PF quer aguardar eventual saída de Aras da PGR antes de pedir prisão de Bolsonaro a Alexandre de Moraes
Segundo a jornalista Malu Gaspar, corporação vai deixar o ex-presidente 'sangrar' politicamente; mandato de Augusto Aras termina no fim de setembro
Nos últimos dias, com a delação do hacker Walter Delgatti Neto e a notícia de que o tenente-coronel Mauro Cid confessaria desvio das joias dadas em viagens oficiais, a mando de seu ex-patrão Jair Bolsonaro (PL), a prisão do ex-presidente tornou-se uma realidade tangível, causando temor na família e entre aliados.
A Polícia Federal, porém, não está com pressa para colocar o ex-capitão atrás das grades. Segundo a PF, haveria duas formas de prender Bolsonaro:
- Prisão preventiva, uma vez que o ex-mandatário não foi nem indiciado, nem denunciado e muito menos condenado;
- Prisão após trânsito em julgado, isto é, quando não cabe mais recursos.
A primeira opção seria a mais imediata, mas não agrada a corporação. Para decretá-la, é preciso que se tenha evidência de que a pessoa está obstruindo ou pode obstruir as investigações. De acordo com policiais federais envolvidos no caso, até existem algumas evidências disso, mas não são públicas e ainda não seria hora de expô-las, informa Malu Gaspar em "o Globo"
A Procuradoria-Geral da República (PGR) é considerada outro entrave, uma vez que é o órgão quem opina sempre que um pedido de prisão é feito e que, atualmente, não tem dado aval às iniciativas da PF. A PGR foi contra a prisão preventiva de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF, executada por ordem de Moraes, e desde abril já vinha defendendo a soltura do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que só veio a ser solto no mês seguinte, em maio.
Nesses casos, quem assina os despachos é a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, tida como aliada da família Bolsonaro e pessoa de confiança do procurador-geral Augusto Aras. A PF avalia que, para prender um ex-presidente da República, é preciso ter no mínimo um consenso entre os órgãos que participam da investigação, incluindo o Ministério Público.
Por isso, fontes da corporação e interlocutores de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) têm afirmado, nos bastidores, que não vão pedir o indiciamento de Bolsonaro e nem denunciá-lo ao STF antes do fim do mandato de Aras, no fim de setembro - Aras trabalha para ser reconduzido ao cargo por Lula, mas nesse núcleo ligado aos inquéritos ninguém acredita que ele vá conseguir.
Até que um novo procurador-geral assuma, a ideia é manter o cerco a Bolsonaro. Com isso, os investigadores esperam não só reforçar a coleta de provas como atrair potenciais delatores que agreguem mais detalhes à apuração sobre o que se passou no Palácio do Planalto e no entorno do então presidente da República nos meses que antecederam a eleição e o 8 de janeiro.
Para chegar a esse ponto, é preciso antes "construir um clima" na opinião pública e no Congresso, para que quando a prisão seja decretada não haja tumultos e nem controvérsia entre os líderes das principais instituições de Brasília.