Vinhos, uma paixão portuguesa
Normalmente, eu escrevo aqui no JB artigos que têm relação com economia e finanças. Embora não seja português, ser casado com uma descendente de portugueses me fez um apreciador de vinhos (e de single malts também, que me perdoem os puristas). Esclareço que não sou entendedor de vinhos, mas como bom consultor procuro estudar as coisas que aprecio, e procuro transformar estes estudos sempre em um prazer. A relação dos portugueses com os vinhos é uma coisa intensa, e o mesmo faz parte da cesta básica dos portugueses. Tenho um amigo, o Sérgio, que morou por anos em Portugal e que diz que se o vinho básico de consumo passar dos 4€ no supermercado, cai o primeiro-ministro. A brincadeira tem um fundo de verdade.
O português, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), é o povo que mais bebe vinho no mundo. Em 2017, assumiu a liderança com 54 litros per capita, ficando na frente de países produtores tradicionais como França (51,8 litros per capita) e Itália (41,5 lts). No volume anual exportado, Portugal está em 9º lugar, pois a produção local é bem menor do que a de outros países produtores tradicionais, em função principalmente da extensão de seu território. A produção portuguesa está em torno de 6,7 milhões de hectolitros, na safra de 2017/2018, segundo dados do Instituto do Vinho e da Vinha, de Portugal, e segue em crescimento desde 2000. Mas vamos ao que interessa, sob o ponto de vista dos amantes do vinho. Podemos dividir os vinhos portugueses sob vários aspectos, a princípio. Geograficamente, todo o país produz vinho, inclusive as ilhas (Madeira e Açores) e o Algarve. Mas as regiões tradicionais e de grande produção são o Douro, o Dão, o Minho, a província de Setúbal e, mais recentemente a região de Lisboa. Outra divisão que podemos fazer, e aí a coisa vai ficando mais interessante, é a divisão entre os grandes e tradicionais produtores e os mais recentes.
Os grandes e tradicionais produtores são casas, na maior parte, centenárias, com grande produção. Os produtores mais recentes são geralmente casas menores, e com produção mais modesta. Mas, e aí vem a semelhança entre todos: pequenos e grandes produtores possuem seus vinhos “de resistência”, que são aqueles que chegam nas prateleiras dos supermercados na faixa dos 3,50€ e 4,50€. E não pensem que nessa categoria não existem vinhos agradáveis ao paladar, pois por ser um produto vivo, de fermentação, o gosto pessoal é importante. E estes são os vinhos que os portugueses compram em grande quantidade para o seu consumo diário.
Acima dessa faixa de preço, podemos encontrar de tudo. Vinhos excelentes entre 8€ e 15€. A partir desta faixa, falará o gosto, a vontade e a carteira de cada um. E a seguir, vários conselhos de um não entendedor, mas que aprendeu a apreciar o vinho português. Já gostava de vinhos do Alentejo e do Douro, pois bons vinhos destas regiões chegavam ao Brasil depois dos anos 90. Em Portugal, aprendi a gostar de vinhos do Dão (normalmente mais pesados, mas o clima ajuda) e do Minho, os vinhos verdes (não têm nada a ver com maduro x verde). A minha experiência, até então, era o vinho verde de uma marca tradicional que chegava ao Brasil, e como vinho verde tem que ser bebido muito jovem, o que bebi era terrível. Mas, já em Portugal, comecei a experimentá-lo e o ápice foi num festival deste vinho, no verão do ano passado, na cidade do Porto. E aprendi também a gostar de uma novidade recente, espumante de vinhos verdes, que já estão a disposição no Brasil, e os dois que aqui provei este ano, achei-os bons, no paladar, e adequados ao nosso clima. Se você está a turismo e pretende trazer para o Brasil algumas garrafas de bons vinhos portugueses, faça o seguinte: compre uma mala para vinhos, e já existem algumas a bons preços nas lojas de malas do Brasil, e de vários tamanhos. Depois, já em Portugal, procure uma boa loja de vinhos, uma garrafeira.
Lá procure seguir as recomendações dos atendentes e olhe a sua carteira – vinhos até os 15€ ou mesmo 18€ são muito bons, e alguns premiados em concursos no exterior. Outro conselho – não tenha preconceito quanto ao vinho branco, mais adequado ao clima brasileiro. Alguns, da casta rabigato, e feitos 100% com a mesma são excelentes, e premiadíssimos nos concursos internacionais. Idem com relação aos bons vinhos verdes, pois os acima de 6€ são muito bons. Uma outra dica, é procurar na internet as promoções das grandes redes de supermercados. Consegui comprar, em uma destas promoções, vinhos na faixa dos 18€ por 5€. Liquidação em Portugal é liquidação mesmo! E, por fim, se você estiver em turismo, aproveite os almoços e jantares para degustar os vinhos e procure visitar uma quinta produtora de bons vinhos. Irei, com certeza abordar o turismo de enologia em outro artigo. Você irá começar a entrar em um universo muito interessante e prazeroso, o universo do vinho português. E, com o inverno brasileiro chegando, vamos aos vinhos.
*Consultor de empresas Para maiores informações e detalhes pesquisem em www.universia.pt.