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Marcha por justiça: chilenos protestam contra libertação de criminosos da ditadura 45 anos após golpe

AFP PHOTO / CLAUDIO REYES -
Manifestantes carregam fotos de chilenos assassinados e desaparecidos durante a ditadura instaurado por Augusto
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SANTIAGO - Milhares de chilenos saíram às ruas de Santiago para marcar os 45 anos do golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet, que em 11 de setembro de 1973 derrubou Salvador Allende do poder. A marcha acontece todos os anos, mas em 2018 ganhou volume e força como protesto contra decisão recente da Justiça de acolher pedido de liberdade condicional para sete agentes da ditadura presos por crimes contra a humanidade. Além disso, o presidente conservador Sebastián Piñera concedeu indulto ao ex-coronel René Cardemil, condenado a dez anos de prisão pelo assassinato de seis pessoas.

A soltura dos sete agentes colocou os poderes legislativo e judiciário em conflito. O Congresso do Chile votará na sexta-feira uma resolução, proposta por 10 parlamentares de esquerda, que pede a destituição dos três juízes que aprovaram a concessão do benefício aos militares presos.

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Manifestantes carregam fotos de chilenos assassinados e desaparecidos durante a ditadura instaurado por Augusto (Foto: AFP PHOTO / CLAUDIO REYES)

A proposta dos deputados considera que os ministros da Corte Suprema não aplicaram normas estabelecidas pela comunidade internacional para os delitos de lesa humanidade, como o Estatuto de Roma, texto fundador da Corte Penal Internacional.

O governo de Piñera já sinalizou que está ao lado dos ministros do Supremo. “Uma maioria política não pode invadir a esfera de ação dos tribunais de Justiça”, disse o ministro da Justiça, Hernán Larraín. O presidente chegou a receber uma comitiva de juízes da Corte Suprema no Palacio de la Moneda.

Entre os agentes soltos estão Gamaliel Soto, condenado a 10 anos pelo sequestro do diretor de um hospital, e Moisés Retamal, condenado a seis anos pelo sequestro de três cidadãos uruguaios. As quatro vítimas são consideradas desaparecidos políticos. Outro beneficiado é Emilio de la Mahotiere, condenado a três anos de prisão por cumplicidade com a Caravana da Morte, que percorreu o Chile caçando oposicionistas e matou 90 pessoas em várias cidades. Todos os sete agentes estavam detidos nas penitenciárias Colina 1 e Punta Peuco, destinada aos violadores dos direitos humanos durante o regime militar.

Na passeata de ontem, muitos manifestantes carregavam fotografias em preto e branco de pessoas mortas e desaparecidas durante a ditadura, que só terminou em 1990. Os presentes caminharam até o cemitério geral de Santiago, onde o ato terminou em memorial com os nomes das vítimas da repressão.

“Seguimos lutando por verdade e justiça”, dizia uma das faixas estendidas na marcha, que também contou com muitas bandeiras de partidos de esquerda e gritos contra Pinochet.

“A campanha de impunidade montada por Sebastián Piñera com alguns juízes do Supremo Tribunal ofende a memória de milhares de chilenas e chilenos assassinados”, declarou a presidente do Grupo de Familiares de Executados Políticos, Alicia Lira, durante a marcha.

Durante a ditadura de Pinochet, cerca de 3.200 pessoas morreram ou desapareceram, enquanto 38 mil foram torturadas, de acordo com registros oficiais.