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Ficha que cai

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Esta foi a semana em que o bloco político-econômico vitorioso em 2016 com a deposição de Dilma Rousseff deu-se conta de que, se nada for feito, apesar de tudo o que fizeram, o PT vai ganhar a eleição com Fernando Haddad. Chame você como quiser a estas forças, é fato que elas hoje têm dois candidatos mas não têm nenhum. Geraldo Alckmin continua empacado apesar do apoio do Centrão. E Bolsonaro, que alguns empresários até já abraçaram como último recurso, chega ao segundo turno mas, dizem as pesquisas, perde para qualquer adversário.


E o que pode ser feito? A solução óbvia seria turbinar um terceiro nome que, superando Bolsonaro, chegaria ao segundo turno para enfrentar Haddad, no pressuposto de que ele terá vaga garantida pelo combustível que receberá de Lula. E o nome mais indicado seria o de Marina Silva, que habita hoje uma terra do meio ideológica: adotou posições liberais em economia mas é progressista em áreas temáticas e tem compromissos sociais. Ela é a candidata que mais cresce na ausência de Lula, dobrando de tamanho quando ele é tirado do páreo. Chega a 16%, contra 10% de Ciro Gomes (que também dobra o índice mas parte de base inferior). Está isolada no segundo lugar em cenários sem Lula.


Mas isso é hoje, antes da confirmação oficial do ex-prefeito como substituto de Lula. Muitos analistas acham que, quando isso acontecer, Marina e também Ciro sofrerão um significativo esvaziamento.

Tucano sem asas


Geraldo Alckmin ganhou oxigênio com a adesão do Centrão mas enfrenta novas adversidades em seu próprio campo. A mercadoria que o Centrão lhe vendeu foi o tempo de televisão, que lhe dará enorme vantagem sobre os outros. Quando ela começar a ser utilizada, o crescimento virá, ele vive prometendo. Enquanto isso não acontece, Alckmin começa a enfrentar uma espécie de cristianização, não pelo próprio partido (embora haja tucanos indóceis por aí) mas pelos aliados. O presidente do PP, Ciro Nogueira, desfila na caravana petista no Piauí, e o líder do PR, José Rocha, faz o mesmo na Bahia. Em Minas, onde o tucano precisa crescer muito para compensar os votos perdidos para Bolsonaro em São Paulo, os aliados estão fazendo as próprias campanhas, mas não suam a camisa pelo tucano, que até agora não conseguiu voar.

Candidato armário


Se, alguns dias depois do início do horário eleitoral, Alckmin não pegar impulso, pode ser apenas deixado na estrada. Mais complicado, para o establishment, é lidar com Bolsonaro. Ele tem eleitorado cativo, na casa dos 20%. Ao contrário do previsto, não desidratou, mas parece ter batido no teto. Como adotar um candidato que, embora chegue ao segundo turno, pode perder para o petista ou para qualquer um? É diferente de Collor, que o sistema abraçou em 1989, embora preferisse Mario Covas. Ali estavam claros os sinais de que o alagoano poderia bater Lula ou Brizola no segundo turno. Deu Lula e ele ganhou.


Uma solução seria a remoção de Bolsonaro através de alguma feitiçaria jurídica. Isso abriria terreno para Marina. Devemos, pois, prestar atenção às pendengas dele com a Justiça. Esta semana o ministro Marco Aurélio deu aquele aviso, de que candidato que é réu pode ganhar, mas talvez não tome posse. Para ser coerente, o STF teria mesmo que impedir a posse de qualquer réu. Em 2016, tentou tirar Renan Calheiros da presidência do Senado porque se tornara réu. O Senado reagiu e o STF recuou, expropriando Renan apenas da condição de segundo substituto de Temer. Não está escrito em lugar algum que réu não pode se sentar naquela cadeira mas isso se tornou secundário. A palavra do STF hoje tudo rege. Na terça-feira, Bolsonaro deve tornar-se réu em ação penal. Mas pode ser outra a feitiçaria jurídica. O sistema é criativo.

A que veio a OEA?


Pela primeira vez a OEA terá uma missão acompanhando a eleição brasileira. Está certo que esta é uma eleição atípica mas a iniciativa deixa muita gente com pulga na orelha. O Brasil caiu mesmo na boca do povo. Quer dizer, do mundo.

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política