“Ante
uma pessoa meu espírito se inclina, sua presença aniquila minha presunção”,
advertiu Kant. O respeito à pessoa tem bastante a ver com sua fragilidade, que
não é exclusiva do recém-nascido. À mercê do infortúnio, da violência, da
enfermidade, a fragilidade humana já transparece em nosso olhar.
Olhar atento na direção adequada tem um campo ilimitado de aplicações. Não apenas serve para perceber determinados aspectos da realidade física, como é também aplicável à dimensão moral da condição humana. A avidez por novidades oculta a incapacidade de fazer frente à nossa própria condição.
A atenção deve acompanhar o diálogo, que aumenta e favorece a atenção sobre as coisas, ajudando-nos a vê-las melhor. A verdadeira atenção não acontece sem um certo esvaziamento de si mesmo. No diálogo, o que uma pessoa pode chegar a dizer depende do que seja capaz de escutar.
O mais comum é que se aja em função do que se vê. Assim, o esforço sustentado para ver bem as coisas já abriga um sentido moral. Ao olhar atento se revelam os valores das coisas e das ações, ao ponto de compreender que, a despeito de aparências, o que é justo ou que é bom se impõe por si mesmo.
O mundo descoberto pela atenção não faz parte de minhas propriedades, nem de meu domínio, e, ao levá-lo realmente em consideração, corrigimos nossos impulsos egoístas. O homem é o ser que, em vez de se adaptar sem mais nem menos ao mundo dado, constrói um mundo novo sobre o anterior.
De onde se vê melhor as coisas?
Ao longo da história, se privilegiou a visão que se pode obter das alturas, como que a indicar o enfoque mais adequado para se perceber a totalidade das coisas. Do alto se vê o caminho percorrido ou como umas partes se encaixam como outras, mesmo que de fato se veja tudo em miniatura.
Já a humildade indica uma posição a partir da qual as coisas são vistas em sua própria grandeza. Significa ver as coisas de perto, não meramente como encaixes de um conjunto indistinto. Torna a pessoa mais atenta para corrigir pontos de vista, sobretudo em espaço públicos e competitivos. É uma forma de respeito que nos permite ter consciência da profundidade e da plenitude do nosso mundo.
Olhar
atento não é parêntese na vida das pessoas, mas faz parte da vida cotidiana de
cada um de nós.
*Tarcisio Padilha Junior, é engenheiro