Pastor bolsonarista André Valadão diz que Deus mataria todos os LGBTQIA+, se pudesse

Em publicação nas redes sociais nesta segunda, Valadão disse que apenas citou um trecho bíblico de Gênesis

Por GABRIEL MANSUR

André Valadão

Depois de dizer que "Deus odeia o orgulho", o pastor bolsonarista André Valadão segue com sua ruidosa campanha anti-LGBTQIA+ na igreja onde prega, nos Estados Unidos. Durante transmissão intitulada "teoria da conspiração", feita pela Igreja Batista da Lagoinha neste domingo, em Orlando, na Flórida, Valadão disse que é preciso "resetar" os membros dessa comunidade e que, se Deus pudesse, "matava tudo e começava tudo de novo".

Em seguida, afirmou aos fiéis que agora estava com eles e que deveriam "ir para cima". O trecho foi transmitido ao vivo pelas redes sociais.

"Aí Deus fala: 'não posso mais, já meti esse arco-íris aí, se eu pudesse eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi pra mim mesmo que não posso, então agora tá com vocês", disse André Valadão.

No mesmo culto, o pastor também fala sobre casamento homoafetivo e chega a associá-lo à sexualização de crianças, e ainda cita fake news do tipo que drag queens estariam em salas de aula ensinando sexualidade.

André Valadão assumiu no fim de 2022 a liderança da Lagoinha Global, com mais de 700 templos no Brasil e no mundo. Subiu na hierarquia após seu pai, o pastor Márcio Valadão, se aposentar.

Márcio se afastou após anunciar a morte por infarto do ex-ator Guilherme de Pádua, assassino de Daniella Perez que virou pastor da igreja, num vídeo peculiar. "Caiu e morreu. Morreu agora, agorinha", informou sorrindo. O tom insólito levantou suspeitas sobre senilidade e abriu espaço para o filho.

Ainda que a matriz da Lagoinha, em Belo Horizonte, esteja a cargo de outro pastor, Flavinho, André Valadão conquistou poder após a saída do patriarca. Ele já vinha cumprindo o papel mais midiático da família nos últimos anos. Em 2022, foi um dos apoiadores evangélicos mais entusiasmados de Jair Bolsonaro (PL).

Reações

O discurso de Valadão levou Fabiano Contarato (PT-ES), primeiro senador abertamente gay do Brasil, a dizer que entrará com uma representação criminal contra o pastor, a quem acusa de manipular a fé e incitar a violência.

"Por tudo que sou, pelo que acredito, pela minha família e por tudo que espero para a sociedade, não posso me calar diante do crime praticado por André Valadão", diz Contarato.

O Ministério Público Federal no Acre também instaurou uma investigação para "apurar possível prática de homofobia" no episódio, após representação apresentada pelo procurador regional dos Direitos do Cidadão no estado, Lucas Costa Almeida Dias.

Já a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma representação junto ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), estado onde a igreja de Valadão tem sede, após o mesmo pastor realizar um culto com o tema "Deus Odeia O Orgulho", realizado no início de junho.

A denúncia teve como base a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que equipara a homotransfobia ao racismo. O caso está sendo investigado pelo MPMG, que, depois disso, decidirá se vai denunciar ou não o pastor à Justiça.

O que diz Valadão

Em publicação nas redes sociais no início da tarde desta segunda-feira (3), Valadão disse que citou um trecho bíblico de Gênesis, no Antigo Testamento, "quando Deus, a partir do dilúvio, destrói toda a humanidade pela promiscuidade sexual e libertinagem".

Completa, dizendo que não diz sobre matar ou aniquilar pessoas, mas "levar o homem ao princípio da vontade de Deus".