Após cinco séculos de ciência, o mundo se encontra em momento ímpar e decisivo, no qual a produção e o consumo gerados pelo ser humano entram em choque com a capacidade biofísica do planeta. Os modelos climáticos apontam modificações radicais para os próximos 50 anos e descrevem cenários catastróficos, outros nem tanto. Todos preocupantes. As previsões incluem elevação mundial de temperatura, escassez de água ou luta por locais habitáveis. O colapso também é iminente no campo dos valores humanistas. O amor ao próximo, a capacidade de escuta, a sincera preocupação com o semelhante, a empatia e o diálogo têm sido desdenhados de forma contumaz. Não raro, equivocadamente, moral e moralismo têm sido tomados como termos sinônimos. Contudo, o primeiro está relacionado à ética, justiça e integridade. Em oposição, o moralismo é o livre e nocivo exercício do preconceito. Povoa discursos repletos de julgamentos infundados e cerceadores. Deve ser banido.
A construção de uma sociedade verdadeiramente sustentável implica, portanto, em medidas que vão além dos gravíssimos danos causados ao ambiente e o consequente esgotamento dos recursos naturais. Nessa direção, a despeito da crise global, medidas importantes estão sendo implementadas. É o caso da “Agenda 2030”, que consiste em plano de ações proposto pela Organização das Nações Unidas, em 2015. Composto por 17 objetivos integrados e indivisíveis, a principal meta é promover o desenvolvimento econômico, social e ambiental, erradicando a pobreza, em suas diferentes dimensões, e concretizando direitos humanos fundamentais. Igualdade de gênero, educação de qualidade, redução das desigualdades, saúde, bem-estar, paz, justiça e instituições eficazes são alguns dos objetivos da declaração universal a serem atingidos até o ano de 2030. Na edificação de um mundo mais pacífico e inclusivo, Arte e Ciência cumprem importantes e indispensáveis funções. A Ciência por gerar perguntas, dúvidas, respostas e prospecções. A Arte por gerenciar afetos e pela capacidade de potencializar a comunicação entre os diferentes.
Por conseguinte, no projeto que mira real equidade, os processos educativos precisam assumir protagonismo e desempenhar duplo papel. Ao mesmo tempo em que a Educação é, em sua raiz, dotada da potência de transformação, é necessário também que possua habilidade de se transformar, inovando metodologias e estabelecendo melhor debate com o tempo atual. Hoje, os desafios não estão mais na apresentação dos conteúdos, e sim nas interfaces. Informações diversas podem ser facilmente acessadas em múltiplos dispositivos, mas a competência de identificar pontos de convergência e afastamento entre elas precisa ser ensinada e reafirmada. A educação para a construção de uma sociedade sustentável deve estimular a capacidade de contextualizar e estabelecer relações.
É preciso, por exemplo, conceber estratégias pedagógicas que incentivem a compreensão de que o amanhã depende do hoje. Ressaltar que a seta do tempo não segue reta. Que o futuro não é algo adiante a ser alcançado. Não está dado. É construído dia após dia. Tampouco o caminho em direção ao porvir ignora a relação entre causa e efeito. Ao contrário. Em leitura estrita ou alegórica, a terceira lei de Newton se aplica: para toda ação existirá uma reação. E desse entendimento, caberiam as questões: Quais reações queremos despertar? Quais são os cenários possíveis? E os desejados? Que futuro estamos desenhando? Como construir um mundo plenamente sustentável? Se desmatarmos desordenadamente agora, nos faltará sombra e alimento adiante. Se não perseguirmos as transformações sociais prementes de hoje, a assimetria dos processos decisórios e a iniquidade se manterão, ameaçando os pilares que poderiam sustentar um mundo em paz e igualmente próspero para todos.
* Artista profissional, mestre em Teatro e doutora em Ciências