Censo aponta 1,32 milhão de quilombolas no Brasil; IBGE diz que dados são 'reparação histórica'
Dados, ineditamente expostos, foram celebrados por representantes da sociedade civil e de órgãos governamentais.
Pela primeira vez na história, o Censo mapeou as terras quilombolas existentes no Brasil. De acordo com o levantamento, fechado em agosto de 2022, o país tem 1.327.802 pessoas nessa situação, o que corresponde a 0,65% da população. Há 1.696 municípios com população quilombola e 473.970 domicílios particulares permanentes com moradores quilombolas.
Os números, ineditamente expostos, foram celebrados por representantes da sociedade civil e de órgãos governamentais. Na divulgação da publicação "Brasil Quilombola: Quantos Somos, Onde Estamos?", em Brasília, o presidente em exercício do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo, considera os dados como uma reparação histórica de injustiças cometidas no passado.
“São essas populações que mais precisam das estatísticas, desses números. A gente precisa saber quantas escolas, quantos postos de saúde, coisas relacionadas à educação e tudo o que essa população quilombola precisa, como a titulação [de terras]. Os dados que estão sendo apresentados hoje, pelo IBGE, se tornam, praticamente, uma reparação histórica”, disse Azeredo. Segundo ele, o IBGE logo em breve vai apresentar também as informações básicas sobre pessoas indígenas e moradores de comunidades e favelas.
Já a representante da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, Florbela Fernandes, destacou que o levantamento e a divulgação de dados sobre a população quilombola no Brasil tem um simbolismo enorme a todo o país.
“Essa é a primeira pesquisa oficial para coletar dados específicos sobre a população quilombola. Após 135 anos da abolição da escravidão no Brasil, finalmente, saberemos quantos quilombolas são exatamente, onde estão, e como vivem”, comemorou Florbela Fernandes.
Na mesma linha, o coordenador executivo da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Denildo Rodrigues de Moraes, o Biko, ressaltou que cada liderança fez o papel do Estado durante o censo e conversou com suas comunidades para destacar a importância de responder às perguntas do levantamento e que hoje é um dia de vitória.
“O censo é uma conquista de anos de luta e é importante para que possamos avançar na construção de políticas públicas. Somos mais do que números. A cada número desse, bate um coração e uma trajetória de resistência. O censo está aqui para que o povo brasileiro conheça essa parte da riqueza da nossa história que o livro da escola não conta. Nós somos parte da história do povo brasileiro”, reforçou.
Os números por região
A região que concentra a maior quantidade de quilombolas é o Nordeste, com 905.415, correspondendo a 68,2% do público. Região mais populosa do país, o Sudeste vem em segundo, com 182.305 pessoas, seguido pelo Norte, com 166.069 pessoas. Com 5,57% da população quilombola, as regiões Centro-Oeste e Sul têm 44.957 e 29.056 pessoas, respectivamente.
Por estado
A Bahia é o estado com maior quantitativo de população quilombola, 397.059 pessoas, o que corresponde a 29,90% da população quilombola recenseada. Em seguida vem o Maranhão, com 269.074 pessoas, o que corresponde a 20,26%. Somando a população quilombola da Bahia e do Maranhão, tem-se 50,17% da população quilombola concentrada nesses dois estados. Roraima e Acre não têm presença quilombola.
Dos 5.568 municípios brasileiros, 1.696 tinham moradores quilombolas. Senhor do Bonfim (BA) destaca-se por ser o município com a maior quantidade absoluta, com 15.999, seguido de Salvador, com 15.897, Alcântara (MA), com 15.616, e de Januária (MG), com 15 mil pessoas.
Segundo Marta Antunes, responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, a distribuição geográfica dos quilombos tem vínculo com todo o processo de colonização e escravização, mas também com a resistência a essa situação histórica que levou a várias ocupações territoriais com concentração perto e ao longo dos rios.
“A população quilombola se identifica não só pelo processo de escravização, mas principalmente pela resistência à opressão histórica como está no Decreto 4887”, disse.
Domicílios particulares
Do universo de 72,4 milhões domicílios particulares permanentes ocupados recenseados no Brasil, 473.970 têm ao menos um morador quilombola, correspondendo a 0,65% dos domicílios do país. Nas residências onde há pelo menos uma pessoa quilombola, a média de moradores é mais alta (3,17) do que no total de domicílios do país (2,79).
Amazônia Legal
Foram contabilizadas 426.449 pessoas quilombolas nos municípios da Amazônia Legal, o que representa 1,60% da população residente total da região, sendo 32,11% do total da população quilombola residente no Brasil.
Foram recenseados 80.899 quilombolas residindo em territórios oficialmente delimitados, o que mostra um maior avanço do processo de regularização fundiária na Amazônia Legal em relação ao restante do país.
Com Agência Brasil