Acreditam piamente os membros da famiglia Bolsonaro que o jornalismo impresso é coisa do passado. Na visão do presidente e de seus filhos, a mídia tradicional de jornais e revistas perdeu toda importância e deixou de influenciar a opinião pública. O que importa são as mídias sociais, o Facebook, o Twitter e o Instagram. Com arsenal de posts e lives, os Bolsonaro apostam todas as fichas na Internet. Se desfrutam do poder de emitir mensagens diretas ao público alvo, não há qualquer motivo para dar entrevistas coletivas ou se submeter ao faro fino de bons repórteres. No mundo dos Bolsonaro, o trabalho dos jornalistas é dispensável. E, por isso mesmo, jornalistas são considerados inimigos.
Se a receita deu certo na campanha eleitoral, era de se esperar que funcionasse também depois da chegada ao Planalto. Se Trump se comunica pelo Twitter, podemos fazer o mesmo e deixar a mídia tradicional para lá, animou-se Carlos Bolsonaro, o Carluxo, responsável pelos posts do pai. Mas nem tudo que funciona nos Estados Unidos funciona no Brasil. São realidades bastante diferentes. Trump bateu de frente com CNN, 'New York Times' e 'Washington Post', mas tem a poderosa rede FOX do seu lado, além de veículos notoriamente conservadores. Também domina a máquina do Partido Republicano, num sistema bipartidário. Bolsonaro, até o momento, sequer conseguiu montar uma base aliada no Congresso. E, em apenas dois meses, perdeu o apoio dos jornais e revistas que, durante a disputa eleitoral, viram no ex-capitão a única alternativa ao PT. Nesse fim de semana, Bolsonaro foi alvo de fortes críticas do 'Globo', do 'Estadão', da 'Folha', da 'Veja' e até mesmo da 'Istoé'.
A desilusão da imprensa é grande e tudo indica que o desembarque é sem volta. Como disse a 'Veja', a cada dia, o presidente Bolsonaro fica menos presidente e mais Bolsonaro. Em choque com a Rede Globo, o espaço de Jair Bolsonaro ficou restrito às TVs Record, do bispo Macedo, e SBT, de Silvio Santos, ambas de alcance limitado. Será que Carluxo contava com esse desfecho? Ele vai continuar a atacar a tudo e a todos nas mídias sociais, sem qualquer senso de medida? Não se sabe bem qual o motivo, mas o filho 02 do presidente considera-se especialista em comunicação. E é responsável pela maioria das bobagens que o pai publica (o que inclui o video pornográfico do Carnaval). Quando Carluxo não usa o nome do pai, sai ele mesmo atirando nos que considera inimigos. Vê inimigos em toda parte. E joga pesado, dando razão a quem diz que as novas mídias dão voz aos insensatos.
Sou velho e venho lá dos anos 60. Um tempo em que muitos jovens sonhavam em ser jornalistas. Mas afirmo, com toda segurança, que nos jornais e revistas em que trabalhei não havia espaço para as bobagens que Carluxo e seu irmão Eduardo publicam na rede. O jornalismo impresso, hoje, pode estar à beira da morte, como dizem por aí. Mas o papel continua a não aceitar besteira. Já as redes sociais Por mais que alguém discorde de Umberto Eco, vale repetir o que o escritor italiano disse a respeito da Internet: "As mídias sociais deram voz a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm os mesmos direitos à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade".
Pode ser exagero de Umberto Eco, mas seu diagnóstico reflete com exatidão a atitude dos Bolsonaro. E torna fácil explicar porque o presidente e seus filhos só se sentem à vontade nas mídias sociais. Também revela porque eles tanto odeiam a imprensa tradicional. É muito simples. Em seus monólogos no Twitter e no Facebook, os Bolsonaro não têm que se sujeitar ao contraditório. Qual Narcisos, falam o que bem entendem diante da própria imagem, sem qualquer tipo de questionamento. Se houver comentários de desafetos, basta bloqueá-los. Não há críticas e nem oposição. Por isso mesmo, fazem questão de manter distância do jornalismo impresso. Entrevistas só para os amigos ou para os indicados por empresários amigos. Sem perguntas inoportunas e sem direito a réplicas. É o melhor dos mundos. Os Bolsonaro vivem numa bolha. Mas não custa lembrar que o pior tolo é aquele que engana a si mesmo.