BRASIL

Do caboclo e da cabloca ao 'partido negro' da Independência do Brasil na Bahia

Bicentenário da independência do Brasil na Bahia ganhou programação intensa com ações cívicas, pedagógicas, artísticas e culturais. O presidente Lula foi e discursou: 'Não é um desfile militar'

Por JORNAL DO BRASIL com Alma Preta Jornalismo
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Publicado em 03/07/2023 às 05:23

Alterado em 03/07/2023 às 08:06

Lula e o prefeito Jerônimo, de Salvador, na festa baiana do 2 de julho: 'Não é desfile militar', disse o presidente Ricardo Stuckert

I'sis Almeida - O "partido negro". Assim era chamado na Bahia um grupo de pessoas africanas escravizadas e seus descendentes no período da promulgação da independência. A partir do dia 2 de julho de 1823, a província começou a ser determinada como estado brasileiro e passou a comemorar a expulsão das tropas portuguesas do solo baiano.

A nomenclatura utilizada para se referir a pessoas negras que participaram de iniciativas que determinaram a independência do estado da Bahia, na época, sinalizava o medo das elites de que esses grupos se organizassem em prol de outras reivindicações, tal e qual fizeram os atores da Revolta dos Búzios.

Também conhecida no Brasil como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, a Revolta dos Búzios foi um levante popular ocorrido em Salvador, em 1798, cujos líderes e participantes do movimento reivindicavam a abolição da escravatura, melhores condições de vida para a população negra e parda livre e, sobretudo, posicionou-se em contraposição às decisões políticas e econômicas da Coroa Portuguesa.

Em entrevista exclusiva à Alma Preta Jornalismo, em 2022, a respeito da Revolta dos Búzios, o professor da rede pública de ensino da Bahia Guimário Nascimento explicou as influências da independência.3 "Na independência da Bahia, em 1823, houve uma grande participação popular de negros e indígenas — provavelmente inspirada na Revolta dos Búzios, na qual ocorreu a verdadeira independência do Brasil. A consolidação se deu aqui na Bahia".

Na ocasião, o historiador ainda lembrou que, em 2023, comemora-se o bicentenário da independência e lembrou o estado em que Salvador ficou após a expulsão dos portugueses. "De 1824 a 1825 muitas rebeliões escravas ainda ocorrem em Salvador e no recôncavo baiano, porque quando eles saem da Bahia eles desorganizaram a economia. A independência gerou um processo inflacionário, desemprego e uma série de revoltas e rebeliões por conta da cobrança de impostos. Os senhores de pessoas escravizadas começaram a cobrar que os africanos e seus descendentes produzissem mais — o que mais à frente influenciou também a Revolta dos Malês.

Desde a Revolta dos Búzios, mulheres participam de ações contra Portugal na Bahia. As imagens mais conhecidas da independência são as de Maria Quitéria, Joana Angélica e da indígena Catarina Paraguaçu, do povo Tumbinambá, popularmente conhecida nos festejos locais em menção ao dois de julho como a "cabocla". No ano seguinte a independência, um cortejo comemorativo começou a ser realizado de forma espontânea pelos populares que lutaram pela expulsão do almirante português Madeira de Melo e de seus homens, as últimas tropas portuguesas a habitarem o Brasil.

Apesar das tentativas imperiais de apagamento da memória do povo negro na luta pela independência da Bahia e do Brasil, hoje, Maria Felipa têm se tornado conhecida pela bravura na luta pelo direitos dos afrodescendentes. Quase não existem documentos históricos que atestem a sua existência, mas a tradição oral da Ilha de Itaparica e do Recôncavo Baiano mantém viva a sua história.

Maria Felipa, segundo apontam historiadores e o povo Itaparica, ilha localizada na Baía de Todos Santos, na Bahia, foi descendente de sudaneses e morou na região de Beribeira e, depois, na Ponta das Baleias, num casarão chamado "Convento".

Felipa, de acordo com os estudos, junto a suas companheiras de luta, teriam dado nos soldados portugueses uma surra de cansanção, planta cientificamente chamada de Jatropha urens, que produz uma coceira intensa e consequentemente feridas nas pessoas que são açoitadas por ela. Outro feito apontado nos livros que a mencionam é que Maria Felipa teria organizado um incêndio de navios portugueses causado por tochas lançadas a partir de uma canoa que era liderada por ela.

Entenda o que foi a Revolta dos Búzios para o Brasil

Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia

Neste ano, a celebração do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia começou na sexta-feira (30) e seguiu até o dia 2 de julho na capital baiana. Os festejos contaram com atividades cívicas, pedagógicas e artístico-culturais.

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Lula exalta povo baiano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na manhã deste domingo (2) das comemorações pelos 200 anos da Independência do Brasil na Bahia. Ele chamou a festa de "consagração da Bahia como capital histórica do Brasil".

A cada 2 de julho, a Bahia celebra a expulsão feita em 1823 das tropas portuguesas que ainda resistiam à Independência declarada no ano anterior por Dom Pedro II. Num movimento que contou com a participação popular, qualquer autoridade lusitana remanescente foi extirpada do poder.

Ao lançar um selo comemorativo ao bicentenário da data, Lula acrescentou que o segredo do sucesso da Bahia está na capacidade de resistir quando necessário. "É um povo que é alegre, festivo, mas quando tem que lutar vai pra cima e derrota o adversário", disse o presidente.

À tarde, o presidente seguiu para o Ilhéus, onde deve participar, nesta segunda (3), de uma agenda para inaugurar a retomada das obras do trecho que fica entre a cidade do litoral baiano e Caetité (BA), no sertão. (com Agência Brasil)

 

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