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Câmera corporal mostra 'PM do Tarcísio', de SP, matando idoso com 'tiro acidental'

Numa atitude inexplicável, policial dispara em abordagem a dupla de moto e acerta homem de 71 anos na cabeça. Suspeitos não tinham cometido crime algum e pararam o veículo

Por JORNAL DO BRASIL com Revista Fórum
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Publicado em 30/05/2024 às 07:30

Alterado em 30/05/2024 às 07:32

Câmera corporal de PM que disparou e matou idoso em SP Foto: reprodução

Henrique Rodrigues - O portal g1 teve acesso com exclusividade às imagens registradas pelas câmeras corporais de quatro PMs de São Paulo que estavam numa viatura, no dia 7 deste mês, na região do Tatuapé, na Zona Leste da capital paulista, quando durante uma abordagem um deles acabou matando com um tiro na cabeça um idoso de 71 anos que andava pela calçada a caminho de uma farmácia. A ação desastrosa e revoltante, protagonizada por agentes do 8° BPM/M, visava inicialmente abordar uma dupla que trafegava numa moto. O autor do tiro afirmou que o disparo havia sido “acidental”, mas o que as gravações mostram é um show de imprudência, irresponsabilidade e truculência colossal.

No começo das imagens é possível ver a tela dividia em quatro quadrantes, cada um filmando o que está à frente do peito de cada policial, sendo um soldado, dois cabos e um sargento, este último o responsável pela equipe. O motorista parece conduzir com agressividade, o que sugere uma perseguição. Pouco à frente, a moto ocupada por duas pessoas é emparelhada pelo carro da PM, mas nada sugere que a dupla fugiria, até porque é possível perceber que os ocupantes param para serem revistados. É justamente neste momento do desembarque dos policiais, numa fração de segundos, que o sargento Roberto Marcio de Oliveira, de 49 anos, simplesmente põe a pistola para fora da janela e dispara quase que à queima-roupa contra os abordados, mas o tiro passa direto e acerta em cheio a cabeça do aposentado Clóvis Marcondes de Souza, que andava pela calçada, que cai na mesma hora.

O que se vê a partir daí é uma grande confusão, com os PMs nervosos com a demora da chegada do Resgate do Corpo de Bombeiros, enquanto alguns deles tentam “interrogar” os “suspeitos”, que na verdade não tinham fugido e nem estavam cometendo crime algum. Um dos militares insiste em perguntar por que o condutor “fugiu” do local, ao que ele responde que não fugiu, até porque parou ao notar a ordem para encostar. Um outro PM quer que os abordados desbloqueiem seus celulares para fuçar os aparelhos, o que é flagrantemente ilegal.

Procedimento inacreditável tentou evitar investigação da morte
Como se não bastasse o ato selvagem de violência que culminou com um senhor de idade baleado mortalmente no meio da rua, a poucos passos de casa, um recorte inacreditável desse crime provocou um verdadeiro racha institucional entre a Polícia Militar e a Polícia Civil do estado. Tudo porque, em situações do tipo, em qualquer parte do território brasileiro, determina a lei que a ocorrência seja apresentada numa delegacia da Polícia Civil, para que o delegado responsável prossiga com os procedimentos de praxe, como declarar prisão em flagrante, instaurar inquérito, determinar realização de perícias, entre outras burocracias que preservem a isenção nas investigações.

Mas os oficiais superiores dos PMs envolvidos na morte do aposentado na Zona Leste simplesmente determinaram que “a ocorrência fosse registrada” na Seção de Polícia Judiciária Militar (SPJM). Neste órgão, de caráter estritamente militar, a própria PM definiu que o tiro foi acidental e que se tratou de um crime de natureza culposa, ou seja, sem a intenção de matar. A aberração consiste no fato de que apenas um delegado de Polícia Civil pode fazer tal avaliação e proceder com o registro de qualquer ocorrência delitiva. Na prática, essa conduta da PM registrar um crime na própria PM, definindo o que ocorreu no fato praticado por um PM, soa como ridículo e sem qualquer validade legal.

Com o burburinho causado pela conduta, além do mal-estar e do conflito gerado, que foi parar na sede do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a PM acabou voltando atrás e a ocorrência passou para as mãos da Polícia Civil, que seguem tocando o inquérito que apura o crime.

Veja o vídeo com a ação desastrosa e trágica:

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