Agrotóxicos: estudo nos EUA relaciona uso em soja no Brasil com maior mortalidade de crianças por câncer
Pesquisa destaca que nas últimas décadas o Brasil se tornou o principal produtor mundial de soja, assim como o segundo maior consumidor de defensivos
Um estudo norte-americano relacionou a exposição a agrotóxicos utilizados na plantação de soja no Brasil com o aumento da mortalidade de crianças por câncer. "Descobrimos que as populações foram expostas aos defensivos agrícolas por meio do abastecimento de água, mas os efeitos negativos na saúde foram mitigados pelo acesso a centros de tratamento de câncer de alta qualidade", escreveram as autoras.
A pesquisa foi publicada nesta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), e é assinada por Marin Elisabeth Skidmore, do Departamento de Agricultura da Universidade de Illinois; Kaitlyn M. Sims, do Instituto de Políticas Públicas da Universidade de Denver, e Holly K. Gibbs, do Centro de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Universidade de Wisconsin.
Comparando dados dos últimos 15 anos nos biomas do Cerrado e da Amazônia, as pesquisadoras encontraram "um aumento estatisticamente significativo na ocorrência de leucemia pediátrica após a expansão da produção local de soja". Ainda de acordo com o estudo, houve um aumento positivo e significativo nas mortes de crianças por leucemia linfoblástica aguda após a expansão da soja no País, equivalente a 123 mortes adicionais de crianças menores de 10 anos de 2008 a 2019. As pesquisadoras destacaram que a principal fonte de exposição aos defensivos é a contaminação da água potável.
A pesquisa destacou que nas últimas décadas o Brasil se tornou o principal produtor mundial de soja, assim como o segundo maior consumidor de agrotóxicos. O País aplicaria agrotóxicos por hectare a uma taxa 2,3 vezes maior do que os Estados Unidos e 3 vezes mais do que a China, primeiro e terceiro maiores consumidores de defensivos agrícolas em volume, respectivamente, segundo o estudo. "O uso de agrotóxicos na soja aumentou desde a aprovação, em 2004, de variedades de soja geneticamente modificadas resistentes ao glifosato. Os agricultores do Brasil também aplicam mais insumos por hectare de soja do que em outras culturas temporárias, incluindo milho, arroz, feijão e cana-de-açúcar", disse o estudo.