Crianças brasileiras repatriadas de Gaza têm trauma de guerra

Relatos de psicólogos do governo federal contam que os pequenos, entre outras reações, não podem ouvir o barulho dos aviões; famílias estão hospedadas em hotel na base aérea de Brasília

Por JORNAL DO BRAIL

Mulheres repatriadas de Gaza recebem doações de roupas

No primeiro dia no Brasil, depois de mais de 30 dias de espera pela saída de uma Faixa de Gaza sob bombardeios constantes de Israel, o grupo de 32 repatriados passou por consultas médicas, tomou vacinas, recebeu atendimento com psicólogos e regularizou documentos. Os atendimentos ocorreram no alojamento da Base Aérea de Brasília, onde estão hospedados.

De acordo com o diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência (Dahu) do Ministério da Saúde, Nilton Pereira Júnior, ninguém precisou de internação e, após as consultas, todos receberam alta, inclusive as crianças. Na segunda-feira (13), foi divulgada a informação de que duas crianças estavam com quadro de desnutrição. Nilton Júnior informou que elas foram avaliadas por pediatras e não foi constatado desnutrição ou desidratação.

Traumas e euforia
O diretor contou que algumas crianças e adultos estão apresentando sinais de estresse, como dor de cabeça, dores no corpo, insônia e ansiedade, quadro esperado após os momentos vivenciados no conflito entre Israel e Hamas. Segundo ele, a maioria das crianças não dormiu na noite de ontem depois do desembarque.

“Crianças estão incomodadas com barulho de avião pelo trauma que passaram”, disse. “Algumas crianças não dormiram, brincaram a noite toda, pois estão em um misto de alívio, euforia, preocupação e estresse por perda e afastamento de alguns familiares”.

Para minimizar esses sinais, a equipe do Ministério da Saúde montou uma brinquedoteca no alojamento, com jogos educativos, e tem promovido atividades lúdicas.

Os repatriados receberão acompanhamento psicológico pelos próximos 30 dias.

As equipes também estão fazendo trabalho para que as crianças bebam água, principalmente com a onda de calor que atinge o país. “Estamos estimulando o consumo de água por causa do calor e do processo [de repatriação]. Várias crianças estão se recusando a beber água, porque tomaram água contaminada, suja e tiveram diarreia. É um processo de convencimento”, afirmou Nilton Júnior.

Vacinação e assistência social
Adultos e crianças foram vacinados conforme cronograma de imunização brasileiro, como tríplice viral, influenza e sarampo. Os dez repatriados palestinos, sendo sete naturalizados brasileiros e três familiares de brasileiros, fizeram cadastro para tirar o CPF.

O Ministério do Desenvolvimento Social fez um diagnóstico sobre quais famílias poderão ingressar em programas sociais, como Bolsa Família.

Na noite desta segunda-feira, os 32 repatriados (22 brasileiros e dez palestinos) chegaram ao Brasil. O grupo é formado por 17 crianças, nove mulheres e seis homens, que esperava há mais de um mês pela saída da zona de conflito entre Israel e Hamas. (com Agência Brasil)