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O preço do atraso

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O atraso em se dotar a cidade de um transporte de massa de grande capacidade, que poderia ter começado no final do século 19 e foi atrapalhado pela proclamação da República, uma vez que, as démarches foram realizadas com o império, faz-nos pagar o elevado preço das dificuldades de circulação.

Tive a responsabilidade de enfrentar este desafio, por ocasião das obras do nosso metrô, no governo Faria Lima. Lembro-me de haver saído de uma reunião, em palácio, com todos os responsáveis pela obra, presidida pelo governador, para se iniciar a interdição do Largo da Carioca, a fim se construir a estação ali localizada, completamente arrasado, sem saber o que fazer. Naquela ocasião, ali existia o importante entroncamento formado pelo tráfego circulante nas ruas Uruguaiana, Evaristo da Veiga, Carioca e Treze de Maio, com os reflexos para todo o Centro da cidade. Felizmente, ainda no trajeto de volta ao meu gabinete, o meu eficiente anjo da guarda me sussurrou: “Use o esquema de trânsito para o Carnaval, que isola todo o Centro da cidade”.

Foi o bastante para resolver o problema, cuja divulgação do que se iria fazer foi amplamente anunciada, em pronunciamento, no horário nobre da TV Globo, por mim e pelo presidente da companhia do metrô, engenheiro Noel de Almeida. Felizmente, no dia da operação, tudo correu bem e mereceu foto de grande dimensão, de primeira página, do Jornal do Brasil, mostrando a visão aérea da Avenida Presidente Vargas, no horário do rush matutino, com a circulação absolutamente normal. Foi um gol de placa, que serviu para a  atual circulação ali existente, implantada após a nossa saída.

No último sábado, dia 17, o bairro do Leblon, importantíssimo para o tráfego de passagem sentido Ipanema, teve interrompida sua principal artéria, a Avenida Ataulfo de Paiva. Preocupado pela pouca experiência dos atuais responsáveis pelo trânsito, torcendo por eles, tentei, sem sucesso, um contato, a fim lhes aconselhar, inclusive, uma maior divulgação pela TV, incluindo a simulação por computador, com o objetivo de bem instruir os usuários que, não canso de repetir, são os que fazem o trânsito.

Pelo que vi nas plantas divulgadas em O Globo, pareceram-me bastante lógicas as alterações dos carros, embora eu não deixasse estacionar em nenhum dos lados na Rua Humberto de Campos, pelo menos até ver como se comportaria o escoamento através dela, ponto chave do esquema. Quando se faz uma improvisação de desvio de tráfego, deve-se agir como o síndico que fecha a água, ao saber da interrupção de fornecimento, até ver como se comporta a reserva existente, e depois afrouxa o controle, se possível. Este desvio tem tudo para funcionar bem, face à expansão que vai haver no final do desvio. Vamos ver se eu ainda estou em forma e acerto na previsão. Se não tiver sucesso, pequenos artifícios de sinalização semafórica e de utilização de gradis deverão resolver.

Já quanto ao posterior desvio dos ônibus, temo pela capacidade das vias de acesso à Avenida Delfim Moreira e pela indisciplina com que trafegam os seus motoristas. Talvez, limitando-se o seu número circulante em função da capacidade disponível para sua circulação, resolvesse, não sei, não tive acesso às avaliações. De qualquer forma, merece cumprimentos o fato de não se desviar ônibus por vias residenciais.

Quanto à circulação dos carros dos residentes nos trechos interditados, lembro-me de que, na obra inicial do metrô, nos anos 70, em alguns casos, em Laranjeiras e nos acessos à Praia de Botafogo, foi possível fazer-se e autorizar a circulação de acesso às garagens, sobre as calçadas, na certeza de que ninguém corre na rua onde reside. Após a sua plena implantação, esperamos poder voltar ao tema, já bem mais informados, face ao inevitável contato pessoal, que deverá existir entre quem escreve e os responsáveis pelas mudanças.

 

* Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio. - [email protected]