E o dinheiro do submarino nuclear brasileiro?
O submarino nuclear brasileiro, planejado desde o fim dos anos 70 por nossa Marinha, está sendo construído com tecnologia 100% nacional e deve ser lançado em 2028. Os submarinos convencionais não podem ficar submersos por mais de um mês. O submarino nuclear brasileiro poderá andar em águas profundas por vários meses. Daí que, se tudo correr como está previsto, ele colocará o Brasil ao lado da China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Ou seja, entre as Marinhas mais bem equipadas do mundo. Mas isso não será fácil.
Aqui dentro e lá fora há quem veja nisso um enorme desperdício de recursos. Como se o Brasil, hoje, não gastasse à toa milhões e até bilhões de dólares. O importante é que o nosso submarino é parte relevante do desenvolvimento do programa nuclear brasileiro como um todo. Isso dará ao país o domínio de uma tecnologia avançada e de inestimável utilidade em inúmeras áreas civis, como ao de saúde e engenharia, em benefício do povo brasileiro. Há quem diga também que o submarino brasileiro de propulsão nuclear ampliará o prestígio internacional do país, permitindo, inclusive, que volte a pleitear, no futuro, uma cadeira de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU. Isso é argumento fantasioso, tipo “wishful thinking”.
Um dos lados positivos do nosso submarino nuclear é que ele já foi batizado com o nome do almirante Álvaro Alberto, um dos maiores incentivadores do avanço da ciência e tecnologia. Álvaro Alberto se opôs, corajosamente, ao projeto dos Estados Unidos, apresentado nas Nações Unidas logo após o fim da II Guerra Mundial, que pretendia pôr sob o controle internacional – na realidade, dos EUA – todos os mananciais de urânio do mundo. Graças à resistência e ao senso de soberania do almirante Álvaro Alberto, a tentativa norte-americana fracassou. Depois, ele fundou o CNPq, órgão central para o progresso científico e tecnológico do país.
O Group Naval francês prestará assistência técnica ao submarino nuclear brasileiro. O grupo francês, porém, vai ajudar o Brasil só na construção do casco do submersível. Ele não terá acesso ao reator nem às suas máquinas. A base essencial será “made in Brazil”. Quem não tem saudade disso?
A maior dificuldade de nosso ousado projeto é a continuidade no repasse dos recursos financeiros para que ele não sofra atrasos. O presidente da Academia Nacional de Engenharia, Francis Bogossian, considera a garantia do repasse de recursos o maior desafio do projeto e da evolução da engenharia nuclear no país. Ele disse ao “Sputnik Brasil”: “Trata-se de um projeto nacional, de longa duração e impacto. Não pode ficar ao sabor das pequenas oportunidades. A descontinuidade de recursos traz prejuízos incalculáveis”, frisou Bogossian.
Ele ainda ressaltou a escassez de mão de obra qualificada. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a única que oferece um curso específico para a área. A primeira turma concluiu o curso em 2015. Há apenas três anos, portanto. O setor de Ensino Superior no Ministério de Educação poderia e deveria ser mais atento às necessidades estratégicas do país. Seria pedir demais?
* Professor de Direito Espacial, jornalista de ciência