BRASIL

Deputada federal Talíria Petrone sofre ataques racistas e misóginos e aciona o MPF

Parlamentar é vítima de violência fora e dentro do Congresso Nacional

Por JORNAL DO BRASIL
[email protected]

Publicado em 24/07/2024 às 12:41

Alterado em 24/07/2024 às 12:41

A deputada federal Talíria Petrone, do PSol do Rio de Janeiro, é candidata à Prefeitura de Niterói Foto: divulgação

A deputada federal Talíria Petrone (Psol/RJ) sofreu ataques racistas em suas redes sociais nessa terça-feira (23). Os crimes já foram denunciados no Ministério Público Federal (MPF) e no SaferNet — plataforma com atuação no combate a delitos cibernéticos.

Palavras criminosas e misóginas foram proferidas à parlamentar. "Monkey" (macaco em inglês), "cão" e até o cabelo da deputada foi foco das agressões.

"Preconceito, racismo e misoginia não passarão. Não nos calarão e não nos intimidarão. Somos vítimas constantes de violência até dentro do parlamento. Desde quando ingressei na política, recebi várias ameaças de morte das milícias e de grupos de ódio. Hoje sou protegida por carro blindado e escolta 24 horas", afirma Talíria Petrone, primeira vice-presidente da Bancada Negra do Congresso.

O racismo também está dentro da Câmara dos Deputados. Ocupada por mais de 80% de homens, que aprovaram — em sua maioria — a Proposta de Emenda à Constituição 9, que perdoa partidos por não cumprirem cotas para candidaturas de mulheres e negros, o local já impediu a entrada da deputada federal inúmeras vezes por conta de sua aparência.

"Não há limites para a violência. Mas nossa vontade de representar nossas lutas e dores é maior. Somos apenas 18% no Congresso. Mulheres comandam apenas 12% das prefeituras brasileiras, embora sejamos a maioria do povo. Isso deixa a democracia torta. Precisamos de mais mulheres na política", ressalta a autora da Lei Mães Cientistas.

O racismo também está nas ruas do país. Na última sexta-feira (19), um casal foi filmado imitando macacos em uma conhecida roda de samba no Rio de Janeiro. Ainda neste mês, a deputadaCarla Zambelli(PL/SP) chamou a também deputadaBenedita da Silva(PT/RJ) de "Chica da Silva" durante uma live nas redes sociais. Em junho deste ano, a deputada estadual Renata Souza (PSOL/RJ) — que está grávida — recebeu ameaças de morte por e-mail. Em 2018, a vereadora Marielle Franco, foi brutalmente assassinada.

Julho das Pretas

O Julho das Pretas — criado em 2013 na Bahia — é a maior agenda conjunta e propositiva de incidência política de organizações e movimento de mulheres negras do Brasil. Na última quinta-feira (18), o evento reuniu as deputadas Talíria Petrone (PSOL/RJ) e Benedita da Silva (PT/RJ) na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói.

"Nossas histórias se completam. Talíria coloca a questão da negritude. Esse mês várias manifestações estão sendo feitas, mas a gente está no momento eleitoral também. É bom que a gente diga isso porque o processo de alienação eleitoral nesse país foi muito grande e ainda estamos nesses ares contaminados. E a gente precisa começar a pensar no futuro", enfatizou a petista.

Realizado pelo Movimento Algo A+, o encontro — com mediação de Bianca Valles — também contou com a participação de Flavia Rios, diretora do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da UFF.

“O Congresso Nacional é ainda um lugar muito hostil para nós mulheres negras. E a forma de sobreviver no Congresso foi e tem sido a partir da nossa comunhão e organização enquanto mulheres negras e agora com uma bancada negra, que é um marco histórico da democracia brasileira", pontuou a deputada Talíria Petrone.

Mulheres na política

As mulheres podem e têm a oportunidade de mudar o futuro nas eleições de 2024. O país tem 104 milhões de mulheres, o que corresponde a 51% da população brasileira. Mas as mulheres são apenas 1 em cada 5 pré-candidatos às prefeituras das capitais.

"Precisamos de leis escritas por mulheres e para mulheres. Precisamos ocupar os espaços políticos. Está na hora de avançarmos no direito de todas as mulheres. Não há democracia semmulheres na política", diz a deputada Talíria Petrone, também candidata a prefeita de Niterói.

Segundo o TSE Mulheres, entre 2016 e 2022, o Brasil teve, em média, 52% do eleitorado constituído por mulheres, 33% de candidaturas femininas e 15% foram eleitas. No mesmo período, o Rio de Janeiro teve 603 candidaturas femininas e apenas 11,4% das mulheres foram eleitas. Em Niterói, 54,19% do eleitorado é feminino e a cidade nunca foi governada por uma mulher. Atualmente, só há uma vereadora no município: Benny Briolly (Psol/RJ).

Tags:

Deixe seu comentário