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A falha do efeito-facada

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A facada sofrida pelo candidato do PSL, Jair Bolsonaro, ao contrário do que foi amplamente esperado, não funcionou como fermento para sua candidatura, mostrou a pesquisa Datafolha realizada quatro dias depois do ataque. Ele cresceu de 22% para 24%, vale dizer, dentro da margem de erro. Ficou longe de poder ganhar no primeiro turno, como previu seu filho Flávio, na hora quente da agressão. Esta pesquisa, também por ter captado o efeito de três programas de rádio e televisão dos presidenciáveis, será um marco para os ajustes que os candidatos farão em seus discursos e táticas.

Ela não captou, entretanto, um segundo movimento importante para o rumo da campanha, a substituição oficial do ex-presidente Lula por Fernando Haddad na chapa do PT. Ciro Gomes apareceu agora como grande beneficiário da impugnação de Lula, passando de 10% para 13% em cenário sem Lula. Haddad colheu apenas 9% mas não foi identificado, ainda, como candidato oficial “apoiado por Lula”, tal como aparece em outros levantamentos. Nesta pesquisa, ele está embolado com Alckmin (10%) e Marina (11%) numa briga pela terceira posição, se considerarmos que Ciro, com seus 13%, logrou uma ligeira dianteira sobre eles.

O baixo impacto da facada sobre os índices de Bolsonaro, no Datafolha, está bem sintonizado com o resultado de pesquisa Ibope, também realizada após o atentado, mas só no estado de São Paulo: ele cresceu de 22% (agosto) para 23% agora.

Por que foi tão pífio o efeito eleitoral da facada em quem é chamado de mito, carregado nos braços e lidera as pesquisas? Parte da explicação pode vir do fato de Bolsonaro ser hoje o candidato com maior rejeição (43%). Talvez o ataque tenha fortalecido a inclinação dos eleitores por posições mais moderadas, contrária à sua pregação violenta. Em foto tirada no hospital, paramentado, ele aparece fazendo o gesto de atirar. Depois, brasileiros não são apaixonados por seus líderes como os argentinos. Lula é favorito nas pesquisas mas não houve atos de grandeza proporcional em sua defesa. Lula, por sinal, acertou ao prever, pela manhã, que o impacto favorável ao candidato do PSL seria passageiro e não determinante do resultado.

Razões do PT

As divergências sobre o momento e o rito da substituição de Lula por Haddad na chapa do PT contaram mas a razão fundamental do pedido de mais tempo, ao STF, para esta providência, foi outro. Se, legalmente, todos os partidos podem fazer trocas até o dia 17, requereu o PT o direito de fazer isso no mesmo prazo. Os dez dias fixados pelo ministro Barroso expiram hoje, e de fato configuram dois prazos e duas medidas.

A aposta do PT foi num possível julgamento pelo STF, antes da troca de candidatos, do recurso contra a impugnação da candidatura pelo TSE, levando em conta a nova manifestação da ONU em favor de Lula. Afinal, pelo menos um ministro do STF, Luiz Fachin, votou pelo acatamento no julgamento do TSE. Mas, não havendo a prorrogação do prazo, hoje mesmo será feita a troca, e uma carta de Lula, sagrando Haddad, será lida aos quatro ventos.

Palavras proibidas

Aliados e adversários voltam a dizer que, com os recursos e a demora, o PT prejudica o substituto, Fernando Haddad, que precisa aparecer logo nos debates e entrevistas como candidato. No programa eleitoral de hoje, ao contrário do que se esperava, ele continuará aparecendo como vice.

Isso é fato mas também é verdade que não fará muita diferença se prevalecer a ordem do ministro Barroso, para que os petistas não falem sobre Lula nos programas. Expressões como “estamos com Lula”, “vamos com Lula” e até mesmo “Lula é Haddad” estão banidas. Barroso ameaçou ainda suspender as propagandas do partido e impor-lhe multa de R$ 800 mil, em caso de desobediência. “Não podemos dizer nem “eu sou Lula”. Isso é censura, algo que a Constituição proíbe”, diz o líder Paulo Pimenta. Haverá recurso também contra isso ao STF, onde a atual presidente já proclamou um “cala a boca já morreu”.