O yuan, a moeda da China, atingiu nesta semana o menor valor desde 2008. A desvalorização, permitida pelo governo local, é uma forma de retaliar a imposição americana de tarifas de 10% sobre suas importações. Os riscos de inflação e fuga de capital foram deixados em segundo plano, já que essa atitude é apoiada pelos chineses. Entre eles, o embargo comercial ganhou um caráter nacionalista e se tornou, também, um embargo contra o próprio povo chinês.
A mudança de postura segue a proibição da venda de produtos Huawei pelo governo Trump, além da prisão de Meng Wanzhou, CFO e filha do fundador da empresa chinesa. Desde o início da gestão do republicano, a gigante da tecnologia também vem sendo pressionada e investigada por diversos órgãos governamentais americanos. Agora, liberais e ultranacionalistas chineses acreditam que os Estados Unidos querem prejudicar o bem-estar dos próprios chineses.
Por conta disso, as vendas da Huawei tiveram um aumento de 23% no primeiro semestre de 2019. Hoje, existem mais celulares da marca ativos na China do que iPhones ativos no mundo. Ren Zhengfei, fundador da empresa, se posicionou publicamente dizendo que comprar telefones não era um ato patriota - mas que no entendimento geral da população, essa foi a forma encontrada para revidar as sanções econômicas impostas por Trump ao seu país.
A Huawei está envolvida no desenvolvimento do 5G, tecnologia que os Estados Unidos veem como uma ameaça à segurança nacional. Além disso, em maio, o país colocou a Huawei numa “blacklist”, impedindo algumas empresas americanas de fazerem negócios com ela. Seguindo este movimento, a Alphabet Holding, dona do Google, disse que suspendeu atividades comerciais com a empresa chinesa.
Sem negócios com a Alphabet, a Huawei se viu obrigada a produzir seu próprio sistema operacional. Alternativa à dependência do Android, o HarmonyOS foi apresentado ao mundo no início de agosto. Com isso, Trump pode ter criado as condições perfeitas para que, pela primeira vez, o recurso de controle mais importante dos sistemas tecnológicos não seja mais americano. É o maior caso de “fogo-amigo” em ambientes digitais da história.
LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS, UM ANO DEPOIS
Aqui no Brasil, a sanção da Lei Geral de Proteção de Dados (nº 13.709/2018) completou um ano. Embora o prazo para sua implantação pelas empresas só termine em agosto de 2020 – quando a lei entrará em vigor - esse período foi importante para o surgimento de novos debates sobre este marco da privacidade e da proteção de dados pessoais na internet.
Ainda é cedo para prever como a LGPD irá afetar a dinâmica entre autoridades e grandes empresas – mas ela, certamente, transformará o modelo de operações e até mesmo de modelos de negócio que conhecemos hoje. Com o foco em privacidade e transparência, a lei trará restrições sobre a coleta, uso e venda de dados, que precisarão ser expressamente autorizados pelo usuário.
A LGPD também prevê penalidades financeiras para qualquer tipo de excesso ou abuso. Com essa mudança de cultura, os prejuízos vão além da esfera monetária ou até mesmo da mera eliminação de determinados dados. Na sociedade digital, em que tudo é rapidamente noticiado, há sérios riscos para a reputação das empresas que não se adequarem à lei.
Por outro lado, a LGPD traz oportunidades para as marcas construírem um relacionamento diferente com seus consumidores. Uma saída é explorar, por meio do marketing, sua relação com os dados e, dessa forma, valorizar o aspecto da transparência. Há também uma oportunidade do ponto de vista dos usuários, que se tornarão mais conscientes da questão, atuando como fiscais do uso de suas informações daqui pra frente.