilela de Vasconcelos é professor da Universidade Federal de Alagoas.