Serra Gaúcha vive 'cenário de guerra' com 'dezenas' de mortos

Região foi duramente afetada por temporal no Rio Grande do Sul

Por JORNAL DO BRASIL

Efeito de temporal em Caxias do Sul

A Serra Gaúcha, epicentro da presença italiana no Rio Grande do Sul, vive um "cenário de guerra" por conta das chuvas e inundações que devastaram o estado e deixaram um rastro de dezenas de mortos.

Comunidades inteiras varridas do mapa, famílias despedaçadas, estradas bloqueadas, sistema produtivo quase paralisado, tudo contribui para criar um panorama sem precedentes, enquanto a sociedade civil e as autoridades se mobilizam para levar algum alívio às áreas afetadas.

"O nosso interior foi inteiramente devastado, não existe mais. O que aconteceu aqui, em termos de desmoronamentos, foi algo inédito. A palavra é uma só: catástrofe. O que vivemos aqui é cenário de guerra", diz à Ansa o presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), Carlos Lazzari, que usou um jipe 4x4 para ver de perto os estragos provocados pelos deslizamentos e levar socorro.

Até o momento, a Defesa Civil gaúcha contabiliza 55 mortos e 74 desaparecidos em todo o estado, além de 82 mil desalojados ou desabrigados, mas o balanço está destinado a aumentar. "Das mais de 200 cidades atingidas, provavelmente Bento Gonçalves será a número 1 em mortes. Pelas informações de familiares e vizinhos, ainda tem muita gente soterrada. São dezenas de pessoas, mas não temos o número oficial", acrescenta Lazzari.

Mais de 800 indivíduos já foram resgatados na cidade, graças ao auxílio de grupos de jipeiros, quadriciclos e motociclistas de enduro, além de três helicópteros, mas muitos desabrigados só ficaram com a roupa do corpo e não têm para onde voltar.

Na vizinha Caxias do Sul, a prioridade também é resgatar sobreviventes em áreas isoladas, como a comunidade interiorana de Sebastopol, onde ninguém entra ou sai desde terça-feira (30).

"Ainda tem muitos lugares aos que sequer tivemos acesso", conta Celestino Oscar Loro, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias).

"O sistema produtivo e econômico está paralisado pelo menos até amanhã [hoje, 5], e a cidade está isolada por completo. Espero que se possa retomar algum grau de normalidade na segunda-feira [6]", ressalta Loro, destacando que uma "porção gigantesca do estado vive um caos absoluto".

Isso inclui Porto Alegre, alagada pelas águas do rio Guaíba e cujo aeroporto internacional está fechado. "A capital está isolada por terra e por via aérea, há uma crise de abastecimento, falta tudo, e a crise pode em breve se tornar humanitária", afirma o cônsul-geral da Itália na cidade, Valerio Caruso.

A meteorologia prevê um alívio no mau tempo na Serra Gaúcha no início da semana, mas as chuvas devem voltar a partir de quarta (8). "Todos estão abalados, muitos têm conhecidos que estão sofrendo os efeitos", relata a agente consular honorária da Itália em Bento Gonçalves, Thais Rafaela Ferrari da Cunha.
"Mas, apesar do abalo, o sentimento da comunidade ítalo-descendente é de solidariedade e certeza de que vamos reconstruir", salienta.

Para isso, a prioridade é liberar os acessos à Serra Gaúcha o quanto antes. Tanto o CIC-BG quanto a CIC Caxias lançaram campanhas de arrecadação para financiar a operação de máquinas para desobstruir rodovias e permitir que a economia volte a operar, embora haja locais "em que a estrada não existe mais", segundo Loro.

Várias indústrias deram férias coletivas para funcionários devido à perspectiva de falta de matérias-primas, enquanto o setor agrícola ainda tenta entender a extensão dos prejuízos.

"Posso falar com propriedade por toda a Serra Gaúcha: nossa economia vai mudar de cenário. Muitas localidades que garantiam a produção agrícola não existem mais", diz Lazzari.
As doações podem ser feitas por meio das chaves PIX financeiro@cicbg.com.br e atendimento2@fundacaocaxias.com.br. (com Ansa)