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Milagres na TV

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Jair Bolsonaro tem apenas 11 segundos de tempo de televisão mas não será dramaticamente dependente do desempenho no programa eleitoral. É dono de vasto território na Internet, onde fala para uma grande bolha, composta por seus quase oito milhões de seguidores nas duas maiores redes sociais. Falando para a bolha, não cresce, mas também não perde voto. Todos apostam na televisão mas Geraldo Alckmin e Fernando Haddad é que estarão com o destino mais atado a ela.

Alckmin terá 40% do tempo total destinado aos candidatos; serão dois blocos diários de 5 minutos e 32 segundos e 434 inserções em todo o período. Haddad terá dois blocos diários de 2 minutos e 23 segundos e 189 inserções. Mas o desafio do tucano é crescer, o do petista é tornar-se herdeiro dos milhões de votos de Lula.

O PSDB de Alckmin é hoje um dos partidos mais desgastados, tendo obtido no Datafolha apenas 4% de preferência, contra 24% do PT. Obra das denúncias de corrupção contra muitos tucanos, da proteção que receberiam do Judiciário e do que a esquerda chama de “castigo do golpe”, pelo papel que tiveram no impeachment de Dilma. Alckmin falará muito do que fez como governador, mas seu negócio é reconquistar eleitores perdidos, e isso é mais difícil.

O petista precisa tornar-se mais conhecido, principalmente no celeiro de votos do Nordeste. Mesmo substituindo Lula e sendo anunciado como seu candidato, ele terá que seduzir eleitores frustrados e convencê-los de que governará como o ex-presidente. Intelectual, paulista e filho da classe média, jamais falará ao povo como Lula, mas terá que se esforçar muito na comunicação.

Quem manda no Brasil

Muitos são os nomes pelos quais é chamada no jornalismo: casa grande, andar de cima e plutocracia foram popularizados pelo jornalista Elio Gaspari. A esquerda prefere falar da elite, ou das elites, ou ainda, da burguesia. Os intelectuais sentem-se mais precisos falando no “establishment”. São todos sinônimos da boa e velha classe dominante, na acepção marxista: aquela que controla o processo político e econômico em uma sociedade capitalista. No Brasil da Lava Jato, entretanto, quem manda e tudo controla é o estamento formado pelas carreiras de Estado da área jurídico-policial: Ministério Público, Polícia Federal, STF e tribunais superiores. Na falta de uma classe dominante ciosa de seu papel e responsabilidades, estas carreiras se impuseram.

Ouvi esta análise de um político que, por duas razões, deixo de citar: é candidato a cargo eletivo e é alvo da Lava Jato. A matéria é para os cientistas políticos e sociais, mas ajuda a explicar a hipertrofia destas instituições que hoje de fato mandam no Brasil. O centro da política, ninguém há de negar, deslocou-se completamente do Congresso e dos partidos para o Supremo Tribunal Federal, que sobre tudo decide: tabela de frete de caminhoneiros, prisão em segunda instância ou descriminalização do aborto.

Na esteira da Lava Jato, cresceu também o poder da Polícia Federal e do Ministério Público, depois que os governos do PT lhes garantiram autonomia. O partido foi o primeiro a ser espancado. Depois a operação esbarrou PSDB, que é acusada de proteger, e em partidos menos estimados, como PMDB, PP e outros. O candidato Ciro Gomes falava destes superpoderes quando defendida a necessidade de “recolocar cada qual em sua caixinha”.

Para o interlocutor, eles saíram da caixinha porque a classe dominante não se comporta como tal. Não se sente vinculada ao país, que lhe serve apenas como fonte de lucros, não gosta do povo, tem segunda moradia em Miami ou Paris e não tem projeto algum para o Brasil. Neste vácuo, e com os políticos em desgraça, as carreiras de Estado se estabeleceram.

Fazer com que voltem para suas caixinhas, às atribuições constitucionalmente definidas, sujeitas a controles que impeçam o abuso de poder, talvez só com uma Constituinte que passaria outras coisas também a limpo.