Na montanha-russa da evolução social, estamos passando o
momento em que tudo virou de cabeça para baixo. Nada mais se pode afirmar como
verdadeiro ou falso. A senha agora é: Tudo depende. Isto nos remete a uma
atitude relativista sobre tudo que nos rodeia. Torna-se cada vez mais dramático
achar a verdadeira bússola moral para orientação de nossas convicções. Tudo
virou motivo para questionamentos. O que se acreditava como certo, sem
discussão, já não é mais tão certo assim. Tudo que se considerava errado
já não é mais considerado assim. Nada mais é seguro. Não existem verdades
absolutas. Cada um tem o direito de formular sua própria versão. Estamos
vivendo uma verdadeira turbulência moral. Está se ousando contestar até a
sagrada Bíblia, onde justamente se encontra a essência moral da civilização
ocidental.
O relativismo se fundamenta na crença de que não é possível determinar, de maneira natural ou racional, o que é moralmente correto. Segundo os relativistas, as normas e os preceitos morais que regulam o comportamento dos indivíduos dentro de uma sociedade – são sempre convencionais. A aceitação está condicionada por interesses, por conveniência. Por este entendimento as pessoas julgam sobre o que é bom ou mau em função de seu modo de ser, de seus interesses, ou dos objetivos que têm em mente. Se se julgar que algo é moralmente bom, só o será pelo tempo em que há interesse. Não existe um padrão definitivo de moralidade, e nenhuma declaração ou posicionamento pode ser considerado absolutamente certo ou errado, melhor ou pior.
O filósofo e político norte-americano John Rawls, um dos doutrinadores desta nova concepção, apresenta a filosofia do consenso, em que se ignoram obrigações, proibições, deveres; tudo pode ser legítimo desde que apoiado por um grupo. Estas proposições afetam toda uma concepção de valores estabelecidos pela história.
Vivemos um tempo em que os movimentos ideológicos é que decidem o sentido das palavras. A verdade é distorcida por argumentos convenientes, para ter aparência de mentira e vice-versa. A verdade assume uma crise tal como a situação de “quem cultiva cebolas não sente mais seu odor”. Um exemplo típico é a recente discussão sobre o mensalão. É sofismas em cima de sofismas.
O permissivismo está nos levando à teoria do “é proibido proibir”, que baliza todos os campos da ação do homem. Por este viés, não se condena mais ninguém (principalmente se tiver dinheiro), pois não mais existe distinção entre o que é verdade e falso, bem e mal, belo e feio, quer em ambientes, quer nos costumes.
Por este caminho de raciocínio, somos tentados a intuir que qualquer atitude, por mais que nos pareça errada, é passível de crítica. Ora, se excluímos o certo ou o errado, como podemos dizer que é errado fazer critica? Nesta condição, a outra pessoa não tem o direito moral de analisar, ou mesmo ouvir minhas críticas. Entramos num impasse, não será mais possível o diálogo. A consequência será a intolerância.
O relativismo é uma expressão filosófica que se baseia na relatividade do conhecimento, qualquer ponto de vista é válido.
O Beato João Paulo II e o emérito papa Bento XVI já vinham alertando do que se chama “ditadura do relativismo”; todos nós somos condicionados a não ter mais opinião própria, mas considerar que todas as opiniões possuem igual conteúdo de verdade.
O conceito de família, pai-mãe-filhos, não é mais uma verdade absoluta, deu espaço para outras formas antinaturais; os conceitos de ensino, dos relacionamentos afetivos, do ser homem e ser mulher, do certo e do errado, do bem e do mal, tudo está sendo colocado sob condições. Tudo está sendo relativizado, questionado. A moral é casuística.
O relativismo moral pode assumir várias formas diferentes e de conveniência, do utilitarismo, do evolucionismo, do existencialismo ao emotivismo e situacionismo. Compartilham com um nico tema unificador: a moral absoluta não existe, e o conceito do “certo” ou “errado” é exclusivamente um produto da preferência humana.
Existe um padrão fixo para garantir a moralidade? Se todos em uma sociedade agissem como se o “certo” e/ou “errado” fosse puramente uma questão de opinião, então a sociedade iria implodir-se numa batalha onde o “poderoso se torna certo”. Numa cultura relativista, a única razão para se fazer (ou não fazer) alguma coisa é evitar as consequências dos que estão no poder. Este é o primeiro passo para a tirania.
Tudo isso se refletirá na CONFIANÇA, que é o único fio que mantém o tecido social coeso. A confiança é o cimento que liga a sociedade. O cimento está perdendo a liga. Cada dia se observa que ela está sendo deteriorada pelo relativismo, onde ninguém confia em mais ninguém. Se pensarmos um pouco, será o fim da civilização. A violência explodirá. Talvez já esteja acontecendo. Quem vive na dvida, vive em estado doentio.
* Sergio Sebold, economista, é professor. - sebold@terra.com.br