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Marinha do Brasil faz história ao formar a 1ª turma de mulheres fuzileiros navais

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Por JORNAL DO BRASIL com Sputnik Brasil
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Publicado em 27/06/2024 às 19:15

Alterado em 27/06/2024 às 19:15

Dos 662 jovens que compõem a Turma 1 de 2024, 114 são mulheres, provenientes de vários estados do país Foto: Melissa Rocha/Sputnik Brasil

Melissa Rocha - A Marinha do Brasil concluiu os últimos treinamentos do Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN) que vão entrar para a história este ano. Pela primeira vez, o quadro de formandos da turma de Fuzileiros Navais terá presença feminina.

Dos 662 jovens que compõem a Turma 1 de 2024, 114 são mulheres, provenientes de vários estados do país. O Corpo de Fuzileiros Navais é a tropa de elite da Marinha, e a formação das soldados consolida a inclusão das mulheres em todas as áreas da corporação, incluindo atividades operativas. Com a medida, a Marinha pretende até 2030 elevar de 11,7% para 27% a participação feminina em seu efetivo, superando, por exemplo, os números dos EUA, que até 2021 contavam com 20,5% de mulheres na Marinha.

O fato inédito está alinhado ao histórico de inovação da Marinha em relação à inclusão feminina, uma vez que a corporação foi a primeira das Forças Armadas a dar protagonismo às mulheres em 1980, com a criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, por meio da Lei nº 6.807.

A formatura das soldados fuzileiros navais vem na esteira da decisão tomada no início do mês pelo Ministério da Defesa, que autorizou o alistamento militar de mulheres, pela primeira vez, a partir de 2025. A única diferença é que o alistamento de mulheres será feito de forma voluntária, diferentemente dos homens, que é obrigatório.

A reportagem da Sputnik Brasil acompanhou os últimos treinamentos da turma feminina de Aprendizes-Fuzileiros Navais (A-FN), no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA), em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para entender como funciona o treinamento e conversar com as soldados sobre o que as motivou a integrar a tropa de elite da Marinha.

Filha de militar, a Aprendiz-Fuzileiro Ana Carolina, de 17 anos, conta que sua expectativa é seguir carreira na Marinha.

"Para mim é uma honra estar aqui na primeira turma de mulheres sendo pioneira. Minha maior motivação de estar aqui é minha família. Meu pai já serviu as Forças Armadas. Desde criança, meu sonho é seguir a carreira militar, especificamente na Marinha do Brasil", diz a soldado.

A Aprendiz-Fuzileiro Gil conta que vem de uma família de audazes paraquedistas e que desde pequena foi influenciada a seguir carreira militar.

"Visando honrar minha família, resolvi entrar na primeira turma de fuzileiros navais para poder mostrar para eles tudo o que me ensinaram, todos os valores", conta Gil.

Por sua vez, a Aprendiz-Fuzileiro Nayara destaca que o treinamento durante o curso foi muito intenso, durou vários dias e em alguns momentos tiveram poucas horas de sono, cerca de duas a quatro horas por noite.

"O treinamento não tem diferenciação nenhuma entre homens e mulheres. Tudo o que os homens fazem nós, mulheres, fazemos também. Sentimos muito frio, passamos muito tempo na água para aprender a lidar com a dor, o sofrimento. Porque em uma guerra é o que vai acontecer e o que a gente vai passar", enfatiza a soldado.

A capitã-tenente auxiliar fuzileiro naval Gizelle Rebouças diz à Sputnik Brasil que se sente muito honrada em fazer parte desse momento histórico. Ela conta que a formatura da primeira turma das soldados fuzileiros navais "é fruto de todo um processo de inserção feminina no Corpo de Fuzileiros Navais", iniciado em 2001, com a participação das sargentos do Quadro de Música, que ela integrou em 2006, antes de ascender na carreira em 2014, quando foi aprovada para o quadro auxiliar de fuzileiros navais.

"Ver esse ingresso, essa inserção feminina agora no curso de soldado, é uma realização para todos nós que realmente desejam que as mulheres tenham o seu espaço e tenham as mesmas oportunidades", afirma a capitã-tenente.

Ela também ressalta que, durante o período de treinamento, as soldados fizeram "com equidade as mesmas atividades que foram realizadas pelos alunos do segmento masculino".

"E aí a gente pode enumerar as marchas administrativas, marcha de 12 quilômetros, marcha de 16 quilômetros. Elas fizeram atividades de campo, foram três atividades de campo culminando na ilha da Marambaia, onde elas conseguiram colocar em prática todas as atividades teóricas que tiveram aqui no centro de instrução", explica Rebouças.

A formatura da turma está marcada para o dia 5 de julho no Ciampa e contará com a presença de familiares dos formandos, das autoridades civis e dos militares.

A Marinha afirma que a formatura representa não apenas a conclusão de um rigoroso treinamento, mas também um importante capítulo na trajetória das mulheres nas fileiras da Instituição.

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